Acaso a expressão “direito de primogenitura” soa como um conceito antiquado que já não tem nenhuma relevância hoje em dia? Talvez, embora uma compreensão de seu significado possa virar o jogo.
Na Bíblia, o direito de primogenitura era um privilégio de grande importância, que levava a uma posição de poder. Concedido ao primeiro filho homem, dava-lhe o direito de suceder o pai como chefe da família e de receber uma dupla parte dos bens do pai. Também lhe dava a posição de liderança espiritual. The Interpreter’s Bible [A Bíblia do intérprete] explica: “Aquele que o detinha [o direito de primogenitura] deveria ser o representante da família não somente perante os homens, mas perante Deus” (Vol. 1, p. 725).
Um relato no Gênesis nos conta a respeito de um jovem chamado Esaú, que se envolveu com a vida mundana de sua época e se perdeu, desconsiderando a abordagem espiritual de sua família para com a vida, as tradições e o valor de seu direito de primogenitura. Certo dia, Esaú chegou de uma caçada e quis comer um pouco do cozido que seu irmão Jacó, o gêmeo mais novo, havia preparado. Aproveitando a oportunidade, Jacó disse: “…Vende-me primeiro o teu direito de primogenitura” (Gênesis 25:31). Esaú, parecendo indiferente, não deu o devido valor ao bem que possuía e concordou de bom grado. Os historiadores sugerem que certamente a mãe desses gêmeos, Rebeca, tinha outro alimento mais adequado para os dois comerem, mas Esaú comeu sem demonstrar nenhum arrependimento pela troca que acabara de fazer. Anos mais tarde, perdeu outro privilégio: seu pai foi enganado e levado a dar a Jacó a bênção que era de Esaú.
Apesar da revelação que Rebeca recebeu de que era o propósito de Deus que Jacó continuasse com o direito de primogenitura espiritual por gerações futuras, a história parece sugerir que, quando desistimos de nosso direito de primogenitura, que é inato, as bênçãos que se seguem, como prosperidade e proteção, também se tornam vulneráveis.
Com o advento de Cristo Jesus, e mais recentemente com a descoberta da Ciência Cristã, por Mary Baker Eddy, as ideias metafísicas se desdobraram, iluminando a consciência humana. Por meio dessas ideias, passamos a compreender que cada um de nós, como filhos e filhas de Deus, possui o direito de primogenitura, nosso direito inato — o direito a um relacionamento compreensível com nosso Pai-Mãe Deus. Esse privilégio não depende de ordem de nascimento, sexo, cultura ou raça.
Referindo-se a cada um de nós como a ideia espiritual de Deus, ou “homem”, a Sra. Eddy escreve: “Quando entendermos o verdadeiro direito inato do homem, ou seja, de que ele nasceu, não ‘…da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus’, compreenderemos que o homem é o progênito do Espírito, não da carne; reconheceremos o homem por meio de leis espirituais, não materiais; e o consideraremos espiritual, não material” ( Escritos Diversos 1883–1896, p. 181).
No livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, a Sra. Eddy explica também que, como ideias espirituais de Deus, cada um de nós pode vivenciar o poder do nosso direito inato. “O homem não é feito para lavrar a terra. Seu direito inato é domínio, não servidão. Ele tem domínio sobre a crença em terra e céu — sendo que ele mesmo está subordinado unicamente a seu Criador. Essa é a Ciência do existir” (pp. 517–518).
Domínio, não servidão, parece maravilhoso, mas domínio sobre o quê? Nosso direito inato nos dá o senso espiritual para compreender que temos domínio sobre tudo aquilo que seja dessemelhante de Deus, que é totalmente bom. Permite-nos raciocinar a partir do fato de que Deus é Tudo, para enfrentarmos a crença de que vivemos em duas realidades, dois universos paralelos — a matéria e o Espírito. Nosso direito inato nos dá o poder para compreender que não somos mortais finitos, presos na armadilha das limitações, estereótipos e estatísticas. Pelo contrário, somos filhos e filhas de Deus, livres, e existimos a partir do ponto de vista de oportunidades irrestritas, saúde e felicidade.
