Nos primórdios do Cristianismo, Saulo era para os cristãos um homem que infundia muito medo, era o principal inimigo. Tinha a reputação de tratar brutalmente todas as pessoas que seguiam os ensinamentos de Cristo Jesus, e essa fama o precedia aonde quer que ele fosse. Devido a essas perseguições, os seguidores de Jesus “…exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judeia e Samaria” (Atos 8:1). Um grande número de cristãos foi morar na cidade de Damasco, por isso Saulo para lá se dirigiu, determinado a capturá-los.
A caminho de Damasco, Saulo passou pela experiência mais transformadora de sua vida. Ouviu a voz do Cristo e, de repente, ficou completamente cego. Em meio à cegueira, ficou-lhe claro que estivera dedicando a vida a algo muitíssimo errado: a perseguição, que às vezes conduzia à morte, daqueles que seguiam o exemplo de Jesus.
A cegueira enfraqueceu Saulo por completo, e ele orou, perguntando: “O que queres que eu faça?” (Atos 9:6, conforme a Bíblia em inglês, versão King James). E ouviu a ordem de continuar a viagem a Damasco.
O resultado de obedecer ao chamado de Deus logo ficou claro.
Ao mesmo tempo, outra orientação divina estava sendo dada, de importância crucial, que não só causava surpresa, como possivelmente era aterrorizante. A pessoa que estava recebendo essa orientação chamava-se Ananias e morava em Damasco. Ananias era cristão, e sabia tudo a respeito de Saulo. Sabia também que era importante seguir as orientações de Deus ao pé da letra, mas essa ordem o estava pondo à prova ao máximo, estava sendo testado de uma maneira que não se comparava a nenhuma outra situação que já tivesse enfrentado.
Deus instruíra Ananias a não se esconder de Saulo, mas sim, a ir encontrar-se com ele e curá-lo da cegueira! Pela lógica e pelo raciocínio, seguir tal orientação pareceria imprudente; contudo, Ananias aquiesceu e o fez inspirado por um sentimento de graça, sim, um sentimento pleno de graça. O resultado de obedecer ao chamado de Deus logo ficou claro. As orações de Ananias curaram a cegueira de Saulo, e este, a quem o mundo posteriormente conheceria como Paulo, tornou-se um dos maiores amigos da Igreja Cristã. Seus conselhos e sua maneira de orar passaram a ocupar grande parte do Novo Testamento da Bíblia.
Devido às circunstâncias adversas da época, os cristãos haviam se mantido, por vezes, afastados da sociedade, praticando o Cristianismo de modo reservado. Mas depois desse evento surgiram mais e mais igrejas cristãs em grande parte do mundo mediterrâneo. A orientação de Deus fora clara, mas Ananias precisou estar disposto a segui-la. Reconhecendo esse tipo de coragem, o Hino 278 do Hinário da Ciência Cristã inclui estas linhas: “Graça [para seguir em frente*], alento, vontade sincera, / Obediência à voz do Senhor” (P. M. Adaptada, Diretoria da Ciência Cristã). [*Conforme a versão original em inglês desse hino]
Podemos ver algumas semelhanças da nossa época com a dos primeiros cristãos. É frequente os membros das igrejas hoje constatarem que suas atividades e o desejo de chegar à comunidade não são realmente recebidos de braços abertos. Contudo, assim como Ananias, todos nós possuímos “Graça [para seguir em frente,] alento, vontade sincera”, sejam quais forem as circunstâncias.
Precisamos saber exatamente qual será a orientação de Deus? Não. O que importa é nossa disposição em segui-la, com alegria e inspirados por um sentimento de graça. Esse desejo, esse estado de graça, é um indicativo de nosso crescimento espiritual. A obediência a Deus sempre nos purifica e nos dá uma visão nova do bem de Deus.
Assim como aconteceu com Ananias e com Paulo, só Deus é que guia os passos que temos de dar a seguir. Nosso papel é simplesmente reconhecer essa orientação vinda de Deus, e agir de acordo; nenhum passo para diante tem origem em nós, pessoalmente.
Vejamos um exemplo: um grupo de Cientistas Cristãos em uma pequena cidade começou a orar para que Deus os orientasse a respeito da possibilidade de patrocinar uma conferência para presidiários em uma prisão da localidade. Perguntaram se eu faria essa palestra, na qualidade de conferencista da Ciência Cristã.
Quando o grupo entrou em contato com as autoridades do presídio, logo ficou evidente que não éramos bem-vindos. O capelão do presídio achou que eu poderia enfraquecer os pontos teológicos com os quais ele vinha trabalhando com os presidiários. Os Cientistas Cristãos continuaram a orar em busca de orientação e, para sua surpresa, sentiram-se ainda mais motivados a seguir em frente com a realização da conferência. Conversamos mais algumas vezes com o capelão do presídio e, embora com alguma reserva, ele permitiu que se realizasse a conferência.
É complicado ir a lugares onde não somos bem-vindos, e essa não foi uma exceção. Todavia, eu sabia que podia seguir o chamado de Deus e seguir em frente, movido por um sentimento de graça. Pedi ao capelão que me apresentasse ao público, e não só isso, mas também pedi que ele lhes dirigisse a palavra por aproximadamente dez minutos, trazendo ao pensamento as ideias que haviam alimentado suas orações nos últimos tempos. Ele concordou.
As palavras do capelão se tornaram o trampolim para uma experiência incrível. Lembrei-me da passagem da Bíblia, em que Deus diz: “Como fruto dos seus lábios criei a paz…” (Isaías 57:19). Deus fez exatamente isso quando chegou minha vez de falar ao grupo. Com as ideias que Deus deu a todos nós, fomos abençoados com percepções tão inspiradoras, sanadoras e transformadoras que, ao final, o capelão levantou-se de um salto e me deu um abraço. O público aplaudiu e todos nos sentimos muito unidos.
Podemos estar passando por um período difícil. Contudo, como Ananias, podemos nos manter a postos para agir e seguir em frente com base na orientação de Deus. Podemos sentir e expressar mais gratidão e graça, não como emoções humanas, mas como manifestações vigorosas de nosso compromisso de agir com um amor mais profundo por tudo o que Deus é.
Mary Baker Eddy, que fundou a Ciência Cristã, certa vez observou, com sabedoria: “A purificação mental tem de prosseguir: promove o crescimento espiritual, escala a montanha do esforço humano e atinge o pináculo da Ciência, o qual não pode ser atingido de nenhuma outra forma — onde a luta contra o pecado está terminada para sempre” (Miscellaneous Writings [Escritos Diversos] 1883–1896, p. 41). Podemos com alegria dar testemunho de como é salutar e fortalecedor obedecer, com um sentimento de graça, ao chamado que Deus está fazendo, não apenas a cada um de nós, mas a todo o planeta.
