Não faz muito tempo, deparei-me com uma passagem no livro A Unidade do Bem, de Mary Baker Eddy, que me fez parar para pensar.
Referindo-se a Maria Madalena, quando esta foi até o túmulo de Cristo Jesus depois da crucificação, e encontrou a pedra removida, a Sra. Eddy escreve: “Maria havia se elevado a ponto de discernir tenuemente a presença eterna de Deus e a de Sua ideia, o homem; mas seu senso mortal, enxergando o inverso da Ciência e da compreensão espiritual, interpretou esse aparecimento como sendo o Cristo ressuscitado” (pp. 62–63).
Eu sempre pensei sobre a ressurreição de Jesus como algo realmente grandioso, um triunfo do Espírito sobre a carne e uma prova monumental, a demonstração da Ciência divina. E certamente o foi. No entanto, de repente passei a ver a ressurreição sob um ponto de vista novo. Fiquei impressionada diante do pensamento de que a ressurreição de Jesus foi simplesmente a demonstração da sua identidade espiritual como o Cristo; e que, para Deus, esse não foi um “acontecimento”, assim como o nascer do sol não é um acontecimento para o sol. Compreendi que realmente grandioso é o discernimento da presença eterna de Deus, uma compreensão de que nós somos um com a Mente divina. Foi esse discernimento que deu lugar às curas que Jesus realizou, à ressurreição, e que o levou à ascensão.
À medida que eu refletia sobre essas ideias, meus pensamentos se voltaram para a lição bíblica da Ciência Cristã da semana da Páscoa, que incluía um relato reduzido da crucificação de Jesus, com breves menções, até mesmo frases rápidas, narrando os acontecimentos. Primeiro entregaram Jesus a Anás e a Caifás, depois a Pôncio Pilatos, e em seguida o crucificaram. Mas naquela mesma seção, ao lado dessa história de desgraça e escuridão, havia a narrativa sobre o outro lado da história, com mais luz e esperança: José de Arimateia pede o corpo de Jesus e o coloca em um sepulcro, dando assim a Jesus um lugar seguro para continuar a orar e desenvolver sua salvação, “a questão do existir”, conforme mencionada nos escritos da Sra. Eddy.
Aprendemos no livro de Mary Baker Eddy, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, que Jesus continuou consciente quando estava no túmulo, sentindo a presença eterna de Deus e aceitando os pensamentos da Mente divina (ver pp. 44–45). Ele continuou a estar em comunhão com Deus, desse modo, mesmo depois de as mensagens angelicais de inspiração, provenientes de Deus, haverem removido a pedra (a pedra que representa o senso enraizado da solidez da matéria). E ele continuou a estar em comunhão com Deus mesmo depois de haver saído do túmulo, ressuscitado. Isso levou à ascensão, quando os capítulos e episódios da sua história humana cessaram definitivamente.
O que me impressionou, dessa vez que li o relato, foi a rapidez com que a história da crucificação estava narrada na Lição, e como estava nos ajudando a compreender que esse não era o grande evento final que aparentava ser. E que nos estava ajudando a ver que, em realidade, deveríamos nos concentrar na história da luz que estava brilhando, que estava fora daquela história de desgraça e escuridão. À medida que seguimos essa linha de luz, somos levados a subir realmente bem mais alto, ainda mais alto do que aquela narrativa de esperança da ressurreição, e ver a ascensão como o mais elevado, o supremo evento. Jesus não parou diante do acontecimento que mostrava um corpo mortal ressuscitado, nem ficou preso a isso, mas permaneceu com a compreensão espiritual da presença eterna de Deus; e isso, inevitavelmente, continuou a dissipar a história mortal, até que ele alcançou a ascensão.
Não estava isso confirmando, então, o que eu havia lido no livro A Unidade do Bem? Quando Maria chegou ao sepulcro de Jesus, teve um vislumbre da presença eterna de Deus como a soma total do existir. É isso o que importa! E mesmo assim, quando viu Jesus, vivo e andando, na carne, ela se satisfez em aceitar que esse fosse o “grandioso acontecimento”.
