O ministério de Cristo Jesus, conforme registrado nos Evangelhos, foi uma demonstração de imensa compaixão, amor e cura para toda a humanidade. No entanto, em pelo menos um exemplo, pode-se ter a impressão de que Jesus não foi amoroso e até mesmo de que foi severo para com os membros de sua própria família.
Em um dos relatos no Evangelho (ver Mateus 12: 46–50), uma grande quantidade de pessoas estava ao redor de Jesus para ouvir seus ensinamentos espirituais. Ao mesmo tempo, a mãe de Jesus e seus irmãos queriam falar com ele. A multidão que o rodeava era aparentemente tão densa que sua família não conseguiu chegar até ele, mas alguém no meio dessa gente toda passou uma mensagem informando a Jesus que sua família desejava vê-lo.
Como foi que Jesus respondeu a esse chamado da família? Você talvez possa imaginar que ele diria à multidão: “Por favor, desculpem-me por um momento; eu só preciso atender a um chamado da minha família. Afinal, família é algo precioso!” Não teria sido um gesto afetuoso?
Mas, e se Jesus estivesse no meio de uma explicação fundamental e achasse que, para com seus ávidos ouvintes, não seria amoroso interromper abruptamente o que estava ensinando? Se fosse esse o caso, talvez ele pudesse ter dito algo como: “Digam à minha mãe que não posso falar com ela agora, mas que voltarei para casa assim que terminar o que estou fazendo”.
Mas não foi isso que Jesus disse ou fez. Jesus respondeu, fazendo esta declaração surpreendente: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E, estendendo a mão para os discípulos, disse: Eis minha mãe e meus irmãos. Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu irmão, irmã e mãe”. E mais tarde, ele traz à baila novamente o assunto família, dizendo à multidão que o ouvia: “A ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque só um é vosso Pai, aquele que está nos céus” (Mateus 23: 9).
Será então que Jesus estava sendo severo, em vez de amoroso, para com sua família? Pode parecer que sim, mas fica claro pelo conjunto completo dos ensinamentos de Jesus que seu amor era universal, abrangendo não apenas os membros de sua família, mas toda a humanidade. E é bom lembrar que mais tarde, quando Jesus estava na cruz, providenciou para que o discípulo “a quem ele amava” cuidasse de sua mãe (ver João 19: 25–27). Portanto, suas declarações sobre família devem ter indicado uma expressão de amor para toda a humanidade e uma revelação da verdade espiritual.
O que Jesus estava realmente ensinando nessas duas declarações tinha a ver com a necessidade de transmitir o senso espiritual correto de família. Jesus ensinou que nossa origem não está na matéria, mas em Deus, o Espírito. É por isso que na oração que ele nos deu, que chamamos de Oração do Senhor, ele se dirigiu a Deus como “Pai nosso”, porque nossa origem está em Deus. Mary Baker Eddy observou no livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras: “Jesus não reconhecia nenhum vínculo da carne” (p. 31). Jesus se recusou a reconhecer que a união de um homem mortal e uma mulher mortal pudesse ser a fonte do nosso existir real. Ele reconhecia apenas uma causa, Deus, e apenas um efeito dessa causa inteiramente boa, o homem (cada um de nós). Deus é a fonte do nosso existir e nosso único Genitor verdadeiro.
Em Ciência e Saúde, a Sra. Eddy especifica, de uma forma ainda mais clara, a nossa origem espiritual: “Na Ciência o homem é gerado pelo Espírito. O belo, o bom e o puro constituem sua ascendência. Sua origem não está no instinto bruto, como a origem dos mortais, e o homem não passa por condições materiais antes de alcançar a inteligência. O espírito é a fonte primordial e suprema do seu existir; Deus é seu Pai, e a Vida é a lei do seu existir” (p. 63). Ela também escreveu, em um capítulo posterior: “Pai-Mãe é o nome da Deidade, que indica a terna relação que Ele tem com Sua criação espiritual” (p. 332).
Ao identificar a fonte de nossa existência como puramente espiritual, puramente divina, estamos reconhecendo nossa natureza e identidade verdadeiras como também puramente espirituais, e não materiais. Assim, nós nos recusamos a aceitar uma identidade material, que inclui as assim chamadas doenças e pecados materiais, como algo que tem a ver com nossa verdadeira identidade.
