Imagine-se como sendo um dos discípulos que tiveram o privilégio de conviver com Cristo Jesus durante sua breve carreira: Você constata, em primeira mão, o amor do Mestre pelas multidões que o seguem, testemunha as inúmeras curas que ele realiza, o vê ressuscitar os mortos e ouve dele a instrução para você fazer o mesmo. Após a crucificação do Mestre, você fica pasmo ao saber que ele ressuscita do túmulo.
Na manhã seguinte à ressurreição de Jesus, aí está você, pescando com os outros discípulos. Você não consegue apanhar nenhum peixe e se sente à deriva, correndo o risco de voltar à velha rotina que já havia esquecido.
Um homem o chama da praia e diz para jogar as redes para o lado direito do barco. Ao fazer isso, as redes ficam tão cheias de peixes que você quase não consegue puxá-las. Então, o homem lhe acena para que venha até a praia e compartilhe uma refeição com ele. Você vê um fogo em brasas, alguns peixes e pão. Você sabe, pela maneira como arde seu coração, que esse homem é o Mestre. Quando ele diz: "Vinde, comei" (João 21:12) você tem a certeza disso.
Ao juntar-se a Jesus na praia, você se recorda vividamente de sua última ceia juntos, em que você bebeu o vinho do cálice dele e partiram juntos o pão, antes de o Mestre ser traído. Naquela triste ocasião, enquanto você comia, o Mestre lhe dizia: "Tomai, comei; isto é o meu corpo". A respeito do vinho em seu cálice, ele disse: "Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados" (Mateus 26:26-28).
Naquela manhã na praia, seus pensamentos estão, mais uma vez, profundamente agitados pela voz do Mestre, aquela vinda do Cristo à sua consciência, que já lhe é familiar. O Cristo, ou a divina influência de Deus, que Jesus viveu de forma tão intensa, imediatamente o impele a mudar seu curso de ação e a colocar sua confiança no lado direito, o do Espírito, ao invés de no lado da matéria. Você se sente renascido. Seu despertar espiritual para o Cristo, sempre presente na consciência humana, o capacita a se unir aos outros seguidores de Jesus em santa comunhão com o único Deus.
Raciocínio e argumento apenas nos deixam prontos para a oração. Eles não substituem a comunhão com Deus e a comunicação direta com Ele, porque a essência da oração é a comunhão consciente com Deus.
Nossa Eucaristia
Ao se referir a esses importantes acontecimentos, Mary Baker Eddy escreveu sobre o seu significado para os Cientistas Cristãos: "Essa reunião espiritual com nosso Senhor, na aurora de uma nova luz, é a refeição matinal que os Cientistas Cristãos comemoram. Inclinam-se perante o Cristo, a Verdade, para receber mais da sua reaparição e comungar silenciosamente com o Princípio divino, o Amor. Celebram a vitória de seu Senhor sobre a morte, sua provação na carne depois da morte como exemplificação da provação humana, e sua ascensão espiritual e definitiva acima da matéria, ou da carne, quando ele se elevou para além da vista material. ... Nossa Eucaristia é a comunhão espiritual com o único Deus. Nosso pão, 'que desce do céu', é a Verdade. Nosso cálice é a cruz. Nosso vinho é a inspiração do Amor, o trago que nosso Mestre bebeu e recomendou a seus seguidores" (Ciência e Saúde, p. 35).
Descobri que necessito diariamente dessa comunhão espiritual com Deus. Não faz muito tempo, havia orado durante vários dias pela cura de um doloroso problema físico, sem nenhum resultado. Li e ponderei sobre alguns trechos favoritos da Bíblia, estudei passagens de Ciência e Saúde, e raciocinei a respeito de todas as conseqüências lógicas que derivam do fato de o homem e a mulher serem a imagem e semelhança de Deus, conforme o revela o primeiro capítulo do Gênesis. Contudo, meu estado não melhorava. Honestamente, achava que havia orado o melhor que podia. Por fim, me pus mentalmente de joelhos e perguntei a Deus o que precisava saber e fazer. Foi então que percebi que aquela era a primeira vez que, em realidade, havia me dirigido diretamente a Deus em minhas orações. Até ali havia me engajado em um raciocínio metafísico e uma argumentação mental pelo meu direito divino à saúde. Mas, raciocínio e argumento apenas nos deixam prontos para a oração. Eles não substituem a comunhão com Deus e a comunicação direta com Ele, porque a essência da oração é a comunhão consciente com Deus.
À medida que, humildemente, orava e ouvia as mensagens de Deus para mim, era como se eu fizesse parte daquela refeição de comunhão, de tempos atrás, com Jesus e seus discípulos, mas agora era o Cristo, sempre presente, partindo o pão comigo, ou seja, transmitindo-me a verdade espiritual do meu ser. Essa comunhão com o Pai-Mãe celestial é o que Jesus simbolizava com o partir o pão com os seus discípulos. Senti-me inspirado, imerso no amor de Deus. Minha oração se tornara uma verdadeira comunhão com o Amor divino, e essa oração rapidamente me curou daquele problema físico.
