“Se tem sangue, tem manchete” é um velho ditado no meio jornalístico. Acredita-se que as más notícias sejam mais interessantes, vendam mais jornais e atraiam mais telespectadores do que as boas notícias. Os sociólogos há muito têm observado essa atração pelas más notícias, uma tendência que faz parte daquilo que os psicólogos chamam de viés de negatividade.
Mas hoje em dia isso tomou uma dimensão muito maior. As imagens vívidas e detalhadas de eventos como tiroteios em massa e a tentativa de invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, parecem ter tido um efeito multiplicador, com atos similares sendo imitados e amplamente difundidos.
Existe a possibilidade de o mal se espalhar?
Há mais de cem anos, a Fundadora da Ciência Cristã, Mary Baker Eddy, fez esta observação: “A imprensa propaga inadvertidamente muita tristeza e doença na família humana” (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 196). Contudo, mais adiante na mesma obra, ela afirma: “Os pensamentos e propósitos maus não têm maior alcance, nem fazem maior dano, do que nossa crença permite”. E conclui: “Os maus pensamentos, a cobiça e os propósitos malévolos não podem ir, como o pólen errante, de uma mente humana para outra e ali encontrar alojamento sem serem percebidos, se a virtude e a verdade formam forte defesa” (pp. 234–235).
Nesses trechos, vemos tanto a identificação quanto a solução do problema. Quando os meios de comunicação difundem, entre todos os níveis de nossa sociedade interligada, descrições detalhadas de conflitos, há necessidade de oração — o reconhecimento e a convicção da onipresença e do poder do bem, do amor e do cuidado e proteção constantes de Deus.
Então, como podemos, com “a virtude e a verdade”, construir uma forte defesa? Uma das definições de virtude é “excelência moral”. É um valor ao qual todos podemos aspirar. Em realidade, muito mais do que aspirar: podemos começar a reconhecer que a virtude é um elemento de nossa verdadeira identidade e da verdadeira identidade de todos aqueles em quem pensamos.
Isso requer uma purificação consciente do pensamento. Começa com o reconhecimento de que a ideia generalizada da humanidade a respeito do mundo é de que este seja composto por uma mistura de mocinhos e bandidos — exatamente o oposto daquele mundo que Cristo Jesus nos convida a aceitar como nossa morada. Em realidade, Jesus é imperativo ao dizer: “Arrependei-vos” (ver Mateus 4:17) — de maneira que possamos rever radicalmente o modo como vemos o mundo. Uma tradução da Bíblia coloca a ordem de Jesus desta maneira: “Façam a mudança no coração — pois o reino dos céus já chegou” (J. B. Phillips, The New Testament in Modern English [O Novo Testamento em Inglês Moderno]).
Jesus recomenda que nos conscientizemos de um fato espiritual: o reino de Deus não só está perto, como está aqui. Já fazemos parte dele. Podemos começar a considerá-lo nossa morada. Desnecessário dizer que isso envolve uma forma radicalmente nova de compreender o mundo. Aliás, essa nova forma de compreender o mundo em que vivemos exige uma redefinição de como percebemos toda a realidade.
Essa redefinição é uma forma de oração — uma oração de descoberta. A descoberta de que o reino que Deus criou é perfeito e está sempre presente. Raciocinando a partir do simples e fundamental ponto de partida de que Deus, o bem infinito, é o único Criador, passamos a ser gratos por essa nova percepção de nosso mundo. Um mundo em que há um vigoroso desvendar de ideias e a expressão da beleza e originalidade — e no qual não existe nenhum conflito.
É um reino, consequentemente uma monarquia, com um único governante, Deus. E esse governante é identificado na Bíblia como o Amor (ver 1 João 4:8).
Agora podemos, em nossas orações, começar a entender e desvendar esse reino do Amor divino, nossa verdadeira morada. Nem precisa dizer que aqui “os maus pensamentos, a cobiça e os propósitos malévolos não podem ir” para lugar algum — não há espaço para o mal de qualquer tipo sequer aparecer, quem dirá se espalhar.
Se você já tentou alguma vez esse tipo de busca por meio da oração, provavelmente encontrou o que o apóstolo Paulo chama de “pendor da carne” (ver Romanos 8:7). Esse é o tipo de pensamento ao qual todos nós, por ignorância ou por vontade, acabamos por ceder em certo grau — é um padrão de pensamento pelo qual aceitamos que a realidade seja uma mistura de bem e de mal. É um viés de negatividade em grande escala. E é exatamente o oposto do tipo de abordagem mental que Jesus nos ensina a empregar.
A maravilhosa revelação que Jesus ensinou é que temos a capacidade de ver e vivenciar o reino de Deus agora, não em algum tempo futuro. Jesus queria que seus discípulos usassem o senso espiritual para “ver” o reino de Deus. Certa vez, ele manifestou grande frustração por seus discípulos não usarem o senso espiritual. Ele lhes perguntou: “Ainda não considerastes, nem compreendestes? Tendes o coração endurecido? Tendo olhos, não vedes?” (Marcos 8:17, 18). O Mestre não estava falando da visão física, mas de ver espiritualmente, ou seja, com o senso espiritual.
A Sra. Eddy identifica o senso espiritual como “…a capacidade consciente e constante de compreender a Deus” (Ciência e Saúde, p. 209) e como “…o discernimento do bem espiritual” (Ciência e Saúde, p. 505). O uso desse senso é a chave para entrar no reino de Deus, para tomar consciência de nossa verdadeira existência espiritual. Quando desenvolvemos esse senso e o usamos continuamente, não só entramos no reino de Deus, mas começamos a reconhecê-lo como nossa verdadeira morada, até mesmo como a verdadeira natureza do mundo e das leis que governam o mundo e a nós.
Certa manhã, anos atrás, eu estava, com alguns membros de minha igreja filial da Igreja de Cristo, Cientista, distribuindo revistas religiosas em um grande estacionamento. Antes de montar o que chamamos de “Sala de Leitura itinerante da Ciência Cristã”, nós oramos para nos lembrar de que nunca poderíamos estar fora do reino de Deus.
Em determinado momento, uma pequena gangue, que parecia considerar aquele local como seu território, começou a nos importunar. Um deles pediu uma revista específica, mas quando me virei para pegá-la, ele furtou minha carteira. Ao ser acusado pelo furto, deu-me um soco.
A lembrança de nossa oração preparatória para sentir espiritualmente nosso lugar no reino de Deus tornou toda a cena quase cômica para mim. Foi fácil para mim perdoá-lo imediatamente. Ficou claro para mim que éramos todos cidadãos do sempre presente reino de Deus. O poder, a presença e o controle de Deus estavam constantemente em ação, trazendo a correção.
O líder da gangue se aproximou, reconheceu que a carteira era minha e a devolveu, pedindo desculpas.
Como nosso grupo confirmou mais tarde, houvera a consciência constante de nosso lugar dentro do reino de Deus e do governo contínuo do Amor divino. Essa foi a base de nossa oração corretiva que trouxe a cura para toda a situação.
A oração é o fundamento não apenas da redução na propagação do mal, mas também da eliminação do mal e da crença nele. As manchetes podem ser sensacionalistas em relação a atos malignos e àqueles que os praticam. Mas o Amor divino e seu governo são nossa verdadeira morada. Sob o governo do Amor divino, os atos de bondade e compaixão se espalham com sensacional velocidade e com o poder de corrigir.
