Considerar serenamente este ensinamento de Jesus: “…sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas” (Mateus 10:16), pode restaurar a paz em situações que anteriormente haviam sido inquietantes. Pode ajudar a eliminar a presunção de uma retidão pessoal ou a autocondenação que interromperiam nossa legítima harmonia. Nem sempre é fácil ter essa postura mental no calor de uma situação agitada, mas constatei que sempre se pode voltar atrás e reconsiderar o caso.
A Ciência Cristã nos ensina que a lei de Deus, o Amor divino, é suprema. Essa lei realmente governa a todos, o tempo todo. Reconhecer esse fato em oração nos capacita a ver e vivenciar a eterna harmonia do Amor, o Princípio divino.
Na primavera do ano passado, o governador do estado em que moro abriu os parques, com ingresso gratuito, durante a pandemia. Minha família e eu sempre comprávamos ingressos para as trilhas, para praticar ciclismo nas montanhas. O lugar se tornara um santuário para mim, e fiquei perturbada com o inesperado fluxo de pessoas de fora da cidade, muitas das quais, caminhando gratuitamente pelas trilhas, pareciam ignorar o comportamento que se esperava nesse lugar, como, por exemplo, cada um ensacar seu próprio lixo.
Em um dia particularmente agitado, fiz uma curva rápida e dei com uma caminhante no meio da trilha, ajoelhada, tirando foto de alguma coisa. Embora eu tivesse encontrado muitos caminhantes aos quais cortesmente eu cedera passagem naquele dia, nesse caso tive uma troca de palavras que não foi nada agradável. A caminhante olhou para mim e berrou, em tom que me pareceu acusatório: “Esta trilha é para caminhar”, e eu gritei de volta, ao passar rapidamente por ela: “Não é não, é para praticar ciclismo”.
Inicialmente, me justifiquei pelo que eu dissera, mas também achei horrível o modo como havia dito aquilo. Na verdade, a trilha serve para ambos: para caminhar e praticar ciclismo. Eu sabia que precisava repensar toda a situação e vê-la pelos olhos do Amor divino.
Ao confrontar críticas muito mais severas, Jesus não respondeu no mesmo tom das provocações, nem reagiu aos que se opunham a ele. Com mansidão e humildade, ele deu provas de que o poder da presença do Amor divino nos capacita a enfrentar um ambiente hostil com um senso de liberdade, paz e amor. “Como posso fazer para ser assim?”, pensei eu. “Como posso ser símplice como a pomba?”
Em silenciosa oração, percebi que Jesus jamais olhou para alguém como se fosse um pecador. Ao contrário, ele via a todos como a criação ou expressão do Amor, Deus. Então, compreendi que eu posso agir, agora mesmo, como fazia Cristo Jesus! Essa foi uma maravilhosa revelação. Podemos redimir os erros do passado ao perceber, no presente, que o Amor divino é Tudo.
Mentalmente, repassei toda a situação com aquela caminhante, e por meio do raciocínio espiritual, substituí a lembrança de uma desagradável troca de palavras pelo reconhecimento de que a harmonia do existir espiritual estava verdadeiramente presente. Eu sabia que, do ponto de vista de Deus, não há mente acusatória. Só existe a Mente divina, que é o Amor. Agir ou reagir de um modo não amoroso não faz parte da natureza de ninguém, pois essa natureza é dada por Deus. Ao saber isso, não apenas pude me redimir, mas também pude redimir meus pensamentos sobre essa outra pessoa, mediante o poder transformador do Amor.
Decidi amar essa caminhante de um modo espiritual, ou seja, vê-la como perfeita filha de Deus, capaz unicamente de um comportamento pacífico e amoroso. Também entendi que minha natureza espiritual é semelhante só a Deus, portanto, sou naturalmente amorosa, inclinada a ter atitudes de dar, beneficiar, ter gratidão e compaixão, não de egoísmo ou possessividade e ingratidão.
Sob esse prisma, entendi que essa caminhante era plenamente merecedora de estar nessas trilhas em meio à natureza, apesar da opinião humana de que eu gostava mais quando tinha todas essas trilhas só para mim!
Depois que adotei essa nova perspectiva, senti a paz e o amor de Deus plenamente me envolvendo. Ao dirigir de volta para casa, após o passeio na trilha, percebi tangivelmente a beleza da presença do Amor divino e tudo o que eu via parecia iluminado por uma suave e cálida luz. Retornei àquelas trilhas depois desse incidente e tive paciência, compreensão, humildade e um sentimento de graça.
No poema intitulado “Amor”, Mary Baker Eddy, a Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã, menciona “aves que, a gorjear” voam e cantam juntas no mesmo ramo da árvore. A Sra. Eddy assinala: “A flecha má não vem, Senhor / De quem vigia e tem amor” (Poems [Poemas]). O apóstolo Paulo faz uma observação semelhante, ao descrever o amor, o puro amor espiritual, como aquele que “não se exaspera” (1 Coríntios 13:5). Ao seguirmos essa ideia do amor, descrito por Paulo e expresso por Cristo Jesus em tudo o que ele dizia e fazia, também nós podemos ser símplices como as pombas. Então, veremos a lei do Amor em ação, abençoando a nós e a todos ao nosso redor.
