No fim de semana do casamento de uma amiga, o tema da Lição Bíblica, lida no culto dominical da Ciência Cristã, era “Denunciadas a necromancia antiga e a moderna, isto é, o mesmerismo e o hipnotismo”. O culto fazia parte da programação do casamento, como um dos eventos do fim de semana, por isso dois convidados que não conheciam a Ciência Cristã estavam presentes. Sentada no banco à frente deles, durante o culto, fiquei preocupada com a possibilidade de que a linguagem ou o tema soassem estranhos para eles.
Após o término, virei-me e pedi-lhes que dissessem sinceramente o que haviam achado do culto. Eu estava preparada para observações educadas, mas talvez questionadoras. Eles, contudo, pareciam realmente satisfeitos. Um deles disse: “Isso é exatamente o que eu senti toda a minha vida e nunca consegui colocar em palavras”. O outro concordou.
Esse foi um despertar para mim! E acabou com qualquer noção limitada de como os corações podem ser tocados pela Ciência Cristã. Mary Baker Eddy descreve essa Ciência como “ardente de Amor divino” (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 367). Nada mais natural, então, que alguém receptivo ao abundante bem de Deus sinta arder o coração, quando tocado por esse bem, como aconteceu com aqueles dois convidados naquele domingo, na igreja.
Vemos nisso o eco daquelas pessoas mencionadas na Bíblia, cujo coração ardeu ao ser tocado pelo bem de Deus — desde a mulher que sofria de hemorragia havia 12 anos e se introduziu em meio à multidão para ser curada por Jesus (ver Mateus 9:20–22) até o homem junto ao tanque Betesda, o qual tinha o desejo sincero de ser livre e ansiava pela cura havia décadas (ver João 5:1–9). A receptividade deles ao amor sanador de Jesus indica uma disposição semelhante à das crianças para serem transformados por Deus em novas criaturas. Jesus ensinou isto: que a menos que nos tornemos como criancinhas, não entraremos no reino dos céus (ver Mateus 18:3).
Tornar-se como uma criança é estar aberto às ideias que transformam nossa vida, é voltar-se a Deus com inocência e em adoração. É estar expectante, ansiar por receber o bem e as bênçãos. O livro-texto da Ciência Cristã fala dessa receptividade: “A disposição de tornar-se como uma criança e de deixar o velho pelo novo faz com que o pensamento seja receptivo à ideia avançada” (Ciência e Saúde, pp. 323–324).
Como aqueles visitantes na igreja, quando nos deparamos com novas ideias que nos inspiram, não precisamos nos esforçar para deixar o velho e sentir arder o coração. A inocente disposição de adorar e reverenciar as coisas do Espírito — as coisas de Deus — nos permite obter uma ideia avançada e encontrar uma inspiração renovada.
O que fazer, quando não sentimos nosso coração arder, na igreja ou na vida de modo geral? Quando alguns discípulos de Jesus estavam a caminho de Emaús, estavam desanimados, rememorando os eventos recentes, nos quais o homem que pensavam ter vindo para salvar a nação acabara crucificado. No entanto, quando Jesus se aproximou deles, após a ressurreição, e com eles conversou, sentiram tão claramente o toque do Cristo, a verdadeira compreensão de Deus, que disseram que lhes ardia o coração (ver Lucas 24:32). Eles despertaram e relembraram o que Jesus lhes havia ensinado.
João Batista havia dito a respeito do Cristo: “Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mateus 3:11). A purificação espiritual pelo fogo sagrado da Verdade não apenas faz a distinção entre o senso errôneo e a verdade, mas também destrói a mentira da mortalidade, do pecado, da desarmonia e da morte. O Cristo nos habilita a sentir o poder e a vitalidade de Deus, o Amor divino, e essa luz não pode ser extinguida.
Lemos sobre o Cristo, em Ciência e Saúde: “Essa ideia imaculada, representada primeiro pelo homem e, de acordo com o autor do Apocalipse, por último pela mulher, batizará com fogo; e esse batismo de fogo queimará a palha do erro com o calor ardente da Verdade e do Amor…” Esse batismo queima a escória da vida material para iluminar “o ouro do caráter humano” (ver p. 565) — do homem enquanto expressão espiritual, espontânea e imutável de Deus, ardente de Amor divino. E nos sentimos renovados e revigorados, assim como a floresta que sofreu uma queima controlada, com a finalidade de provocar melhor crescimento.
Essa regeneração faz arder nosso coração com o amor de Deus por meio da inocente humildade. Traz uma alegria que não tem nenhuma insegurança; traz a espontaneidade de um pensamento novo; uma perspectiva confiável; o anseio de perdoar e amar.
Jesus demonstrou inocente humildade em sua atitude para com Deus, seu Pai, em sua disposição de abandonar o mortal pelo divino, depender de Deus com absoluta confiança, insistir na plenitude da alegria. Essas qualidades são naturais a todo filho de Deus. Elas não ficam estagnadas, não desaparecem, não podem ficar soterradas debaixo de comportamentos habituais.
A inocência como a de uma criança, a qual torna nosso coração receptivo à Verdade divina, não é criancice. A verdadeira inocência infantil é uma repreensão à criancice que é essencialmente amor ao ego e que resiste à mudança, apega-se às suas próprias opiniões e se opõe a deixar o velho pelo novo. No entanto, à medida que a consciência humana cede ao Cristo, nós renunciamos a tudo aquilo que é material e encontramos a disposição de abandonar velhas crenças e velhas formas de pensar. A Ciência do Cristo muda nosso ponto de vista, daquilo que é mundano e está estagnado, para a vitalidade da vida no Espírito e do Espírito.
A convicção comum de que a vida seja mortal tende a fazer com que nos apeguemos tenazmente a crenças errôneas, simplesmente porque nos são conhecidas, e faz com que resistamos à inspiração e compreensão espirituais. Essa atitude procura fugir da inquietação que novas ideias e novos pontos de vista podem causar, contudo, novas maneiras de pensar e agir baseadas no Espírito não causam nenhuma perturbação. Elas anulam o erro; não aquilo que é verdadeiro ou expressa o bem. Talvez tenhamos de nos esforçar para abandonarmos a tendência de seguir por onde o pensamento mortal nos leva e, em vez disso, nos entregarmos à busca por ideais espirituais. Mas é um esforço que resulta em mais paz e harmonia.
As qualidades de Deus estão continuamente sendo renovadas e desdobradas de maneiras cada vez mais abrangentes. À medida que nutrimos o desejo de vivenciá-las, assim como uma criança anseia por aprender a dar novos passos, percebemos mais a harmonia e o governo de Deus. Podemos vivenciar o reino de Deus, aqui e agora, e sentir nosso coração arder por tudo o que o Amor está nos proporcionando a todo momento.
Larissa Snorek
Redatora-Adjunta
