Eu sempre gostei do velho conto popular sobre o diabo que fecha seu negócio e vende todas as ferramentas. Ali estavam elas, todas alinhadas, etiquetadas e com o preço — medo, inveja, maldade, ciúme, ódio, engano, sensualidade, etc. E qual delas era a mais usada e tinha o preço mais alto? Uma peça em forma de cunha, aparentemente inofensiva, chamada “desânimo”.
Quando perguntavam o motivo de ela ser tão cara, o diabo explicava que era a mais valiosa: “Com ela posso entrar no coração e na mente de alguém, quando não consigo com nenhuma outra. Poucos sabem que essa ferramenta pertence a mim”. Quando indagavam se havia um coração que ele não conseguia atingir com o “desânimo”, ele respondia: “Sim. O coração grato”.
Lembrei-me dessa história e de sua lição, no momento em que eu mais precisava dela. Foi numa época em que o alerta da Bíblia, “...sede agradecidos”, tornou-se mais valioso e mais importante do que nunca para mim.
Eu estava me sentindo muito mal — desanimada e deprimida demais, a ponto de ficar fisicamente doente. Sempre me considerei uma pessoa grata, estava sempre agradecendo a Deus por toda partícula do bem, etc. Mas, lembrando-me desse conto popular, percebi que não estivera vigilante quanto às provocações do “diabo” (no meu caso, os pensamentos que sutilmente desafiavam a onipotência de Deus, o Amor divino). Elas haviam aos poucos enfraquecido minha maneira de pensar até que só restou uma nuvem preta de comiseração própria.
Então, o que foi que eu fiz? Primeiro, respondi com veemência (como Jesus fez quando disse: “Arreda Satanás!” [Mateus 16:23]). Eu disse: “Você não pode usar o “desânimo” em mim nem por um segundo mais”!
Na mesma hora, fiz uma lista de gratidão. Não foi difícil, e minha lista de bênçãos fluiu — não só com relação à casa, família, etc., mas com relação à proteção de Deus, à provisão e ao desdobramento do bem, todos efeitos de Deus. Mas isso não ajudou. Pensando bem, tudo fora muito mecânico, superficial, com fórmulas prontas, como uma lista de supermercado ou uma lista de coisas a fazer. Mais parecia que eu estava usando a gratidão como uma “técnica de autoajuda”.
Ah, mas a gratidão é muito mais do que uma técnica! A verdadeira gratidão é um sentimento sincero que brota da vívida inspiração divina. Uma definição de gratidão, que encontrei no dicionário, dizia: “O amor a Deus é a gratidão mais elevada”. Essa gratidão não pode ser fabricada.
Já mentalmente desperta e disposta, abri meu livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras de Mary Baker Eddy e vi isto: “Se somos ingratos pela Vida, pela Verdade e pelo Amor, e apesar disso rendemos graças a Deus por todas as bênçãos, então não somos sinceros e incorremos na censura severa que nosso Mestre profere contra os hipócritas” (p. 3).
Eu já conhecia esse trecho e essas palavras sempre me pareceram muito duras mas, embora o que ficava martelando na minha cabeça fossem as palavras “ingrato”, “não somos sinceros”, “censura”, “hipócrita”, naquele momento, essa passagem foi muito útil para mim! Percebi que ser grata pela Vida, pela Verdade e pelo Amor divinos — ser grata por Deus ser Deus — sequer estava na minha lista. As provas do cuidado de Deus estavam ali, mas não o próprio Deus. “Por quê?”, questionei-me.
Como vocês podem ver, minha atenção, agora, estava totalmente voltada a Deus e logo todo o meu pensamento estava cheio daquilo que eu sabia que Deus era — o Amor (sempre presente e que a tudo inclui), a Verdade (forte e terna), a Vida (que expressa espontaneamente todo o bem). Eu estava começando a compreender e a sentir que amar a Deus por Ele ser Deus é a gratidão mais elevada.
Esse foi o fim absoluto da tristeza e da doença. A partir daí, o alerta da Bíblia “...sede agradecidos” tornou-se mais precioso e mais importante do que nunca para mim. Aprendi muito com essa experiência. Aprendi que a gratidão é mais do que dar graças na hora das refeições ou no dia de Ação de Graças, ela é oração incessante — o reconhecimento constante e consciente da natureza de Deus e de Sua orientação, cuidado e governo absoluto.
Eu estava começando a compreender e a sentir que o amor a Deus por Ele ser Deus é a forma mais elevada de gratidão.
Muito já foi escrito e falado por pastores, médicos, educadores, assistentes sociais, líderes empresariais e comunitários acerca dos benefícios da gratidão em nossa vida e sua conexão com a saúde, a felicidade e o sucesso. Sim, há muita evidência que sugere que a gratidão sincera tem poder.
A gratidão ilumina nossa escuridão, alivia nossos fardos, aquece nosso coração, alegra nossos dias. Ela nos protege e nos cura. E, que melhor livro, muito melhor do que autoajuda, poderia haver para nos levar a descobrir, cultivar e praticar essa atividade benéfica, do que a atemporal Bíblia Sagrada? O livro dos Salmos, nela contido, é cheio de hinos e orações de gratidão a Deus, não apenas pelo bem recebido, mas por Sua natureza — pela bondade de Deus, por Sua retidão, verdade, misericórdia e justiça que são eternos; por Ele ser onipresente e todo-poderoso.