À medida que eu analisava em maior profundidade o texto em torno daquela notável passagem do livro A Unidade do Bem, acima citada, encontrei esclarecimento mais amplo dessa ideia: “Na Ciência, o Cristo jamais morreu. No senso material, Jesus morreu e viveu. O Jesus carnal pareceu morrer, mas não morreu. A Verdade, a Vida, na Ciência divina — imperturbada pelo erro humano, o pecado e a morte — diz para sempre: ‘Eu sou o Deus vivo, e o homem é Minha ideia, nunca na matéria, nem ressuscitado da matéria’. ‘Por que buscais entre os mortos ao que vive? Ele não está aqui, mas ressuscitou’ (Lucas 24:5, 6). O senso mortal, confinando-se à matéria, é a única coisa que pode ser sepultada ou ressuscitada.
“…O Caminho, a Verdade e a Vida nunca estiveram ausentes, nem por um momento. Essa trindade do Amor vive e reina para sempre. Seu reino, que não é visível ao senso material, nunca desapareceu para o senso espiritual, mas permaneceu para sempre na Ciência do existir. O chamado aparecimento, desaparecimento e reaparecimento da presença eterna, na qual não existe variação ou sombra de mudança, é o falso senso humano daquela luz que resplandece nas trevas, e sobre a qual as trevas não prevalecem” (ver pp. 62–63).
De novo meus pensamentos se dirigiram para algo que consta no livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde, e que sustenta essa interpretação. Tinha a ver com Jesus, ao ressuscitar Lázaro de entre os mortos: “Jesus disse de Lázaro: ‘Nosso amigo Lázaro adormeceu, mas vou para despertá-lo’. Jesus restabeleceu Lázaro pela compreensão de que Lázaro nunca havia morrido, e não por admitir que seu corpo havia morrido e depois voltara a viver. Se Jesus tivesse acreditado que Lázaro havia vivido ou morrido no corpo, o Mestre teria se colocado no mesmo plano de crença em que estavam aqueles que haviam sepultado o corpo, e não o poderia ter ressuscitado” (p. 75). Em outras palavras, a ressurreição para a vida, tanto a de Jesus, como a de Lázaro — ou, na verdade, qualquer retorno à saúde humana normal, estabilidade financeira, melhoria nos relacionamentos etc. — não é a meta, mas sim a visão natural, suave, uma visão inevitável e mais clara da presença divina, eterna, que não é apenas um evento de grande importância, mas sim a única realidade que existe.
Com isso em mente, começamos a ver que, em nossa demonstração da Ciência Cristã, talvez seja uma grande cilada pensarmos que restaurar o bem-estar material seja nosso principal objetivo, em qualquer circunstância, em vez de nos elevarmos para discernir “a presença eterna de Deus e a de Sua ideia, o homem”. Ciência e Saúde diz: “A determinação de manter o Espírito nas garras da matéria é o que persegue a Verdade e o Amor” (p. 28). É como se a mente carnal nos tentasse constantemente a continuar pedindo ao Espírito que faça algo na matéria, ao invés de adorar a Deus como o Tudo-em-tudo. Essa abordagem mais espiritual traz o progresso e a cura necessários para a nossa experiência atual.
Mas então, apesar de bem intencionados, por mais que tentemos insistentemente, por mais dedicados que estejamos, tendo como objetivo principal ajudar alguém a se livrar da dor, a conseguir um emprego, ou a encontrar um relacionamento amoroso, nós nos desviamos desse rumo correto. Essa abordagem começa com uma história material finita, com personagens mortais, um período de tempo, eventos, e a dualidade de alegrias e tristezas, como nosso paradigma para a existência. Podemos orar até à exaustão a partir dessa premissa, mas ela já está presa ao domínio da matéria, ou à finitude, e não pode se elevar acima do finito. Como Ciência e Saúde o coloca: “A água da fonte não pode fluir a um nível acima da nascente” (p. 18). E a nossa verdadeira fonte, a nossa origem, é o Espírito, portanto, é a partir daí que temos de começar a oração.
Então, que tipo de abordagem devemos adotar para resolver esses problemas? É sempre a de nos chegarmos a Deus. Consiste em adorar a pura e sagrada verdade de que Deus é Um e Uno, e é Tudo. É isso o que engrandece e honra, e chega até mesmo àquela fusão com Deus. A Sra. Eddy explica: “Viver de maneira a manter a consciência humana em constante relação com o divino, o espiritual e o eterno, é individualizar o poder infinito; e isso é a Ciência Cristã” (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany [A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, e Vários Escritos], p. 160). Ela também escreve: “Tu tens simplesmente de preservar um senso científico, positivo, de unidade com tua fonte divina, e demonstrar isso todos os dias” (Pulpit and Press [Púlpito e Imprensa], p. 4).
