Ouve-se dizer que criticar é admitir que não somos capazes de discernir a presença do universo perfeito que Deus criou. Se isso é verdade, jamais nos sentiremos inclinados a criticar alguma coisa, já que, assim agindo, estaríamos revelando uma lacuna espiritual — uma cegueira — em nós mesmos.
Na vida diária, entretanto, não é de se esperar que alguém afirme que tudo está perfeito quando não está. Devemos ser capazes de discernir entre o bom e o ruim. A integridade não nos permite afirmar que ruim seja bom ou conceder as melhores notas a um trabalho de terceira categoria. E, se, complacentemente acreditamos que nós mesmos somos perfeitos, quando não o somos, estamos criando um sério problema para nós mesmos. Se há algo errado naquilo que nós fazemos, ou no que os outros fazem, precisamos criticar esse erro a fim de corrigi-lo, caso contrário, não nos será possível progredir.
É claro, portanto, que devemos aprender a criticar da melhor maneira possível, a fim de conseguir os mais altos padrões nos assuntos humanos. E a melhor maneira de fazê-lo é a maneira do Cristo. Nosso objetivo deve ser saber “desprezar o mal e escolher o bem” Isaías 7:15; à maneira do Messias, como profetizado na Bíblia.
Um dos primeiros requisitos quanto à crítica de caráter cristão, é que devemos manter-nos constantemente alerta a fim de conseguirmos descobrir nossos próprios defeitos e lançá-los fora. Só se vencermos nossas falhas e deixarmos que a nossa natureza perfeita e verdadeira à imagem de Deus apareça, é que seremos capazes de alcançar a harmonia do céu; por essa razão, presumivelmente, deveríamos ficar contentes se alguém nos acende a luz da crítica construtiva e nos mostra onde estamos errando, para que possamos melhorar. Entretanto, demasiadas vezes, não gostamos de receber críticas. Em geral, ficamos ofendidos. Nossa suscetibilidade é atingida, a justificação própria ensoberbece-se e é logo acompanhada de ira e autocomiseração. Com absoluta falta de lógica, cerramos nosso pensamento a qualquer aperfeiçoamento e suas recompensas.
Será, então, que sempre devemos aceitar com amabilidade as críticas pessoais, mesmo estando honestamente convencidos de que elas são cruéis e sem razão — até difamatórias? Será que devemos achar que temos carta branca para criticar outras pessoas sob o pretexto de que as estamos ajudando ao longo do caminho que leva ao céu? A resposta para ambas as perguntas é não. A crítica cristã é a única crítica válida e esta origina-se da compreensão do Princípio divino e inclui elementos convincentes de integridade e de amor. Baseada no primeiro mandamento, esta espécie de crítica repudia o mal e afirma a presença do bem. Em vez de ferir, ajuda a curar. Não irá contribuir ainda mais para a opressão de uma pessoa por identificá-la com o pecado, mas irá libertá-la desse pecado por mostrar-lhe a impersonalidade e irrealidade do mesmo.
Cristo Jesus nos legou um exemplo ideal da crítica que cura. Era ele audaz ao lidar com o pecado, mas era também infalível em seu julgamento e tratamento do mesmo. Sendo ele próprio sem mácula, tinha a habilidade e a autoridade de expor o pecado nos outros, fazendo-o, porém, sem os magoar. Seu método era flexível, variando de acordo com os indivíduos envolvidos. Foi com piedade curativa que ele retirou a condenação por pecado de uma mulher arrependida. Com misericórdia curou um certo homem que havia trinta e oito anos estivera paralítico, e mais tarde exortou-o: “Não peques mais, para que não te suceda cousa pior.” João 5:14;
No entanto, quando chegou a hora de criticar a hipocrisia dos escribas e fariseus, ele foi inexorável. Ele os chamou de guias cegos, serpentes, sepulcros caiados, raça de víboras. Mas, ainda assim, fazia separação entre o pecado e os homens, chamando-o uma mentira, e francamente depositava a culpa no mal impessoal. Ele disse: “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe aos desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.” 8:44;
Ao pôr a descoberto a natureza impessoal do pecado o Mestre não errava, e seu tratamento para cada caso individual era ideal. Será que, hoje em dia, poderá haver alguma pessoa na terra que se possa julgar suficientemente desenvolvida quanto à sua expressão da natureza pura do Cristo, para demonstrar sabedoria e convicção tais que a habilitem a lidar com os pecados dos outros? Mary Baker Eddy diz: “É preciso ter o espírito de nosso bendito Mestre para falar a um homem acerca de seus defeitos e arriscar-se, assim, a incorrer no desagrado humano por querer agir bem e beneficiar a espécie humana.” Ciência e Saúde, p. 571; Mas ela também diz, em terna humildade: “A única justiça da qual sinto-me atualmente capaz, é compaixão e caridade em relação a cada um — na mesma proporção em que um e todos me permitem exercer esses sentimentos com relação a eles — tomando cuidado especial de me ocupar de meus próprios negócios.” Miscellaneous Writings, p. 13;
Na Ciência Cristã, não encontramos justificativa alguma para que alguém se eleja como parte de uma “comissão para achar defeitos”, com a preocupação de assinalar os pecados das pessoas. A crítica pessoal pode ser mortífera, reprimindo o novato que é tímido, porém, bem intencionado, arrancando o trigo em fase de crescimento bem como o joio, no campo da consciência.
A Ciência Cristã é compassiva e proporciona a base para a crítica construtiva que resulta em cura. De fato, a Sr.a Eddy se refere à Ciência Cristã, em certas ocasiões, como o sistema de crítica mais elevado. Explicando porque usava esse termo ela diz: “Agora reitero outra prova, qual seja, a de que a Ciência Cristã é o mais elevado sistema de crítica porque censura o mal, a doença e a morte — tudo o que é dessemelhante a Deus, o bem — sobre uma base bíblica, e aprova ou desaprova de acordo com a palavra de Deus.” The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany, p. 240.