Recentemente, o Museu de Belas Artes de Boston abriu ao público uma importante exposição de gravuras intitulada A trajetória de Rembrandt: na pintura, no desenho, nas gravuras. Como estudante da Bíblia, fiquei fascinada com as várias gravuras feitas por Rembrandt de personagens bíblicos, especialmente suas gravuras de anjos.
Freqüentemente, artistas costumam retratar anjos como seres alados, descendo das nuvens do céu, banhados de luz. Mas os anjos de Rembrandt fazem mais do que apenas surgir das nuvens. Eles agem com energia, consolando e protegendo. A gravura “O Sacrifício de Abraão” retrata-o na iminência de sacrificar seu filho Isaque, pois Abraão acredita que isso lhe é exigido como prova de sua devoção a Deus. O anjo de Rembrandt não aparece a Abraão apenas para dizer-lhe que não é isso o que Deus exige dele. O anjo envolve a Abraão com seus braços e, com força, o impede de fazer o mal.
A Bíblia nos conta que, na noite anterior à sua crucificação, Jesus orou para que o “cálice” (a humilhação e a agonia da crucificação) fosse afastado dele. Enquanto ele orava, “lhe apareceu um anjo do céu que o confortava” (Lucas 22:43). A gravura de Rembrandt, “A Agonia no Jardim das Oliveiras”, retrata esse anjo fortalecendo a Jesus, ajoelhado a seu lado, abraçando-o e confortando-o.
"Quando orei... me senti abraçada por um anjo"
Mary Baker Eddy escreveu em seu livro Ciência e Saúde que anjos não são seres com formas humanas e asas cobertas de plumas, mas que “são pensamentos puros que emanam de Deus”, que nos fortalecem e protegem (p. 298). Eles são “intuições espirituais, puras e perfeitas; a inspiração da bondade, da pureza e da imortalidade” (p. 581).
Essa descrição sobre anjos me fez pensar, com mais profundidade, sobre os cerca de 300 trechos da Bíblia que mencionam anjos. Uma das primeiras citações sobre anjos aparece quando “o Anjo do Senhor” encontra uma escrava fugitiva, grávida, abandonada, uma mulher egípcia chamada Hagar, que havia sido maltratada. O anjo assegura a Hagar que Deus a abençoará, mencionando duas das coisas mais valiosas nos tempos antigos: um filho e uma grande linhagem. O anjo também dá a ela uma orientação divina: “volta para casa”.
O encontro de Hagar com o anjo muda sua forma de pensar e ela realmente volta para casa, não mais amedrontada como uma escrava fugitiva, mas com a dignidade conferida por uma nova visão de si mesma, de seu futuro e do terno cuidado de Deus por ela. Essa nova conscientização a induz a chamar a Deus por um novo nome: “Tu és o Deus que cuida de mim”. Além disso, Hagar diz sobre si mesma: “Agora conheci Aquele que cuida de mim” (Gênesis, capítulo 16, New International Version [Nova Versão International]). Alguns anos mais tarde, Hagar é libertada da escravidão e os árabes traçam sua linhagem diretamente a partir de seu filho, Ismael.
Tem sido de grande ajuda lembrar que o anjo que mudou a vida de Hagar não era um mensageiro emplumado, mas sim um dos “pensamentos puros que emanam de Deus”. Tais pensamentos, substituindo o medo e o desespero, transformam nossa visão de nós mesmos e de nossas expectativas. Enquanto nossos pensamentos estiverem fixos no que é divino, não poderemos ser cerceados pelas duras experiências da vida.
Há alguns anos, logo após meu ex-marido e eu termos nos separado, machuquei o tornozelo na ginástica. Eu vivsia em um apartamento duplex e dormia no andar de baixo. De manhã, meu tornozelo estava tão dolorido que eu não conseguia subir as escadas; tudo que consegui fazer foi sentar-me no primeiro degrau e chorar. Finalmente, liguei para uma amiga que concordou em me ajudar. Também orei. Ao me volver a Deus pedindo ajuda, percebi que o que mais me doía era o fato de eu estar sozinha, empacada ali naquela escada. Compreendi, também, que eu estava me sentindo assim há vários meses, bem antes de machucar o tornozelo. Desejava muito abandonar a idéia de que eu era uma jovem mulher solitária, cuja vida era uma confusão. Eu almejava compreender que aquilo que a Bíblia diz é verdade, ou seja, que Deus é o próprio Amor e que Ele cuida de nós.
Quando orei, naquele dia, posso dizer que me senti abraçada por um anjo! Por um sentido tangível do amor de Deus e de Seu cuidado por todos nós, sentido esse que substituiu a autopiedade e o medo. Quando minha amiga chegou, eu já estava no andar de cima, ansiosa por partilhar com ela o que eu havia aprendido, isto é, seja qual for a situação que nos faça sentir solitários, os amorosos e angelicais pensamentos de Deus estarão prontos para nos tirar da prostração, da mesma maneira como fizeram comigo.