Essa comunhão com o Pai-Mãe celestial é o que Jesus simbolizava com o partir o pão com os seus discípulos. Senti-me inspirado, imerso no amor de Deus. Minha oração se tornara uma verdadeira comunhão.
Considero cada luta espiritual para vencer o pecado, a doença e a morte por meio da comunhão com o Cristo, como um partilhar do cálice e do vinho que tanto inspirou os discípulos durante a última ceia deles, quando Jesus insistiu que eles bebessem de seu cálice. Não estaria Jesus fazendo a mesma exigência a todos os seus seguidores, até mesmo a nós, hoje em dia? Em ocasiões anteriores, o Mestre havia desafiado seus ouvintes a tomarem a cruz e a deixarem tudo pelo Cristo, isto é, a desistirem das velhas maneiras de pensar e de agir e a se entregarem a uma vida de oração e amor ao próximo, mesmo que isso significasse aceitar mais desafios e dificuldades.
Oração e comunhão
Ciência e Saúde tem muito a dizer sobre o tema oração. Uma idéia que acho especialmente útil é que "A intercomunicação se faz sempre de Deus para Sua idéia, o homem" (p. 284). Para mim, uma das palavras mais importantes nessa declaração é a palavra sempre. Deus está sempre falando conosco. Intercomunicação significa que alguém está recebendo a mensagem. Caso contrário, tudo o que estaria acontecendo seria um monólogo. A Mente divina nos dotou com o sentido espiritual para compreendermos sua mensagem.
Tenho certeza de que a maioria de nós já teve a experiência de orar, mas sem sentir nenhuma inspiração. Por exemplo, quando dizemos: "São apenas palavras". Contudo, a inspiração está sempre fluindo de Deus para Sua criação. Portanto, como podemos ser mais receptivos? Para começar, podemos nos perguntar quando iniciamos nossa oração: "Estou realmente me dirigindo a Deus? Desejo realmente estar mais perto dEle e compreendê-Lo melhor? Existe suficiente aspiração?" Em outras palavras, podemos nos perguntar se aspiramos ou não a viver as qualidades crísticas da compaixão, do perdão e do altruísmo, de forma consistente. Essa aspiração nos leva à inspiração, é como inspirar e exalar o ar.
Jesus ensinou: "Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade" (João 4:24). Quando comungamos com Deus, será que estamos convictos de que nossa atitude é de adoração? Será que estamos deixando toda materialidade fora do "quarto secreto" da oração, no qual Cristo Jesus nos desafiou a entrar? A Sra. Eddy escreveu: "Um requisito prévio para a comunhão com o Espírito é alcançar a vida espiritual" (Ciência e Saúde, p. 72). Portanto, temos de purificar nossa vida para ouvir a Deus.
Essa oração começa com minha adoração a Deus.
Ele me envolve em Seu amor e responde às minhas orações. Essa comunhão pode ser sem esforço e alegre, de fato, a mais extraordinária experiência que qualquer um de nós pode ter.
Quando nos dedicamos à oração, temos uma audiência com Deus. A Bíblia está cheia de exemplos de pessoas espiritualizadas que se voltavam diretamente a Deus. O Salmista, por exemplo, pergunta: "vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno" (Salmos 139:24). Comungar nem sempre significa pedir algo a Deus. Pode ser uma expressão direta de gratidão a Ele, de agradecimento ao Pai por nossa união com Ele.
Freqüentemente, passo a maior parte da minha oração fazendo com que Deus se torne mais real para mim. Quando comungo com Deus, não quero ter a sensação de que estou usando uma secretária eletrônica. Ele tem de ser muito real para mim, de tal maneira que eu sinta que posso chegar mais perto dEle. Essa oração começa com minha adoração a Deus. À medida que abandono o planejamento humano e o pensamento egoísta ou sensual e à medida que busco a Deus de todo meu coração, Ele me envolve em Seu amor e responde às minhas orações. Essa comunhão pode ser sem esforço e alegre, de fato, a mais extraordinária experiência que qualquer um de nós pode ter.
Duas vezes por ano, o tema da Lição Bíblica Semanal da Christian Science é "O Sacramento". Durante os cultos dominicais sobre Sacramento, a congregação nas igrejas filiais da Christian Science, em todo o mundo, ajoelha-se em silenciosa comunhão e em seguida ora em conjunto a Oração do Senhor. Aprecio muito esses cultos. Ao me ajoelhar, sinto que todos ao meu redor se unem, à medida que nos dirigimos a Deus e novamente dedicamos nossa vida para servi-Lo. Agradeço a Ele pelo Seu amor, pela luz do Cristo em minha vida, e resolvo, de forma mais consistente, despir-me "do velho homem com os seus feitos ... e revestir-me 'do novo homem' ", como diz o apóstolo Paulo (Colossenses 3:9, 10). Esse culto é um lembrete para termos uma íntima comunhão com o Amor divino, diariamente, para nascermos de novo, a cada dia.
