Aprendi em minha vida que, por mais doloroso ou complicado que possa parecer o passado, ainda podemos chegar a viver uma vida saudável, pacífica, livre de preocupações ou vergonha, quando vemos o bem permanente de Deus, o Amor divino e nos aferramos a esse fato.
Cometemos muitos erros, mais vezes do que gostaríamos de admitir. Então, à medida que avançamos na vida, talvez agarrando-nos a arrependimentos, uma de nossas asas pode tentar voar rumo às nuvens, mas a outra, machucada, bate no sentido descendente, e caímos. Para poder alcançar o céu, ou seja, a harmonia, é preciso curar a asa ferida, para que com ambas possamos voar no mesmo ritmo, em voo ascendente.
Muitos de nós talvez tentemos esconder nossa asa machucada, para não deixar que os outros saibam que estamos passando por uma tempestade pessoal de solidão, dúvida e escuridão. Mas constatei que, mesmo em meio a essa tempestade, há um lugar tranquilo na consciência, onde podemos encontrar paz. Esse lugar tranquilo é como uma joia e, embora escondida no meio do caos, está sempre disponível para ser encontrada.
Deus, nosso divino Pastor, está sempre presente para nós quando, como ovelhas, podemos às vezes nos desviar do caminho. O que é que Deus vai fazer, quando essas ovelhas perdidas finalmente encontrarem o caminho e seguirem o Pastor? Ele vai Se alegrar! Sabemos que isso é verdade — e que Deus não vai simplesmente nos empurrar de volta ao rebanho. Sabemos, porque Cristo Jesus assim nos disse. Na verdade essa foi a essência da resposta que Jesus deu aos seus oponentes, quando eles perguntaram por que ele acolhia pecadores e comia com eles:
“Qual, dentre vós, é o homem que, possuindo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e vai em busca da que se perdeu, até encontrá-la? Achando-a, põe-na sobre os ombros, cheio de júbilo. E, indo para casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. Digo-vos que, assim, haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento” (Lucas 15:4–7).
Por que há tanta alegria no reino dos céus? Porque quando ouvimos a mensagem do Amor divino — quando nos afastamos do pecado e o rejeitamos, e aceitamos e vivemos a verdade de que somos eternamente amados e inocentes, filhos espirituais de Deus — nós nos tornamos bons cristãos, que amam a Deus de todo o coração, alma e mente, e amamos os outros como amamos a nós mesmos.
Quando chegamos a conhecer o Cristo, a ideia espiritual de Deus, então o Cristo enche de alegria o nosso coração. A Descobridora da Ciência Cristã, Mary Baker Eddy, escreveu sobre Cristo Jesus: “Pela grandiosidade de sua vida humana, ele demonstrou a Vida divina. Graças à amplitude de seu puro afeto, ele definiu o Amor” (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 54). Jesus definiu esse Amor, Deus, para todos nós. Quando, por meio da oração, sentimos o Amor divino, é o dom da graça de Deus que está sendo suavemente concedida a cada um de nós, por sermos os preciosos filhos espirituais de Deus.
Essa graça me ajudou a sentir o amor de Deus durante uma época em que eu estava me precipitando no tumulto de uma vida turbulenta. Eu estava lidando com uma “tempestade” interior que eu tinha a certeza de que ninguém podia ver exteriormente. Muitas coisas me levaram até esse ponto negro em minha vida, e eu não sabia como escapar.
Por ter sido molestada quando criança, raramente eu namorava. Quando apareceu uma proposta de casamento, orei por uma resposta. Senti-me levada a não me casar com esse pretendente, mas, insensatamente, acabei casando. Descobri que, embora meu marido me amasse, ele estava lidando com suas próprias tempestades e sofrendo sozinho. Ele se tornou infiel, passou a tratar-me de maneira abusiva e se tornou alcoólatra. Eu não achava que seria capaz de, sozinha, sustentar-me a mim e aos nossos quatro filhos, por isso permaneci ao lado dele.
Certo dia, depois que meus dois filhos mais velhos já não moravam conosco, eu me dei conta de que não podia mais continuar. Senti muita pena de mim mesma, e chorei. Antes disso, eu havia me consolado, pensando que, mesmo tendo um casamento conturbado, pelo menos eu tinha os meus lindos filhos. Mas nesse dia meu casamento pareceu tão tumultuado, a vida familiar tão instável, que nem isso me confortou. Pela primeira vez, pensei: “Se hoje eu pudesse escolher entre criar esses queridos bebês com o pai deles ou nunca me casar com ele ou conhecer meus filhos, eu escolheria esta última possibilidade”. Tive vergonha de pensar assim.
Eu estava no fundo do poço. Entretanto, mesmo assim, Deus estava me apoiando. A Bíblia The Message [A Mensagem] diz: “Bem-aventurado sois quando estais no fundo do poço. Quando há menos de vós, há mais de Deus e Seu governo” (Mateus 5:3, Eugene Peterson, The Message.
Eu balbuciei em oração: “Pai, eu acredito na vida eterna, e sei que, sem o pai deles e sem mim, esses filhos ainda existiriam eternamente como Tuas ideias espirituais. Mas eu não posso continuar com isto! Eu estou devolvendo esses filhos a Ti”.