A Bíblia também está repleta de relatos de pessoas cuja vida foi transformada pela gratidão, a qual fez com que superassem as dificuldades e tivessem sua saúde restaurada. Gosto muito do relato do Antigo Testamento acerca de Jacó que, sentindo-se sozinho e desprovido de todo o bem, exilado e a caminho de Harã, teve a visão de uma escada (ver Gênesis 28). (Mesmo que estejamos nos sentindo distantes de Deus, Sua graça sempre nos alcança.) Nessa escada, chegou até Jacó um anjo, ou seja, um pensamento de Deus — com a promessa divina de que Deus estaria com Jacó onde quer que ele fosse, que nunca o abandonaria, cuidaria dele e o traria de volta à sua terra.
Essa mensagem revigorante, vinda diretamente de Deus, foi tão inspiradora que gerou um voto imediato de Jacó. Ali mesmo, Jacó fez o voto de que Deus seria o Deus dele, se fizesse tudo aquilo. Entretanto, Jacó não ficou esperando pelo cumprimento dessas promessas. Daquele momento em diante, Deus foi o seu Deus e ele se considerou parte do “povo de Deus”. Seu caráter se transformou. Mais tarde, quando retornou para corrigir a relação com seu irmão, Esaú, diz a Bíblia que Jacó viu o rosto do irmão “como se tivesse contemplado o semblante de Deus”. Eles choraram e se reconciliaram (ver Gênesis 33:1‒10).
No Novo Testamento, a gratidão de Cristo Jesus era tão instintiva que ele se voltava continuamente ao Pai celestial com amorosa gratidão e isso fez com que desse glória a Deus em tudo o que realizava. Ao ler os quatro Evangelhos, não pude deixar de perceber que Jesus, geralmente, agradecia a Deus primeiro, não esperava até receber a bênção para agradecer, sempre confiando totalmente na bondade infinita de Deus.
Antes de alimentar as 5000 pessoas, Jesus agradeceu a Deus, o Espírito, a fonte infinita e provedora de todo o bem. Depois de agradecer, ele alimentou a multidão com cinco pães e dois peixes; todos ficaram satisfeitos e ainda sobrou comida (ver Lucas 9:10‒17).
Ele agradeceu a Deus antes de ressuscitar a Lázaro (ver João 11:41, 42). E na última ceia com seus discípulos, Jesus primeiro agradeceu a Deus e depois compartilhou o penoso cálice e o pão (ver Lucas 22:17‒19).
“Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” (Tessalonicenses 5:18) é o ditado da Bíblia. É um conhecer e amar a Deus conscientemente pelo que Ele é e por aquilo que Ele faz pelo homem. É ver que “As Tuas mãos em tudo estão, E tudo em Tuas mãos” (Samuel Longfellow, Hinário da Ciência Cristã, 134, tradução © CSBD).
Esse amor profundo e bem fundamentado por Deus vem naturalmente a cada um de nós, e aumenta cada vez mais, à medida que crescemos em nossa compreensão acerca dEle — Sua infinitude, constância, atenção, certeza. Essa gratidão não pode ser uma fabricação. Ela é, verdadeiramente, um profundo sentimento que vem do coração; é muito mais do que mera emoção humana momentânea, porque há por trás uma compreensão sólida como uma rocha.
Mary Baker Eddy, que fundou esta revista, sabia disso muito bem. Ao ler as biografias dela, não pude deixar de notar que, independentemente do grau da dificuldade dos desafios que enfrentava (e houve muitos), o pensamento dela não se prendia a “qual a profundidade do poço, qual a dimensão do meu problema”, mas voltava-se conscientemente para “como é grande o meu Deus, aqui mesmo, agora mesmo, ao meu lado”.
E isso a estimulava a comprovar cada vez mais a promessa da Bíblia: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações” (Salmos 46:1). Tudo aquilo que nega a presença, o poder e a bondade de Deus é mentira (uma ferramenta do diabo, o mentiroso) sem nenhuma realidade, não importa o quanto pareça ser real e grande . Então, que mais eu diria a respeito da gratidão?
Gratidão é mais do que agradecer pelas bênçãos de Deus; é o agradecimento profundo pelo próprio Deus — por Sua presença aqui e agora, por Sua bondade e onipotência, e pelo fato de Ele ser Tudo.
A gratidão é mais do que uma atitude mental, é uma elevação do pensamento que entroniza a Deus em nossa consciência e a mantém tão preenchida por Ele, que não sobra espaço para o desânimo, nem para nenhuma das outras ferramentas do diabo.
Agora eu sei por que e como “A gratidão e o amor devem reinar em todo coração todos os dias de todos os anos” (Mary Baker Eddy, Manual dA Igreja Mãe, p. 60). Render diariamente graças a Deus, simplesmente por Ele ser Deus, tem prioridade máxima.
Publicado anteriormente como um original para a Internet em 25 de setembro de 2017.
