Quando começou a guerra entre Ucrânia e Rússia, meu coração ficou apertado. “O mundo não precisa de outra guerra!”, protestei. Estava angustiado com o desenrolar das cenas de conflito armado, ainda mais com um governante que parecia exercer enorme influência sobre uma grande população, fazendo-a acreditar que a guerra era necessária.
Ao orar em busca de uma compreensão espiritual que me levasse a ser uma influência sanadora, a recomendação de Jesus Cristo “amai os vossos inimigos” (Mateus 5:44) veio-me com força ao pensamento. Contudo, como colocá-la em prática era uma questão difícil. Como posso amar uma pessoa cujas decisões fazem com que milhares de pessoas sofram e morram? Devo ignorar o mal perpetrado e fazer vista grossa às suas consequências? Eu queria uma resposta.
Levando em consideração o que eu sabia sobre como Jesus enfrentava o mal, ficou evidente que seu conselho de amar os inimigos não era uma recomendação para que ignorássemos os atos maldosos. Jesus não ignorou o mal. Ele o enfrentou sem medo e o derrotou com sua compreensão acerca do poder de Deus. Derrotou inimigos da vida e da saúde com a Verdade e o Amor. Salvou multidões do sofrimento, removendo de sua vida a influência do pecado, da doença e da morte. Salvou-se daqueles que pretendiam destruí-lo. Amar, de acordo com Jesus, não significava ignorar o mal, mas aniquilá-lo.
“Deus é amor”, escreveu um autor do Novo Testamento (1 João 4:8). O amor que Jesus pregava, vivia e demonstrava era o amor de Deus. Esse amor não é somente um sentimento bom. É muito mais do que pensamentos positivos e atitudes gentis. É o poder divino, o poder de Deus em ação, mantendo a justiça e defendendo o direito divino à saúde, à felicidade e à vida.
Com relação ao cenário mundial, vi que quando Jesus nos ensinou a amar nossos inimigos, ele estava nos instando a reconhecer o poder de Deus em ação, exatamente onde parece haver um inimigo em ação. Ele não estava nos ensinando a ignorar, mas sim a nos envolver. Ele queria que participássemos com o amor de Deus, de maneira tão veemente que qualquer ameaça de mal vinda do inimigo fosse dissolvida pelo amor de Deus e se tornasse inofensiva.
Encontramos provas de que esse método de cura funciona, na resposta de Jesus ao governador romano, Pilatos, que o estava interrogando antes da crucificação. Pilatos ameaçou Jesus com a pergunta: “Não sabes que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te crucificar?” A ameaça que Pilatos representava ao bem-estar físico de Jesus era óbvia. Mas Jesus respondeu: “Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada…” (João 19:10, 11). Ele não se deixou intimidar pela ameaça de Pilatos. Não ficou com raiva, medo ou ressentimento. Ele calmamente respondeu a Pilatos com a verdade espiritual sobre o governo de Deus, lembrando-o do simples fato de que ele não tinha nenhum poder que não viesse de Deus. Porventura, naquele momento, não estava Jesus amando Pilatos com o amor espiritual e impessoal que tirou do inimigo toda suposta influência? Deus era o único poder em ação e Jesus sabia disso.
Jesus foi sentenciado à crucificação, mas seu pensamento não foi crucificado. A compreensão que ele tinha da supremacia do bem sobre o mal deu-lhe poder para triunfar sobre a decisão ignorante de Pilatos e sair vivo do túmulo, três dias depois. Isso selou uma vitória sobre o mal que depois disso inspirou legiões de pessoas a se levantarem destemidamente contra inimigos perigosos. A onipotência de Deus tinha, e tem, a palavra final.
Podemos ainda hoje colocar em prática o exemplo de Jesus. Amar nossos inimigos é deixar claro que Deus é o único poder, e que não somos intimidados por nenhuma alegação de que o mal tenha poder. É provar a suprema realidade do universo de que o Amor, Deus, é Tudo-em-tudo e que o mal não ocupa lugar, poder ou posição sob o governo de Deus. Assim como a luz elimina a escuridão onde quer que brilhe, a onipresença do Amor elimina a aparência do mal em todo lugar onde o Amor atua. O Amor não conhece nenhuma outra autoridade, nenhuma outra influência, nenhuma outra causa ou efeito. Na onipresença do Amor, o Amor é Tudo. Não há nenhum inimigo a temer, para se preocupar, para ressentir. Só há o Amor.
Mary Baker Eddy escreveu: “O mal não tem realidade. Não é pessoa, nem lugar, nem coisa, mas é simplesmente uma crença, uma ilusão do senso material” (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 71). O mal aparenta ser real e parece estar agindo sob a forma de uma pessoa que está cometendo ações maléficas. Mas em verdade, Deus nunca criou uma pessoa capaz de fazer o mal. Como Jesus ensinou, o mal é uma mentira e um mentiroso (ver João 8:44) independentemente de como se apresente. Nossa prática da Verdade exige que despojemos o mal da pretensão de ser uma pessoa recitando as mentiras do mal. Temos de ver que o mal não tem mente própria para tramar, executar ou ameaçar. Temos de honrar a Deus como a fonte de todo o poder.
Nunca é uma pessoa que precisa ser destruída, mas sim o mal que a pessoa está encenando. Todo senso de mal é eliminado pela consciência e demonstração da onipresença e onipotência de Deus. Podemos entregar a vivência de nosso “inimigo” à sabedoria e ao cuidado do Amor divino, que sempre sabe a melhor maneira de inspirar e reformar.
Seja enfrentando um tirano de alcance mundial, um líder político ameaçador, um chefe autoritário ou um familiar dominador, aplicamos a mesma regra de “amar o inimigo”, desarmando assim o suposto inimigo e tornando-o inofensivo. Na compreensão do Amor infinito, o mal se torna uma ameaça vazia, sem futuro, sem destino, sem curso de ação. Como Jesus provou com Pilatos, o mal talvez ameace por um tempo mas, na presença do poder de Deus, não consegue cumprir seus objetivos.
A recomendação de Jesus de amar nossos inimigos não tem nada a ver com fazer vista grossa ao mal e ignorar suas investidas. Significa pôr a nu o engano que é o mal, e privá-lo da pretensão de que tenha poder, afirmando que é Deus que tem todo o poder. Cristo Jesus nos ensinou a amar nossos inimigos porque sabia que essa era a única maneira de nos livrarmos deles. Em uma consciência repleta do Amor, só há a atuação do Amor a ser sentida, conhecida e vivenciada.
