Durante uma viagem de trem, duas pessoas conversavam sobre um amigo comum e uma delas disse: “Ele realmente parece estar dotado de um sexto sentido.”
A isso respondeu o outro, pilheriando: “É possível; mas, por outro lado, certamente lhe faltam os outro cinco!”
Tomei parte, tal como os demais passageiros que estavam naquele vagão, da risada geral que brotara dessa pronta resposta, mas depois comecei a pensar sobre a expressão “sexto sentido”. Se ela se referisse ao sentido espiritual, naturalmente pouco teria a ver com os cinco sentidos materiais. Lembrei-me, então, de que no capítulo intitulado “Recapitulação”, no livro-texto Ciência e Saúde, a sr.a Eddy trata de uma porção de assuntos importantes, sob a forma de perguntas e respostas, e, começando à página 488, responde à seguinte pergunta: “Constituem os cinco sentidos corpóreos o homem?”
E sua resposta começa dizendo: “A Ciência Cristã sustenta, com prova imortal, a impossibilidade de existir algum sentido material e define esses pretensos sentidos como crenças mortais, cujo testemunho não pode ser verídico, nem com relação ao homem, nem com relação a seu Criador. Os sentidos corpóreos não podem tomar conhecimento da realidade espiritual e da imortalidade.”
Alguém poderia objetar: “Mas nós usamos, de fato, os sentidos corpóreos, e qualquer pessoa a quem falte um ou mais desses sentidos, fica muito prejudicada em seu viver diário. De que serve, então, considerá-los como crenças mortais?”
A sr.a Eddy diz o seguinte: “Embora afirmes serem os sentidos indispensáveis à existência ou à entidade do homem, tens de mudar o conceito humano da vida e, por fim, conhecerte a ti mesmo espiritual e cientificamente.” Ciência e Saúde, p. 359; Os sentidos corpóreos produzem o mal. O testemunho desses sentidos nunca é verdadeiro em um sentido absoluto. O homem real, espiritual, que foi criado “à imagem de Deus” Gênesis 1:27;, não pode ser discernido por meio dos sentidos materiais ou corpóreos. Ao ser humano, porém, esses sentidos parecem reais. Agimos e reagimos beseando-nos no testemunho que eles nos dão, e, freqüentemente, sob um ponto de vista humano, as coisas parecem resolver-se muito bem.
Ora, afinal “devemos mudar o conceito humano de vida” e compreender que, embora os sentidos nos mostrem o bem ou o mal, esses sentidos nunca são inteiramente dignos de confiança. Logo que os sentidos materiais nos informarem que estamos numa dificuldade, tal como doença, carência, solidão ou coisas semelhantes, devemos negar imediatamente esse testemunho. Veremos, então, que no problema não pode estar a verdade de nossa identidade espiritual, o homem real. Essa negação é o primeiro passo para a solução de um problema.
Estará isso de acordo com a Bíblia? Sim! Cristo Jesus indicou claramente que não se pode confiar nos sentidos corpóreos, e que eles não são suficientes para a importante obrigação de se conhecer Deus e a existência real e espiritual. No Evangelho de Marcos consta que, devido a suas crenças materiais, os discípulos de Jesus não compreenderam uma admoestação para que se guardassem do fermento dos fariseus e de Herodes, o que levou Jesus a dizer: “Tendo olhos, não vedes? e, tendo ouvidos, não ouvis?” Marcos 8:18;
Jesus identificava-se sempre com seu eu espiritual, o Cristo, que era invisível aos sentidos corpóreos dos discípulos. Os feitos de Jesus eram tais que constantemente contradiziam as assim chamadas leis da matéria, pois ele curava os doentes e restaurava a vista ao cego, o ouvido ao surdo e o uso dos pés ao coxo. Esses feitos serviram para ensinar os discípulos — e servem também para ensinar-nos — que os sentidos corpóreos, por aceitarem as falsas leis mortais, não são de confiança.
Que foi então que o Mestre deu a seus seguidores para que eles nisso se apoiassem em vez de se apoiarem no sentido material? Jesus ensinou a seus discípulos aquilo que, entre outras coisas, disse à mulher samaritana: “Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.” João 4:24; Isto é, Jesus ensinou-os que precisavam espiritualizar sua adoração, seu modo de vida e seus pensamentos. Ensinou-os a substituírem a adoração e a percepção materiais, adquiridas através dos sentidos materiais, pela adoração e a percepção espiritual.
À página 209 de Ciência e Saúde, encontramos a seguinte declaração: “O sentido espiritual é uma capacidade consciente e constante de compreender Deus.” Corretamente compreendido, esse sentido não é um sexto sentido a complementar os cinco sentidos corpóreos; é a única consciência real. Esse sentido torna os homens capazes de ouvir as mensagens da Mente imortal, de sentir a presença eterna do Espírito infinito, e de ver as idéias da Verdade e do Amor divinos a se manifestarem em toda parte. Os mortais, porém, precisam tornar-se conscientes desse sentido espiritual e esforçar-se para utilizá-lo constantemente.
No quinto capítulo da epístola de Paulo aos gálatas há uma orientação útil a todos os que desejarem aumentar seu sentido espiritual. Paulo estabelece o contraste entre o Espírito e a carne e fala sobre as obras da carne, fazendo completa distinção entre a carne e o “fruto do Espírito”. Esse “fruto do Espírito” parece ser ao mesmo tempo o resultado da utilização do sentido espiritual e o meio de cultivá-lo. O Apóstolo Paulo disse: “O fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio.” E acrescenta: “Contra estas coisas não há lei.” Gálatas 5:22, 23. Não significa isso que as qualidades espirituais mencionadas predominam sobre as assim chamadas leis da matéria?
“O fruto do Espírito” é, então, o meio pelo qual podemos constantemente aprender mais sobre a verdade acerca de Deus e de Seu universo espiritual, inclusive o homem. Essas qualidades são os meios que temos para cultivar o sentido espiritual.
Como Cientistas Cristãos talvez ouçamos e vejamos, na maior parte das vezes, as mesmas coisas que os materialistas vêem e ouvem; porém, apenas como um matemático e uma pessoa que não conhece matemática, vêem as mesmas coisas ao olhar para um quadro-negro repleto de fórmulas. O conhecimento da matemática e de suas leis fará uma diferença enorme para a compreensão de suas fórmulas e a conseqüente habilidade de usá-las de maneira prática. Assim também o Cientista Cristão que considera a existência de acordo com seu sentido espiritual, discernirá algo diferente e mais importante do que aquele que não está consciente desse sentido espiritual. A consciência espiritual ajudará o primeiro a obter a vitória sobre os problemas que somente os sentidos materiais criaram.
O fato de que o uso do sentido espiritual nos capacita literalmente a ver através do testemunho dos sentidos corpóreos e a contemplar a verdade que eles falsificam, não é tudo. O que é muito mais importante é o fato de que, ao cultivar o sentido espiritual, a consciência humana se modificará, de modo que até o testemunho dos sentidos corpóreos, daí por diante modificar-se-à devidamente. Esse é o segundo e último passo para a solução de um problema. Demonstra que o sentido espiritual é o único sentido real do ser.
