A Bíblia de minha infância era um belo volume ilustrado, cuja caixa de veludo bordado de rosas, com um fecho de prata, emprestava-ihe um aspecto ainda mais importante. Era preciso uma chave para abri-la. E, simbolicamente, permaneceu fechada por muitos, muitos anos, exceto em raras ocasiões.
Jazia sobre uma mesa redonda no centro da sala de visitas, e a encarávamos com grande reverência, ao ponto de que uma vez minha mãe disse: “Como é que você se atreve a dizer, ou mesmo a Pensar tais coisas numa sala onde está a Bíblia! A Bíblia, ou você, terá de sair da sala.” Nada nos envergonhava mais do que esse tipo de repreensão.
A Bíblia era, decididamente, uma presença moralizante. Quando havia necessidade de disciplinar-nos, éramos conduzidos à sala de visitas e aí recebíamos o sermão, estando a Bíblia entre nós, crianças, e nosso pai ou mãe. Diziam-nos que o arrependimento era necessário, para poder haver perdão. E haveria o castigo de Deus, se não fôssemos honestos, pois Ele enxergava dentro de nossos corações.
A Bíblia também era fonte de consolo, em momentos difíceis. Assim como nos apoiávamos em nossos pais, em todas as circunstâncias, eles se apoiavam nas Escrituras, lendo esse livro com a reverência de quem está diante da própria presença de Deus. Não nos importava o fato de que o que ouvíamos fosse lido numa Bíblia em sueco. Não duvidávamos do valor daquilo que nos liam. Se não compreendíamos, traduziam para nós ao inglês, embora em linguagem simples. De uma maneira ou de outra, o conteúdo da mensagem propiciava o mensageiro adequado.
Para o indivíduo que assim aprendeu a considerar Deus como onipresente, onisciente, e como Aquele que tudo vê, como o revela a Bíblia, e a honrar a Deus com reverência, as duras experiências por que passaram meus pais em anos posteriores, despertaram profundas dúvidas. Eu tinha filhos pequenos, praticava uma religião protestante, na qual buscava respostas, e em certa ocasião encontrei-me agudamente angustiada — diante de dúvidas penetrantes. Por que um Deus amoroso, um Deus em quem confiamos e a quem obedecemos, permitia que meus pais sofressem tanto? Teríamos nós, meus filhos e eu, de passar pelo mesmo sofrimento?
O que poderia eu fazer por meus filhos, que meus pais não tinham feito por mim e por meus irmãos? “Ensina a criança no caminho em que deve andar” Provérbios 22:6;, dizia o conhecido versículo da Bíblia. Sempre me lembrarei de meu pedido desesperado: “Meu Deus, mas Como? Não sei como fazer!”
Quase um ano mais tarde, devido a circunstâncias especiais, o livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de autoria da sr.a Eddy, me foi dado de presente. Nele não reconheci, de imediato, a resposta a todas as minhas perguntas acerca de Deus. Mas esse livro era a chave, e abriu a Bíblia tão bem como a pequena chave do tempo de minha infância. A diferença, no entanto, era que agora não mais se poderia fechar de nova a Bíblia. A Ciência Cristã de tal modo iluminou as páginas sagradas, mediante a compreensão acerca de Deus, o Espírito divino, onipotente e onipresente, e de Seu universo espiritual e perfeito, governado pela lei divina, que a mensagem do ser imortal contida na Bíblia tornou-se clara e prática.
O mais importante foi que Ciência e Saúde me revelou que o mal não tem origem nem causa, não é real, é a mentira acerca de Deus, o qual é o Deus do bem, somente do bem. Mostrou-me que conhecer a Deus corretamente traz recompensas, em vez de punição, e, acima de tudo, traz domínio, na medida em que compreendemos e aplicamos Suas leis. Deus é Espírito, Sua criação é espiritual. As aparências cruéis da matéria têm de ceder, uma vez compreendida essa presença todo-inclusiva. Essas verdades sempre haviam estado na Bíblia, mas não haviam sido reveladas por meio de nenhuma das muitas traduções da Bíblia que eu havia estudado.
Num relance, percebi que os anos trágicos em nossa família não precisariam ter ocorrido, se tivéssemos tido a compreensão espiritual das Escrituras.
Por que, então, essa interpretação não veio à luz antes, na história da humanidade? Porque requeria a visão espiritual e a obra da vida da sr.a Eddy, cujo livro traduziu passagens bíblicas em termos de sua significação mais espiritual, para milhoões de pessoas.
