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Para curar, precisei aprender a escutar

Da edição de julho de 2003 dO Arauto da Ciência Cristã


A lei sempre me ofereceu muito consolo, ou seja, sei que quando a lei é obedecida, todos são abençoados. Claro que há leis que parecem injustas e sujeitas a interminável interpretação. Mas, como um professor de direito me disse certa vez, toda lei humana se origina no Decálogo Mosaico, ou seja, nos Dez Mandamentos. É interessante tentar encontrar a conexão entre o mal que uma lei está tentando corrigir e a intenção original dos Mandamentos.

Uma pessoa pode conhecer a lei, citar a lei e mesmo assim omitir a arte que é aplicar a lei. A lei parece fixa, mas sua aplicação é sempre individual e única. Tomemos a música como exemplo. Dez alunos de música podem estudar todos os rudimentos da música, e a ciência em que esses rudimentos se fundamentam, mas um aluno talvez a expresse no jazz, outro na tradição barroca e outro com uma abordagem completamente nova. Os mesmos princípios fixos, porém, servem de alicerce para a arte da aplicação individual. Mesmo que todos os dez alunos expressassem esses princípios no jazz, não haveria nenhuma expressão igual à outra.

Essa é uma das descobertas mais importantes que fiz em minha jornada espiritual, descoberta que assemelho ao reconhecimento de que a ciência e a arte estão ligadas. É preciso a letra e o espírito. O alicerce e a superestrutura.

Houve uma época em que eu realmente me sentia segura na “letra” da lei, no meu estudo da Christian Science. Quando terminei a faculdade, já sabia de cor muitas afirmações da Bíblia e de Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras de Mary Baker Eddy. Tinha visto muitas curas alcançadas com a aplicação da lei espiritual. De fato, como carreira eu queria partilhar com os outros essa cura baseada na lei espiritual.

Vivíamos em Chicago. Eu tinha uma profissão e uma família. Meu desejo de praticar a Christian Science cresceu a tal ponto que diversas pessoas começaram a me pedir ajuda em oração para que obtivessem a cura. Eu teria de abrir mão de minha profissão e de minha renda estável. Com todo o apoio de meu marido, candidatei-me para anunciar meu nome no The Christian Science Journal como praticista da Christian Science em tempo integral. Tudo estava pronto para o próximo passo.

Aí, em setembro daquele ano, fui acometida de uma dolorosa condição física que me impediu de andar normalmente e pôs minha resistência à prova.

Baseada em curas anteriores que tivera mediante a oração, eu tinha plena expectativa de uma cura rápida. Porém, durante dez dias a doença só piorou. Telefonei, então, a um praticista da Christian Science para que me ajudasse em oração. O telefonema foi rápido, mas cheio de terna compaixão. A firme convicção do praticista me encorajou bastante. Ele sugeriu que eu considerasse uma afirmação escrita por Mary Baker Eddy, baseada na maneira como Jesus curava: “Nada do que é evidente para os sentidos materiais consegue fechar meus olhos para a prova científica de que Deus, o bem, é supremo.” (Miscellaneous Writings 1883–1896 [Escritos Diversos], p.277). Eu estudei a frase cuidadosamente, memorizei-a bem depressa e me empenhei em mantê-la constantemente no pensamento.

Passou-se uma semana. A única mudança que observei foi mais restrição e dor. Um dia, quando telefonei ao praticista, sugeri a ele que me desse outra coisa para ponderar. Achei que deveria dizer a ele que a passagem recomendada já estava “gasta” de tanto estudo! Mas ele respondeu com muita calma: “Não, pense mais profundamente sobre o que diz a frase”.

Ele estava realmente me dizendo que eu ainda não estava escutando. Então me dispus a obedecer a seu pedido.

Durante os quatro meses seguintes, embora a condição física continuasse a piorar e eu estivesse perplexa, não fiquei deprimida ou desencorajada.

Eu me perguntei, durante esse período, o que faria se alguém me pedisse para orar nesse tipo de situação. Cheguei à conclusão de que eu teria a expectativa de fazer exatamente o que esse senhor estava fazendo por mim. Ele era capaz de silenciar meu medo, todas as vezes que este surgia, não com palavras, mas pelo exemplo de sua postura espiritual. E por sua paciência e gentileza e a firme convicção que tinha na cura espiritual. Essa convicção era fundamentada em sua obediência ao mandado e à promessa de Jesus: “...Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:31–32). E foi isso exatamente o que aconteceu. A Christian Science era a verdade. E ela me libertou fisicamente, quando aprendi a realmente escutar a verdade e a reivindicar seu poder sanador.