Nosso direito inato, por sermos o reflexo de Deus, o Princípio divino, nos dá domínio, não servidão.
Nosso direito inato como ideias amadas de Deus, a Mente infinita, nos dá domínio sobre todo tipo de medo e pensamentos obscuros, como frustração, depressão, cinismo ou “pensamento coletivo”, em vez de servidão a eles. Como descendentes da Mente inteligente, temos domínio sobre o medo às doenças, aos acidentes ou a uma imaginação excessivamente preocupada ante o medo de que algo ruim possa acontecer conosco ou com um ente querido.
Reivindicar nosso direito espiritual inato quando temos de tomar decisões financeiras nos dá esperança e domínio sobre as crenças de um senso finito do bem, que cria o estresse e traz a ameaça de redução da renda, desemprego e perda de moradia. Quando assim reivindicamos nosso direito espiritual, podemos compreender que nosso Pai-Mãe Deus é infinito e nos supre de maneiras superabundantes que não são nem podem vir a ser restringidas pelas circunstâncias humanas.
Como filhos e filhas do Amor divino, que conhece todas as nossas necessidades e cuida de nós, possuímos o direito inato que nos dá domínio, não servidão, sobre uma mentalidade vitimada ou vilã, sobre um passado onde houve abuso, ou um relacionamento tóxico. Temos domínio sobre o ódio, o bullying ou a crítica severa.
Nosso direito inato por sermos o reflexo de Deus, o Princípio divino, nos dá domínio, não servidão, sobre todo tipo de propensão ao mal, que inclui o orgulho, a vontade própria, a sensualidade, e os desejos prejudiciais ou autodestrutivos.
Recentemente, tive a oportunidade de reivindicar meu direito inato com relação à minha saúde, quando estava viajando por um país em desenvolvimento. Fôramos alertados sobre a água e os alimentos da ilha, que não eram considerados bons para o consumo. Mais ou menos uma semana após o início da viagem, comecei a lutar contra sintomas descritos, relacionados a bactérias tóxicas.
Ao orar a respeito, dei-me conta de que tinha o direito inato, como cidadã do universo de Deus, de desfrutar de toda a Sua criação. Dei-me conta de que eu estava livre para explorar, abraçar e desfrutar do belo universo de Deus. Rememorei todas as inúmeras gentilezas que recebemos na viagem e como estávamos cientes da presença do Amor divino. Insisti mentalmente na verdade de que o Amor era a realidade, que estava presente e neutralizava qualquer senso ou crença em veneno.
Eu sabia que esse era o fato espiritual e que era meu direito inato dado por Deus, de vivenciar os efeitos dessa Ciência divina. Dentro de um dia, os sintomas agressivos desapareceram do meu pensamento e, portanto, da minha vida.
A Sra. Eddy declara: “A Verdade, pisoteada sobre a terra, brota espontaneamente e sussurra para a brisa o direito inato e inalienável do homem — a Liberdade!” (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany [A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, e Outros Textos], p. 128).
Você também tem esse direito inato, que é a liberdade e tudo o que vem com ela — paz, saúde, vitalidade, abundância, esperança, discernimento, pureza e a liberdade de viver a vida em sua plenitude, de amar e ser livremente amado. Você pode, todos os dias, em oração, proteger seu direito inato, reconhecendo a Deus e seu relacionamento com Ele. Como filhos do Deus onipotente, podemos ser muito gratos por nosso direito inato ter sido estabelecido para sempre. Podemos estar despertos e alertas e não trocar por qualquer outra coisa nosso conhecimento a respeito de Deus e Seu amor por nós, e reivindicar, proteger, honrar, valorizar e demonstrar nosso direito inato dado por Deus.