Foi então que, calmamente, parei para ficar atenta e escutar. A mensagem que me veio, em oração, foi: “Querida! Em primeiro lugar, eles nunca foram teus filhos. Eles são Meus filhos, assim como tu és, e ele também é”.
Engoli em seco e respirei fundo. Foi então que, como aconteceu com Jonas quando finalmente escutou a Deus, fui arremessada para fora do ventre do peixe, para a terra firme (ver Jonas, capítulo 2).
Agarrei-me ao bem — ao bem de Deus, que é eterno e envolve a todos.
Durante os anos seguintes, eu me aproximei mais de Deus. Eu sabia que reconhecer meus filhos como filhos de Deus não significava que eu não tivesse a responsabilidade de cuidar deles, mas a mensagem que eu recebera, que incluía o reconhecimento de que meu marido era filho de Deus, foi difícil de encarar no início. Eu havia acreditado que a vítima era eu, e ele era o vilão. Parecia mais fácil acreditar que tudo era culpa dele e que eu estava desamparada.
Mas gradualmente comecei a admitir que eu precisava ver meu marido como Deus o vê, em sua verdadeira natureza espiritual, como um filho amado de Deus, livre de comportamentos destrutivos. Isso significava eu mesma dar-me permissão para, em minha compreensão espiritual a respeito do meu marido, separá-lo dos comportamentos destrutivos, sabendo que não faziam parte da verdadeira identidade espiritual dele. Comecei a vê-lo realmente como a verdadeira ideia de Deus, espiritual e sem pecado.
Em uma biografia de Mary Baker Eddy:, li este conselho que consta de uma carta que a Sra. Eddy escreveu a uma aluna: “Que o nosso julgamento finito nunca seja lançado sobre alguém que esteja nos perturbando, e que nunca tenhamos de nos defender contra uma pessoa. Melhor perguntarmos antes o que está nos perturbando, e em seguida enfrentarmos esse o quê” (Yvonne Caché von Fettweis e Robert Townsend Warneck, Christian Healer, Mary Baker Eddy, Amplified Edition [Mary Baker Eddy: Uma Vida Dedicada à Cura, Edição Ampliada], pp. 559–560). Enfrentamos o “o quê” identificando-o e tratando-o de forma impessoal, pois não faz parte da verdadeira identidade de uma pessoa, não faz parte da boa e verdadeira criação de Deus.
A compreensão dessa verdade aliviou a sensação do peso sobre meus ombros. E isso levou à libertação; os comportamentos destrutivos foram reduzidos ao nada que realmente eram, e eles desapareceram da minha vida. O casamento terminou, de forma tranquila e sem luta.
A batalha para mim consistia agora em curar-me da autocondenação. Eu era dura para comigo mesma, por não ter dado ouvidos à orientação de Deus antes do casamento. Mas lembrei-me de que o segundo dos dois grandes mandamentos identificados por Jesus é amar os outros como a nós mesmos (ver Mateus 22:39). Constatei que, à medida que eu me tornava menos crítica e mais amorosa para comigo mesma, tornava-me menos crítica e mais amorosa para com os outros. Ao expressar esse amor para comigo mesma e para com os outros, eu estava refletindo o Amor divino. Não foi fácil. Foi preciso trabalhar com muito afinco e devoção.
Em uma noite de verão, sob a lua cheia, fui passear com meus dois cães. De repente, paramos. Na minha consciência, o mais doce e carinhoso amor envolveu-me por inteiro — o amor de Deus. Acredito que os cães também o sentiram; eles ficaram perfeitamente quietos. Naquele amor eu senti um perdão total para comigo mesma, e perdoei o homem com quem me casara. Agarrei-me ao bem — ao bem de Deus, que é eterno e envolve a todos na sua verdadeira natureza espiritual. Uma paz absoluta passou a reinar suprema dentro de mim.
A Sra. Eddy, que teve sua parcela de experiências “tempestuosas”, escreveu em sua autobiografia: “É preciso revisar a história humana, e o registro material precisa ser totalmente apagado” (Retrospecção e Introspecção, p. 22). Gosto de pensar sobre minha história humana como revisada e o registro material, apagado. Antigamente, eu parecia gostar de rememorar toda a tristeza que se acumulara sobre mim. Mas agora entendo o poder de viver o tipo de vida que Cristo nos convida a viver. Como a Bíblia diz: “...para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos... Porque estáveis desgarrados como ovelhas; agora, porém vos convertestes ao Pastor e Bispo da vossa alma” (1 Pedro 2:21–25). Viver a vida semelhante à do Cristo inclui conhecer o eterno bem de Deus, compreender a realidade espiritual, e obedecer e amar a Deus. Esse tipo de vida é a joia da paz e do amor que estava sempre à espera de que eu a encontrasse.
Também fico feliz em dizer que mais tarde conheci um homem bom e amoroso, com quem me casei, e “os anos que foram consumidos pelo gafanhoto” me foram restituídos (Joel 2:25).