Simplesmente? Nem sempre parece fácil ou simples preservar um senso científico, positivo, de unidade ou de ser um com a nossa fonte divina, a Mente divina. Ainda assim, acho cada vez mais encorajador ver que todas as complexidades da trama mortal são apenas uma tática, tal qual a usada por um mágico a fim de montar um malabarismo de complicações que lhe permita enganar o público por meio de seu truque.
As complexidades mortais tendem a desviar nosso pensamento de preservar esse simples senso de ser um com Deus. Elas tendem a rebaixar nosso senso de recorrer a Deus, com o intento de solucionar um monte de problemas ainda não resolvidos. Isso seria “manter o Espírito nas garras da matéria”, e de fato perseguir ou minar a nossa prática da Ciência Cristã. Paulo advertiu os cristãos: “...receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo” (2 Coríntios 11:3).
Então, como é que tudo isso se relaciona com nosso trabalho de sanadores na Ciência Cristã? Pois sabemos que era isso o que nossa Líder, Mary Baker Eddy, esperava que fôssemos. Ouvimos tantas vezes o chamado de que precisamos fazer um melhor trabalho de cura, porque foi sobre essa base que nosso movimento foi estabelecido e só sobre essa base é que ele continuará a prosperar. A mente carnal, ou o acusador, é a perseguidora da Verdade, e tentaria manter dentro do âmbito da história mortal esse chamado para sermos melhores sanadores. Isso nos levaria de forma sutil a nos concentrar no rápido crescimento do movimento da Ciência Cristã graças aos relatos de cura espetaculares durante o final do século XIX, como se isso fosse a ressurreição da Verdade. Faria com que víssemos o movimento alcançar a maturidade em meados do século XX. E depois nos faria dizer que o sol está agora se pondo sobre nosso movimento. Se realmente nos apegarmos a esse paradigma de uma história da Ciência Cristã, com começo e com meio, vai parecer que a estamos vendo declinar e terminar.
Nós estamos agora mesmo em solo sagrado, no reino dos céus, na presença eterna de Deus!
Mas, assim como para o sol não há nenhum evento chamado nascer do sol ou pôr do sol, para a Verdade, Deus, não há nenhuma história do seu começo, meio ou fim, pois existe apenas a Verdade. “Para a Verdade não existe erro — tudo é a Verdade” (Ciência e Saúde, p. 475).
Em vista disso, a única maneira de realizar um melhor trabalho de cura é deixar que a nossa adoração a Deus impulsione nosso trabalho de cura — levando-nos a lutar contra aquele senso de ego que está preso ao mundo, sob todas as suas formas, e a nos elevar a uma comunhão tão pura com Deus, a ponto de também nós estarmos conscientes da presença eterna de Deus. O fato de que isso elimina a alegação de que exista uma outra presença, pode ser chamado de cura, ou desaparição das crenças do mal. Mas, repetindo o que já foi dito, esse não é o objetivo, mas sim o subproduto de se adorar a Deus de maneira pura e sagrada.
Há alguns anos, vivenciei um exemplo convincente desse trabalho de cura. Na escola da nossa filha informaram que havia um surto de uma doença contagiosa. Nossa filha começou a ter os sintomas preocupantes que nos haviam sido descritos. Estávamos orando fervorosamente como havíamos aprendido na Ciência Cristã, para ver essa querida filha como a imagem e semelhança perfeita de Deus, e esperávamos bons resultados. Também estávamos recebendo ajuda do meu pai, que era Praticista da Ciência Cristã registrado no Journal. Compartilho essa informação específica devido ao que ele nos disse na noite em que a cura ocorreu.
Meu pai veio à nossa casa, para visitar a menina. Logo que entrou, ele nos disse: “Meu trabalho não consiste em pôr em ordem a vida dos mortais, mas sim adorar a Deus. Se alguém quiser fazer isso, pode ficar enquanto eu estou trabalhando. Se não, podem sair do quarto”.
