“Apresentar-se-á esta pergunta: Deve-se tratar mentalmente alguém sem o seu conhecimento ou sem o seu consentimento?” Miscellaneous Writings, p. 282;
Desta maneira a Sra. Eddy inicia um artigo denominado “Cura mental não solicitada.” O artigo aborda a pergunta feita por ela, uma pergunta que sem dúvida se apresenta à maioria dos Cientistas Cristãos.
Como estudantes de Ciência Cristã, nos esforçamos por seguir o exemplo de Cristo Jesus. A nota tônica de seus ensinamentos é amar a Deus sem restrições e ao próximo como a si mesmo.
Depois de ter citado este preceito fundamental, certo advogado perguntou a Jesus: “Quem é o meu próximo?” Lucas 10:29; Jesus então contou a parábola do bom samaritano, provavelmente um dos ensinamentos cristãos mais apreciados de todos os tempos. A maioria dos cristãos, certamente a maioria dos Cientistas Cristãos, deseja expressar a compaixão do samaritano, em vez de a falta de interesse do sacerdote e do levita que passaram de largo.
Mas será que podemos ajudar com a Ciência Cristã a quem não pediu ajuda?
Um Cientista Cristão não tem o direito de invadir os pensamentos de outra pessoa sem o consentimento dela. No artigo já mencionado, a Sra. Eddy cita duas exceções: “Se os amigos de um paciente desejam que você o trate, sem o conhecimento dele, e acreditam na eficácia da cura-pela-Mente, às vezes é sábio fazê-lo, e o fim justifica os meios; pois o paciente será restaurado mediante a Ciência Cristã quando outros meios falharam. Outra ocasião que talvez requeira ajuda sem solicitação, é em caso de acidente, quando não há tempo para cerimônias nem outra ajuda por perto.” Misc., p. 282;
O que se deve fazer então, diante de uma situação discordante em que não nos é solicitada ajuda? A resposta não pode ser passar de largo. Um Cientista Cristão não pode ignorar nenhum sentido do mal que queira se apresentar, seja nas páginas do jornal, no noticiário da televisão ou na sua experiência diária.
Nessas ocasiões é que precisamos ter clareza a respeito da diferença existente entre o tratamento solicitado por um indivíduo e o que fazer para tratar o erro como uma falsa pretensão genérica. No primeiro caso, o praticista — aquele que dá tratamento — dirige seu trabalho sanador especificamente ao paciente que o solicitou. Ao usar argumentos mentais, focaliza-os diretamente na situação imediata. Qualquer que seja o caso, o paciente é específica e individualmente identificado como o homem, a idéia de Deus, refletindo toda a bondade de Deus.
Pode ser que só ocasionalmente haja pedidos para tratamento de indivíduos. Mas um Cientista Cristão recebe constantes chamados para tratar, por meio de oração, as crenças do mundo. Nesse trabalho não está envolvida uma pessoa específica ou um paciente. Ao invés disso, há a oportunidade de negar as circunstâncias maléficas e afirmar os fatos espirituais para todos. Não se dá tratamento, por exemplo, “àquele homem” aleijado. Tratamos unicamente a nossa própria tentação de crer em hereditariedade ou acidente, em qualquer lugar, para qualquer pessoa. Desembaraçamo-nos dos falsos conceitos do homem como matéria. Desse modo, o Cientista Cristão não ignora uma condição errônea — não passa de largo — mas também não invade o pensamento alheio.
Certo dia, numa viagem de férias, tive duas experiências que ilustram como um Cientista Cristão pode tratar situações de emergência por meio da oração. Pela manhã, nosso ônibus turístico repentinamente parou porque uma passageira, uma menina a quem chamarei Penny, estava se sentindo mal. Ela desceu do ônibus acompanhada do pai. A esta altura da viagem, o nosso grupo já se conhecia bem, e diversos passageiros começaram a sugerir remédios para o caso. Um deles, uma enfermeira, apressou-se pelo corredor com alguns comprimidos, dizendo: “Tenho exatamente o que ela precisa.”