A Christian Science me libertou fisicamente, quando aprendi a escutar a verdade.

Em retrospecto, compreendi o presente que me foi dado. Esse praticista sabia que eu estava pronta para dedicar minha vida à cura baseada nos ensinamentos da Christian Science. Ele estava escutando o que eu dizia e percebeu que eu estava esperando uma mudança ocorrer em meu corpo para confirmar que eu tinha sido curada! Minha confiança era na letra, na Ciência da lei de Deus. Mas eu estava esperando essa Ciência fazer alguma coisa, mostrar a mim alguma prova. E eu precisava ver expressada a aplicação daquela “lei”. Uma pergunta em Ciência e Saúde me forneceu a resposta: “Quem se colocaria diante de um quadro negro e rogaria ao princípio da matemática que lhe resolvesse o problema? A regra já está estabelecida e é nossa tarefa achar a solução” (p. 3).

Foi então que entendi porque duas frases do artista, escultor e poeta Michelangelo sempre me agradaram. Ele escreveu num soneto: “Quanto mais o mármore definha, mais a estátua cresce”. E quando perguntaram a ele como podia lançar mão de um pedaço de mármore com defeito e produzir uma estátua tão bela, dizem que respondeu: “A estátua já existia completa dentro do mármore. Eu só removi a matéria a seu redor.” Michelangelo não se colocou diante do mármore e esperou a estátua aparecer. A ciência e a arte trabalharam juntas.

Agora eu estava escutando a Deus. A afirmação em Miscellaneous Writings, que estivera estudando todo aquele tempo, a pedido do praticista, estava me dizendo que parasse de procurar provas da cura em condições materiais, que o estado material do corpo não tem poder ou autoridade para confirmar ou negar uma cura.

Minha condição física parou de piorar, mas nem por isso pareceu melhorar. Agora, porém, eu via que essa era uma oportunidade para aceitar, antes mesmo de começar uma carreira dedicada inteiramente à cura espiritual, que eu nunca ficaria impressionada ou deprimida por condições materiais. Essa era minha oportunidade de basear minhas conclusões em fatos espirituais e aplicar esses fatos a todas as situações, sabendo, desde o ínicio, que o bom resultado já tinha sido estabelecido por Deus, porque Ele é bom.

A cura espiritual é o dom inefável da graça para cada um de nós.

Depois de dois meses e meio de oração consagrada, marcada pela alegria e convicção de que eu já estava livre, certo dia me dei conta de que tinha esquecido de pedir a meu marido que devolvesse uns documentos para alguém que estava precisando deles. Sem pensar, fui ao quarto, calcei um sapato de salto alto (eu não conseguira usar sapatos durante todo esse tempo) e comecei a caminhar à casa dessa pessoa, a uns quatro quarteirões dali. Na esquina da Rua Minocqua com a Rua Marquette, de repente percebi o que tinha acontecido. Parei, olhei para os pés e comecei a rir. Eu tinha parado de raciocinar e analisar humanamente, deixado de observar o corpo na busca pela cura. Estava começando a aprender a escutar a Deus.

Nos próximos meses meu pedido para me anunciar como praticista da Christian Science foi aceito. Isso já faz mais de 40 anos. O interessante é que mesmo se eu não tivesse me tornado praticista, sei que minha vida teria sido enriquecida de maneira a beneficiar outras pessoas além de mim mesma. Todos nós temos um propósito e este nunca é egocêntrico, mas sempre sem limitações. O mundo precisa de pessoas que ouçam, pessoas que ouçam bem e que estejam prontas para responder ao impulso divino. A cura espiritual nunca é restrita a uma certa cultura, raça ou religião. É o dom inefável da graça para cada um de nós.

Mary Baker Eddy concluiu sua autobiografia, Retrospecção e Introspecção, com um verso do poeta A. E. Hamilton (p. 95), denotando um propósito que todos nós podemos cumprir:

Pede a Deus que te dê habilidade
Na arte de consolar,
Para que a uma vida de compaixão
Te possas preparar,
E te consagrar. Pois enorme é o peso do mal
Em todo coração,
E grande é a necessidade de consoladores
Que tenham de Cristo o dom.

Aprender a ser um sanador requer ouvir a Deus. E a humildade para ouvir é realmente uma arte.

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