Estudando intimamente a Bíblia, a sr.a Eddy foi forçada a elevar-se ao pináculo da descoberta espiritual, por uma amarga experiência de vida, por uma motivação intelectual perscrutadora, e por uma insistência intuitiva de que Deus é bom. Então, num momento de crise, foi curada fisicamente, como conseqüência direta da iluminação espiritual que lhe veio enquanto lia, nos Evangelhos, em espírito de oração, uma das curas efetuadas por Cristo Jesus. Imediatamente compreendeu o significado de sua visão da Verdade divina, e depois de vários anos de pesquisa a fim de assimilar o que havia visualizado, registrou suas conclusões em Ciência e Saúde — tarefa de extrema importância. Durante os trinta e cinco anos decorridos entre a primeira e a última edição, continuou a burilar e a aperfeiçoar sua obra. Seu esforço era, como diz o autor de uma de suas biografias, o de “fazer com que seu livro expressasse mais exatamente o que ela queria dizer, desvendasse mais perfeitamente a revelação que ela jamais duvidara lhe tinha sido dada por Deus.” Lyman P. Powell, Mary Baker Eddy: A Life Size Portrait (Boston: The Christian Science Publishing Society, 1950), p. 134;
Ela escreveu o seguinte, acerca da Bíblia: “A Bíblia foi meu livro de estudo. Respondeu às minhas perguntas acerca do modo como eu fora curada; porém as Escrituras tinham para mim um novo significado — uma nova língua. Sua significação espiritual apareceu; e pela primeira vez entendi o ensinamento e a demonstração de Jesus, em seu significado espiritual, bem como o Princípio e a regra da Ciência espiritual e da cura metafísica, — numa palavra, a Ciência Cristã.” Retrospecção e Introspecção, p. 25;
Sempre serei grata pelos benefícios de ter sido criada de maneira cristã, e pela influência da igreja durante meus anos de mais maturidade. Tudo isso foi uma preparação moral necessária para o desenvolvimento posterior da Ciência divina que foi trazida ao meu cristianismo. No começo de meu estudo da Ciência Cristã, a força da revelação da sr.a Eddy era especialmente clara para mim, na profunda verdade desta declaração: “Quando se conseguir o real que é anunciado pela Ciência, a alegria não mais tremerá e a esperança não mais enganará.... As idéias espirituais conduzem à sua origem divina, Deus, e ao sentido espiritual do ser.” Ciência e Saúde, p. 298;
O estudioso da Bíblia, munido do livro-texto da Ciência Cristã, acha esse estudo não só mais vibrante, como também mas prático. Adquire domínio sobre sua própria existência, à medida que se embebe das verdades reveladas e as utiliza. O novo reconhecimento de sua eterna filiação com o terno Pai o protege e melhora sua vida cotidiana.
Quando vejo meus netos aprendendo a compreender a “nova língua” do Espírito, e ao ver os efeitos da Ciência do Cristianismo nas vidas de tantos outros jovens, torna-se-me claro que a tradução espiritual das Escrituras, pela sr.a Eddy, é a maneira de se ensinar “a criança no caminho em que deve andar”. E o que a criança assimilou graças à aplicação diária das verdades da Bíblia em sua própria vida, a criança não perderá. Como poderíamos preferir a ignorância à compreensão comprovada, ou afastar-nos da presença viva desse amigo sanador, terno e consolador?
A esperança da sr.a Eddy era de que seu livro, graças a ter ela partilhado seu significado espiritual profundo, trouxesse o poder de Deus, revelado na Bíblia, às vidas de todos os homens. “O conhecimento, despido de inspiração, fornecido pelas traduções das Escrituras, conferiu pouco poder para se praticar a Palavra. Daí a revelação, descoberta e apresentação da Ciência Cristã — a Ciência do Cristo, ou a “nova língua”, sobre a qual profetizou Marcos — tornar-se um requisito na ordem divina. Nas asas céleres do pensamento espiritual, o homem se ergue acima da letra, da lei ou da moral da palavra inspirada, rumo ao espírito da Verdade, por meio do qual se alcanca a Ciência que demonstra Deus. Quando se lê e se compreende a Bíblia sob esse prisma, não há possibilidade de interpretá-la erradamente. Deus é passível de ser compreendido, conhecido e aplicado a cada necessidade humana.” The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany, p. 238.
