Há alguns anos, quando uma querida amiga faleceu, senti um grande vazio em minha vida. Um dia, quando quis compartilhar algo com ela, mas não pude, percebi como sentia falta de nossas conversas. Buscando encontrar paz, lembrei-me de um trecho que me era muito familiar em Ciência e Saúde: "A intercomunicação se faz sempre de Deus para Sua idéia, o homem" (p. 284). Esse conceito parecia ir de encontro à minha experiência diária, vista que estou em contato com pessoas todos os dias e tinha uma comunicação muito sincera com essa amiga, antes de ela falecer. Será que o fato de a intercomunicação provir somente de Deus anula todas as nossas conversas com os outros?
À medida que orava para compreender melhor essa questão, outra idéia me surgiu no pensamento: "Às vezes, recebemos luz da lua". Levando em conta o fato de que o luar é em realidade apenas a luz do sol refletida pela lua, compreendi esse pensamento como sendo uma terna mensagem de Deus, lembrando-me de que Ele é verdadeiramente a fonte e o comunicador de todo o bem. Tanto eu quanto as demais pessoas, inclusive minha amiga, como reflexos de Deus, recebemos continuamente bons pensamentos diretamente dEle. Isso me deu a certeza de que nenhum de nós pode estar separado do bem, das idéias, da inspiração, e da ajuda que necessitamos, porque nunca estamos separados de Deus. O bem, que minha amiga e eu recebíamos e compartilhávamos uma com a outra, vinha diretamente de nossa fonte divina. De fato, a bondade de Deus refletida por nós era a substância de nossa amizade.
Isso também foi um sinal para que eu deixasse de limitar as formas e os meios pelos quais o bem podia vir à minha vida. Por exemplo, eu não precisava depender de uma pessoa em particular para que a minha vida fosse completa. Podia esperar que a bondade de Deus me provesse, de forma plena, daquilo de que necessitasse, exatamente quando fosse preciso. Poderia abrir mão do que eu achava que desejava e ficar receptiva à bondade eterna de Deus, que se comunica sempre comigo e com todos. Eu precisava apenas parar e ouvir.
Ponderando um pouco mais sobre isso, concluí que, ao longo de minha vida, tenho ouvido a voz de Deus falando comigo de diferentes maneiras, como nos muitos momentos em que, inesperadamente e sem que tivesse solicitado, alguém mencionou algo que satisfez perfeitamente minha necessidade.
Também vivenciei o que me pareceu ser uma comunicação vinda de minha mãe, que faleceu há alguns anos. Logo após seu falecimento, veio-me ao pensamento uma clara imagem dela me dizendo: "Você tem de perdoá-los". Na ocasião, estava magoada com o tipo de assistência que algumas pessoas lhe haviam prestado. Contudo, devido àquela imagem, fui instada a perdoá-las e a seguir em frente, o que acabei fazendo. Aquela imagem também me trouxe alento e a certeza de que minha mãe continuava a existir e a progredir e de que sua vida jamais havia sido interrompida, a qual, por ser espiritual e eterna, jamais havia sido tocada por erros cometidos pelos outros.
No capítulo intitulado “Ciência Cristã versus Espiritismo”, do livro Ciência e Saúde, Mary Baker Eddy declarou que é impossível a comunicação com os mortos, devido a diferença de estados de consciência daqueles que aqui estão e daqueles que faleceram, da mesma forma que não podemos nos comunicar com alguém dormindo e sonhando ao nosso lado (ver p. 82). Contudo, muitas pessoas gostariam de ver entes queridos que já morreram.
A Sra. Eddy explicou este fenômeno: “Os mortais desenvolvem imagens de pensamento. Ao ignorante, estas podem afigurar-se como aparições; mas são misteriosas só porque é fora do comum ver pensamentos, embora sempre possamos sentir-lhes a influência. ... Ver não é menos uma qualidade do sentido físico, assim como sentir também não é. Por que então é mais difícil ver do que sentir um pensamento? Só a educação determina a diferença. Na realidade não há diferença alguma” (Ciência e Saúde, p. 86). Continuando ao longo dessas linhas, ela escreveu: “Embora os indivíduos tenham falecido, permanece seu ambiente mental para ser discernido, descrito e transmitido. Apesar de separados os corpos por léguas, e esquecidas suas associações, estas flutuam na atmosfera geral da mente humana” (Ibidem, p. 87).
Concluí dessa explicação que a imagem de minha mãe era um quadro mental que viera ao meu pensamento para que eu recebesse a mensagem que precisava ouvir, vinda de forma que eu também pudesse compreendê-la. Não fora um “espírito” ou um “fantasma” comunicando-se comigo ou por meu intermédio. A imagem era simplesmente um quadro mental. E não é isso que todos nós sempre vemos com nossos olhos? Até mesmo ver um corpo morto é, em certo sentido, um quadro mental. O indivíduo real nunca morre. Um corpo morto representa o pensamento ou, em outras palavras, a crença de que uma pessoa viveu em um corpo, mas que agora o deixou.
Da mesma maneira que nossos cinco sentidos não podem explicar o desaparecimento do sol à noite, também não conseguem explicar a eternidade de uma vida que, de acordo com as aparências, chegou ao fim. Em ambos os casos, precisamos olhar além dos sentidos físicos. No caso do sol, a astronomia nos diz que ele não desaparece, ou que se mova. No caso da morte, a Ciência divina nos assegura que a vida não acaba para ninguém porque é eterna.
Também encontrei, nestas palavras da Sra. Eddy, consolo e encorajamento: “Depois de havermos passado pela provação chamada morte, ou de havermos destruído esse derradeiro inimigo, e atingirmos o mesmo plano de existência consciente daqueles que se foram antes, então seremos capazes de comunicar-nos com eles e de reconhecê-los” (Miscellaneous Writings [Escritos Diversos] 1883-1896, p. 42).
Com essas idéias em mente, tenho sentido maior apreciação por várias pessoas que não estão mais diretamente em minha vida, como também por aquelas que estão ao meu redor. Também tenho encontrado amizades em lugares inesperados. Minha necessidade de compartilhar idéias e alegrias com outras pessoas também continua a ser suprida.
Ainda guardo no coração o bem maravilhoso que minha amiga expressava e compartilhava comigo. Sei que ela, minha mãe e todos aqueles que faleceram, continuam a refletir e a comunicar a bondade de Deus, à sua própria maneira, especial e eterna.