Ora, eu sabia que meu pai amava essa neta tanto quanto nós a amávamos. Ele não estava querendo dizer que ele não se importava com resultados e com uma restauração a uma condição saudável, ou que ele queria algum tipo de controle pessoal — pelo contrário. Ele estava dizendo que sabia por experiência própria que só Deus é a Vida e que a maneira de curar essa imposição sobre a segurança e o bem-estar da nossa filha como a expressão da Vida consistia em reconhecer essa vida e aferrar-nos a Deus como a Vida.
Meu pai rejeitou a crença de que havia uma história mortal oscilante e uma presença e poder que não fossem de Deus, o que pode levar a tentativas fúteis de prolongar a saúde de uma pessoa. Para o meu pai, aceitar essa crença seria desonrar a Deus. Ele estava defendendo a posição de que a Vida é eterna, imutável e sempre presente, e sua oração incluía saber que a saúde e a harmonia de nossa filha estavam para sempre asseguradas e protegidas nessa Vida imutável, assim como a luz do sol está segura no sol.
Que alívio foi isso para mim! Meu pai havia desmascarado o principal erro, o mais sério equívoco na minha forma de orar. Eu havia sido sutilmente enganada e levada a ter como ponto de partida a imagem de uma criança que precisava ser curada, e eu estava sentindo medo e insegurança, pensando que eu não sabia o suficiente para ajudar nossa filha. Mas esse era um ponto de partida errado. O que eu realmente sabia fazer era adorar e honrar a Deus. Eu sabia como estar em humilde comunhão com Deus e sentir aquela doce libertação de enxergar e raciocinar a partir do ponto de vista do qual o Amor divino, o Pai-Mãe Deus, enxerga toda a Sua criação. Essa era a premissa correta para a oração, e eu percebi que estava removendo todo o medo de uma só vez. Pude ver que nossa filha estava a salvo exatamente naquele momento. O que eu estava sendo levada a fazer era não ter outros deuses, e a amar a Deus com todo o meu ser.
Meu pai ficou conosco durante cerca de uma hora. Nossa filha dormiu serenamente durante todo esse tempo. Na verdade, ela continuou dormindo a noite toda, mas eu não estava com a menor vontade de dormir. A luz dessa adoração a Deus, singular e pura, foi tão clara que eu ansiei por ver tudo e todos a partir desse ponto de vista. Eu comecei com nossa filha, até que senti a certeza absoluta da sua perfeição espiritual. Então, pensei em cada um dos membros da família, e o pensamento foi se enveredando pelo caminho, abraçando nossa cidadezinha, a faculdade próxima que fica no topo da ladeira, o rio que flui até a cidade vizinha, e daí ao mundo afora, até que senti essa luz da Vida a circundar todo o universo. Eu vi que tudo era luz!
Finalmente durante as primeiras horas da madrugada fui dormir. Quando nossa filha acordou de manhã, ela se levantou totalmente renovada e com muita alegria tomou um café da manhã completo. Nunca mais houve qualquer outro sintoma ou evidência da doença.
Estou constantemente aprendendo esta lição: Deus não é apenas muito importante, mas é unicamente Deus o que importa, ou seja, a única Vida que existe e o tudo que existe da Vida. A forma como esse fato abrange nossa experiência humana na cura não consiste em pôr em ordem a vida, mas sim em interpretá-la corretamente a partir do ponto de vista da própria Mente. Graças à renúncia ao ego e a uma visão mais ampla do fato de que Deus é Tudo, nós nos elevamos à compreensão de que somos um com a Mente. Ganhamos vislumbres da eterna presença de Deus, e isso exclui qualquer coisa diferente de Deus. Vemos a harmonia de Deus, brilhando claramente em nossa experiência diária, dispersando as névoas do pecado, da doença e da morte. Mas temos de estar alerta para não fazer disso uma simples agenda, mas sim o inevitável e suave subproduto daquilo que é real, ou seja, a própria consciência divina, que oferece “um vislumbre antecipado da eternidade” (Ciência e Saúde, p. 598).
Compartilhemos nossos testemunhos de cura, destacando esses momentos de consciência divina; e deixemos que, paralela e necessariamente, desapareçam as crenças do mal no nosso pensamento; e deixemos que nossa experiência seja compartilhada como algo tão natural e necessário como a escuridão dando lugar à luz. Afinal, nós estamos agora mesmo em solo sagrado, no reino dos céus, na presença eterna de Deus!