As teorias humanas sobre hereditariedade afirmam que podemos sofrer de certos traços psicológicos ou físicos ou de doenças que nossos pais ou antepassados sofreram no passado. Se não estivermos vigilantes, podemos permitir que essas teorias sobre hereditariedade afetem nossa maneira de pensar e nossa experiência, estabelecendo uma suposta causa para que soframos no presente.
O amor de Jesus era universal, abrangendo não apenas os membros de sua família, mas toda a humanidade.
Mas quando Jesus se recusou a reconhecer os pais mortais como sendo a fonte do nosso existir, ele estava realmente mostrando à humanidade o caminho para vivenciar a libertação dos inúmeros males associados às crenças na hereditariedade e em uma causa que não seja Deus, o bem. Nosso verdadeiro existir, que tem sua fonte em Deus e não em genitores mortais, não pode sofrer das chamadas doenças hereditárias, que não são herdadas de Deus. Portanto, vamos nos recusar a concordar com as falsas crenças na hereditariedade, afirmando e compreendendo que nossa única herança real é divina.
Nós realmente temos um Pai. Nós realmente temos uma Mãe. Sim. A fonte do nosso existir e da nossa identidade é o nosso divino Pai-Mãe Deus, o Princípio divino, que é o Amor.
Devido a essa herança divina, cada um de nós inclui e pode expressar as qualidades de Deus, tais como força, domínio, inteligência, criatividade e amor. Essas qualidades, e todas as infinitas qualidades espirituais de Deus, têm origem em nosso Pai-Mãe Deus e estão incluídas em nossa natureza como a reflexão, o reflexo de Deus. Essa é a nossa verdadeira e preciosa herança.
Referindo-se a essa herança divina, Jesus disse: “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste” (Mateus 5:48). Como os amados filhos de Deus, nós realmente refletimos todas as qualidades ilimitadas de Deus e refletimos a perfeição de Deus.
À medida que melhor compreendermos nossa herança divina, nossa vida refletirá ainda mais essa realidade e essa perfeição espirituais, de modo que essa compreensão nos ajudará a prevenir e aliviar o sofrimento, como também a curar.
Uma noite, nossa filha pequena acordou apresentando sintomas de que estava doente. Meus filhos haviam antes disso vivenciado muitas curas físicas por meio da oração, por isso, era natural eu recorrer novamente a Deus, em oração, para encontrar conforto e cura.
Enquanto eu orava pela minha filha, o membro da família em cuja casa eu estava hospedado, que não era estudante da Ciência Cristã, decidiu ligar para um pediatra do plantão noturno para descrever os sintomas. O médico fez algumas recomendações e pediu que levassem a criança ao pronto-socorro, caso as coisas não melhorassem rapidamente.
No entanto, essas recomendações não foram necessárias porque, ao final do telefonema, minha filha já havia adormecido pacificamente. Portanto, eu a coloquei de volta na cama. Ela dormiu durante toda a noite e acordou feliz na manhã seguinte. Os sintomas haviam diminuído significativamente, embora parecesse que as funções corporais normais ainda lhe causassem algum desconforto. Então, eu a consolei o melhor que pude e continuei a orar.
Em minha oração, a ideia que me veio ao pensamento foi muito clara: Deus, o bem, é seu único Pai. Isso significava que sua identidade, seu existir e sua saúde dependiam de Deus, o bem, a fonte de seu existir. Tomei consciência de que meu trabalho era compreender que ela era totalmente cuidada por Deus. Depois de alguns minutos orando dessa maneira e cedendo ao fato de que Deus era o pai da minha filha, eu me senti completamente em paz. Pouco depois, minha filha conseguiu ter novamente as funções corporais normais sem sentir dor. Ela exclamou com alegria: “Eu já sarei; não dói mais!” Nós nos regozijamos juntos, e esse foi o fim do problema, que nunca mais se repetiu. Ela estava totalmente curada.
Ao nos recusarmos, como Jesus, a reconhecer quaisquer vínculos da carne e, em vez disso, reconhecer o nosso único Pai-Mãe real como Deus, não estamos sendo severos em relação à nossa família humana. Podemos e devemos amar e cuidar deles, na verdade, melhor ainda, porque sabemos que também eles são filhos de Deus. Ao mesmo tempo, estamos afirmando e compreendendo que nossa própria identidade é espiritual. E essa compreensão espiritual traz cura tanto para nós como para toda a família humana.