Olhei para o Christian Science Sentinel no meu colo e pensei: “Isto é exatamente o que ela precisa.” Mas não me pareceu sábio descer do ônibus e lhe apresentar a Ciência Cristã naquele momento. Em vez disso, comecei a meditar nas verdades da Ciência Cristã que estivera lendo. Pensei em que consiste o verdadeiro ser do homem como filho de Deus. Eu não disse mentalmente: “Penny, você é filha de Deus, imperturbada pelas condições materiais.” Em vez disso, englobei o mundo todo em meu pensamento.
Da minha janela não pude deixar de ver Penny recusar os comprimidos oferecidos. Logo ela sentiu-se suficientemente recomposta para retomar seu lugar à minha frente. Quando sentou-se eu lhe disse: “Penny, você ficará boa.” E assim foi.
Naquela mesma tarde, depois de horas de viagem sob uma temperatura muito elevada, um pneu furou no meio de uma área isolada. O dirigente da excursão assegurou-nos que o motorista poderia trocar o pneu mas que levaria três quartos de hora. Descemos todos do ônibus e nos espalhamos pelo campo em busca de alívio. No que pareceu ser uma demonstração semelhante àquela dos pães e peixes, um passageiro encontrou uma bomba d'água e logo muitos de nós tomamos largos goles de água fresca.
De repente um morador local veio até nós e ficou terrivelmente agitado quando nos viu bebendo água. Ele não sabia falar inglês nem nós falávamos tcheco, mas finalmente ele conseguiu comunicar que a água estava poluída. Imediatamente houve grande consternação no grupo. Foi feita toda espécie das piores predições.
Afastei-me dali e caminhei sozinha. Este não era um caso para ficar em dúvida se eu devia ou não dar tratamento pela Ciência Cristã a cada pessoa que tivesse bebido água. Eu não sabia quem a tinha tomado e quem não. Este era, sim, um caso para enfrentar a crença que se apresentava, de uma circunstância maléfica e de leis sanitárias desobedecidas.
A primeira coisa em que pensei foi na declaração de Jesus aos seus discípulos, referente às estritas leis hebraicas contra certos alimentos considerados impuros: “Não é o que entra pela boca o que contamina o homem, mas o que sai da boca, isto, sim, contamina o homem.” Mateus 15:11; Eu sabia que a única coisa com que devia preocupar-me era o que entrava na minha consciência. Sabia que não havia vida nem substância na matéria. A matéria não tem realidade.
Na lição bíblica no Livrete Trimestral da Ciência Cristã — Lições Bíblicas; daquela semana estava esta declaração enfática da Sra. Eddy: “A Verdade não é contaminada pelo erro.” Ciência e Saúde, p. 304. Raciocinei que o verdadeiro ser do homem, que eu havia considerado pela manhã, não podia ser contaminado por nenhuma lei falsa referente à saúde e à harmonia. A lição daquela semana incluía muitas citações sobre a lei e o governo e deixou bem claro para mim que o homem é controlado somente pelas leis de Deus, pela ação do Princípio divino. Não há outro legislador, e não há leis que decretem a destruição do homem.
Depois de alguns momentos nos quais estabeleci com firmeza essas verdades em minha consciência, uni-me ao grupo novamente. Pudemos retomar o ônibus e logo chegamos ao nosso destino. Bem, num grupo que viaja assim, cada um sabe a respeito do bem-estar do outro e posso dizer, sem engano, que ninguém sofreu por ter bebido daquela água. Tratar da sugestão de que uma lei sanitária foi violada serviu para proteger todos os que estavam viajando comigo.
Somos cristãos. Somos Cientistas Cristãos. Somos bons samaritanos. Levamos um pensamento sanador aonde surge a necessidade. A sabedoria e o amor nos dirão quando podemos dirigir tal pensamento a pessoas e quando não.
