Em geral acreditamos exercer pouco ou nenhum controle sobre a nossa visão — acreditamos que a matéria enxerga por nós, e conseqüentemente que o estado de nossa visão é determinado pela condição em que a matéria se encontra. Isso é inverídico.
Se a matéria visse, ela teria de possuir vida e inteligência por si própria. Mas Cristo Jesus provou que a vida e a inteligência estão inteiramente separadas da matéria, portanto para sempre intocadas pelo que parecem ser as leis da corporalidade. Ao anular a assim chamada lei material e trazer à luz a perfeição indestrutível que Deus concedeu ao homem desde a eternidade, ele curou os doentes e restaurou faculdades perdidas — inclusive a visão.
Então, o que é a matéria? Embora pareça ser um estado sólido, é na verdade uma condição mental. Mente mortal é um rótulo ligado à suposta mentalidade que vê o ser materialmente, que sustenta todas as teorias — crenças — que poderiam contradizer e inverter a realidade espiritual. A existência humana, sem a iluminação da compreensão espiritual, é o resultado dessa visão material invertida. Mas a compreensão espiritual revela a existência da Mente única, Deus, e da criação, da manifestação espiritual e perfeita da Mente.
Torna-se evidente, então, que a matéria não pode ver ou ser vista, pois a matéria é meramente o que a mente mortal vê de si mesma. “A matéria não existe por si mesma, nem é um produto do Espírito”, escreve a Sr.a Eddy. “Tudo o que a vista vê é uma imagem do pensamento mortal, refletida na retina.” Ciência Saúde, p. 479; E a mente mortal é incapaz de ver, porque só conhece a falsidade, e ver a falsidade é não ver realmente nada. A Sr.a Eddy escreve alhures: “As faculdades indestrutíveis do Espírito existem sem as condições da matéria e também sem as crenças errôneas de uma suposta existência material.” ibid., p. 162;
Se a visão não se encontra na matéria ou em teorias materiais, onde é que se encontra então? Na Mente. A Mente é Deus, o Eu Sou ou Ego que a tudo inclui — o próprio Ser infinito. A identidade e a individualidade do homem — do único homem verdadeiro — procedem de Deus e se constituem na auto-expressão de Deus. Como Deus é Espírito infinito, a auto-expressão de Deus possui só a substância do Espírito, e essa expressão inclui a inteligência e a capacidade infalíveis e indestrutíveis da Vida, a Mente.
A Mente divina criou tudo e nada existe fora da Mente, porque a Mente é Tudo, a fonte e a circunferência do ser infinito. A Mente divina, o Amor, vê tudo o que está feito, mas não vê com órgãos materiais, nem vê objetos materiais. A Mente divina é o Espírito e o Espírito vê de modo espiritual, perfeito. O homem reflete essa visão perfeita.
Hoje em dia considera-se muitas vezes normal ter vista enfraquecida. Podemos realmente reivindicar a perfeição diante de evidências tão grandes em contrário? Sim, se compreendemos como fazê-lo.
Como, então, fazer com que a perfeição da lei de Deus tenha ação direta na existência humana? Por meio da oração. A oração, na Ciência Cristã, fecha o abismo que há entre a realidade da criação de Deus e o que se apresenta como nossa experiência presente. Por meio da oração espiritualmente científica corrigimos o conceito falso da realidade; volvemos o nosso pensamento a Deus para ver a perfeição que Ele nos deu e Sua capacidade suprema e a vontade de manter essa perfeição.
Muitas vezes a oração exige que neguemos com firmeza o testemunho físico a fim de romper o insinuante jugo deste testemunho sobre o nosso pensamento. Algumas vezes orar implica lutar. Mas nunca é a luta contra um inimigo real ou ativo, é só a luta contra os conceitos errôneos. Sabemos que a luta terminou quando sentimos a paz do pensamento iluminado: Tudo está bem, e estou ciente disso. Quando permitimos que esta luz angélica da Verdade ocupe inteiramente nossa consciência, ela brilha através de nossa experiência — harmoniza e aperfeiçoa as nossas ações, as funções do nosso corpo, as nossas faculdades. Não há mais nenhum abismo.
A substância do homem é a Mente, o Espírito, que é auto-existente e não depende da matéria nem se mistura com ela. A Mente é real, a matéria é irreal e o homem expressa o conhecimento perfeito e o discernimento espiritual perfeito da Mente.
O homem discerne com perfeita clareza e precisão tanto o infinito como o infinitesimal. A realidade nunca está perto demais ou longe demais; está sempre presente e é percebida com perfeição. Miopia e vista cansada não fazem parte da visão do homem. Nem pode a vista enfraquecer com a idade, porque o enfraquecimento e a idade são mentiras sobre o homem. O homem é eterno e imutável, nunca nasce, nunca morre e cada uma de suas faculdades é indestrutível. O que Deus deu ao homem “no princípio” ele nunca perdeu e nunca perderá.
A perspicácia espiritual é a verdadeira visão. A matéria não participa dessa visão, logo não pode obstruí-la. Esse fato, reconhecido e compreendido, age em nossas vidas como uma lei que ao revelar a perfeição anula a visão defeituosa.
Quando enfrentamos a visão enfraquecida, o pensamento fica algumas vezes — consciente ou inconscientemente — atordoado com as teorias complicadas e aparentemente inter-relacionadas, concernentes aos riscos a que a visão está sujeita. Mas a simplicidade da verdade, aplicada mediante oração diligente e específica, abre caminho por entre as teorias entrelaçadas e traz paz à consciência humana, ancorando-a na eterna Ciência divina.
Não precisamos esperar para ser curados de vista defeituosa. A luz do Amor divino — a suave e irresistível mensagem do Amor acerca da eterna liberdade do homem — quando inteiramente aceita, governa a consciência humana e apaga imediatamente o conceito material errôneo. Quando o conceito errôneo sai do pensamento, também sai do corpo.
Se nossos esforços metafísicos parecem ter pouco ou nenhum resultado, não precisamos desanimar. Embora nosso progresso possa não ser visto por algum tempo, cada golpe do machado na raiz do erro enfraquece o jugo do erro sobre o nosso pensamento. Então, como árvore morta ante um vento forte, o erro tomba ante o poder do Amor. Nossa confiante insistência de que nenhum conceito errôneo subjuga nossa consciência, nosso compromisso total com a Verdade e nossa paciente conscientização da perfeição atual do homem aceleram a vitória inevitável.
O fato de Jesus curar instantaneamente os dois cegos indica uma necessidade contínua dos nossos dias. Antes de lhes restaurar a visão, Jesus perguntou: “Credes que eu posso fazer isso?” Mateus 9:28; Eles responderam afirmativamente. Também nós podemos fazer a mesma pergunta: “Será que acredito, compreendo, que o Cristo é capaz de restaurar o que parece estar perdido?” Para responder afirmativamente talvez seja preciso um desejo ativo de abandonar nossa confiança na matéria e volver-nos à Mente para discernir a realidade — apoiar-nos na Mente como a fonte de toda a visão. Isso pode ser um processo gradativo, mas, como os dois cegos descobriram, pode ter resultados imediatos.
Há lições profundas e muito alento na declaração da Sr.a Eddy: “Há mais cristianismo em ver e ouvir espiritualmente, do que materialmente. Há mais Ciência no exercício perpétuo das faculdades da Mente, do que na sua perda. Não é possível perdê-las enquanto subsistir a Mente. Há séculos a compreensão disso deu vista aos cegos e ouvido aos surdos, e repetirá essa maravilha.” Ciência e Saúde, p. 487.