Era um dia de céu azul, final do mês de maio, no Texas.
Parei com meu cachorro Max junto a um lago tremeluzente para desfrutar o momento. O calor do verão ainda não havia atingido o auge, a brisa estava calma e não havia nenhuma nuvem à vista. Pensei: "Em um dia tão maravilhoso, como poderia haver alguma coisa errada, em qualquer parte do mundo"?
Meus passeios matinais com o Max representam para mim momentos para refletir, orar e meditar sobre a presença de Deus. Naquela manhã, a presença de Deus, o Amor divino, parecia muito palpável e clara para mim. Em realidade, parecia impossível que qualquer coisa má tivesse a oportunidade de se desenvolver ou mesmo de existir. O reino dos céus parecia próximo e tangível. Eu tinha a impressão de que o esplendor daquela manhã de primavera me concedera um vislumbre desse reino.
Quando rememoro aquele momento, tendo passeado ao redor daquele lago muitas vezes desde aquele dia, uma percepção espiritual interessante me vem ao pensamento. A área da nossa vizinhança, próxima ao lago, está passando por modificações devido a uma construção de grande porte, com 20 ou mais casas em vários estágios de acabamento. O local é barulhento e o lago está repleto de detritos dos restos de almoço deixados pelos trabalhadores e entulhos dos canteiros das obras: copos plásticos, recipientes de isopor, papel de parede seco.
Será que o lago estava tão cheio de lixo naquele dia em que senti, de forma muito clara, a presença e a realidade da perfeição de Deus? Talvez sim. Quando havia me sentado com o Max à margem, provavelmente o lixo estava lá, bem embaixo do meu nariz. Contudo, por que não o teria notado? Por que o lixo não estragara a cena que me pareceu completamente pura e limpa? Uma resposta lógica seria a de que o claro azul do céu havia prendido minha atenção, não a cena que se apresentava aos meus pés.
Percebi que ali havia uma clara lição espiritual. O enfoque dos meus olhos voltara-se para o alto, em vez de para baixo, portanto, pude me concentrar e me elevar pelo saber consciente do bem presente comigo naquele momento, a despeito da sujeira aos meus pés.
Isso me fez pensar no que Mary Baker Eddy descreveu como sendo a maneira pelo qual Jesus olhava para o mundo: "Jesus via na Ciência o homem perfeito, que lhe aparecia ali mesmo onde o homem mortal e pecador aparece aos mortais. Nesse homem perfeito o Salvador via a própria semelhança de Deus, e esse modo correto de ver o homem curava os doentes. Assim, Jesus ensinou que o reino de Deus está intacto e é universal, e que o homem é puro e santo" (Ciência e Saúde, pp. 476-477).
Quando um leproso se aproximou de Jesus, o Mestre não viu a doença ou os efeitos dela sobre a aparência do homem. Ao invés disso, ele viu a criação perfeita e intacta de Deus. Ao ver aquele homem em sua verdadeira luz, Jesus trouxe também à luz a identidade espiritual pura do homem. Essa percepção curou, ou seja, removeu completamente a enfermidade da experiência do homem. De fato, Jesus via a todos com quem tinha contato e a cada situação que encontrava, por meio da clareza da visão do Cristo, a mesma que curava e transformava multidões de pessoas que carregavam o fardo da doença, da debilidade ou da dúvida na presença de Deus. Essa visão também capacitou Jesus a caminhar sobre as águas, em meio a uma forte tempestade.
Jesus vivia essa visão espiritual do Cristo de forma tão constante, que ele via somente a saúde e a perfeição. Ademais, essa perfeição é tudo o que nosso Pai-Mãe Deus sempre vê, acerca de cada um de nós como idéias espirituais.
Imagine se a cada dia nós praticássemos o exercício de ver o mundo através dessa mesma lente? Não estou dizendo para ignorar a multidão de problemas da sociedade, mas, ao invés de olhar através deles, olhar acima e além deles, a fim de considerálos do ponto de vista da oração, que produz resultados sanadores.
No glossário de Ciência e Saúde, a Sra. Eddy definiu olhos como: "Discernimento espiritual — não material, mas mental" (p. 586). Ao utilizarmos esse discernimento espiritual, podemos vislumbrar a realidade genuína de qualquer momento, ao invés de ficarmos atolados na ilusão da vida material. Freqüentemente, os ornamentos do materialismo rogam (e, às vezes, exigem) que sejam vistos. Entretanto, a visão espiritual eleva o pensamento acima da "desordem" que está diante de nós, para o reino dos céus, à realidade do universo perfeito de Deus.
Há alguns anos, tive uma experiência que comprovou os benefícios sanadores da percepção espiritual. Minha segunda filha nasceu sete semanas antes do prazo e precisou passar alguns dias em observação na unidade neonatal de terapia intensiva do hospital local. No terceiro dia de internamento, os médicos estavam felizes com o progresso dela, mas diagnosticaram uma icterícia. Eu mesma podia notar que sua pele tinha uma cor amarelada anormal. Como tratamento, ela receberia fototerapia (banhos de luz) ao final do dia.
Enquanto embalava gentilmente o pequenino bebê, era-me inteiramente inaceitável que sua expressão de saúde pudesse ser limitada ou retardada por aquele diagnóstico. Fechei meus olhos e mentalmente me volvi para longe do que os sentidos físicos me diziam sobre a aparência do bebê. Meus pensamentos se concentraram naquilo que Deus sabia a respeito do direito dessa preciosa criança, naquele exato momento. Por meio do sentido espiritual e do discernimento, em espírito de oração, consegui vislumbrar a inocência e a perfeição do bebê, como a criação de Deus. Naquele momento, essa verdade espiritual ficou totalmente clara para mim.
Alguns minutos depois, olhei novamente para minha filha e notei que a tonalidade de sua pele estava rosada e normal. Embalei-a, orei por mais alguns minutos e, em seguida, devolvi-a aos cuidados das enfermeiras. Ela acabou não necessitando da fototerapia (banhos de luz), e os médicos nunca mais mencionaram a icterícia. Ao invés disso, ela foi transferida para o berçário normal no dia seguinte e, dias depois, pôde ir para casa comigo.
Os benefícios que essa percepção espiritual trouxe à minha vida fizeram-me lembrar de um hino que gosto muito de cantar, escrito por Mary Baker Eddy, que diz:
Sentido escuro, vai-te já!
Deus é Amor.
A compreensão destruirá
Hostil temor.
O Amor te salva, e me conduz
Do ódio ao bem.
Saber é força; Vida, luz;
E tudo é Deus.
(Hinário da Ciência Cristã,
Hino 160).
Não importa que tipo de tumulto pareça estar acontecendo em nossa vida, o reino dos céus está sempre à mão. Diariamente podemos perceber e reconhecer a beleza ininterrupta do dia de Deus. Nenhum medo pode obscurecer ou desorientar nossos pensamentos, quando "olhamos para o alto". Além disso, quando o fazemos, nada neste mundo pode nos impedir de sentir a harmonia que já é nossa por direito.