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Uma colaboração especial à comunidade acadêmica

Da edição de dezembro de 1979 dO Arauto da Ciência Cristã


O intelecto humano está movimentado. O conceito tradicional de que a universidade seja um empório de idéias e valores que prestam informações à civilização vem sendo complementado, cada vez mais, por uma responsabilidade ulterior — a de ajudar a descobrir a vereda do futuro. Os Cientistas Cristãos universitários têm importante colaboração a prestar na tarefa que compete à humanidade de identificar e propagar os ingredientes de uma civilização pacífica e florescente, civilização moldada ao atendimento dos desafios dos séculos vindouros.

Há algum tempo, tive consciência de determinada qualidade que se acha presente quando uma manifestação de inteligência criativa alcança verdadeiro êxito. Apercebi-me de que onde a arte falhara, onde a pesquisa degenerara em pedantismo, onde os métodos institucionais sofreram um colapso e o relacionamento humano perdera consistência, amiúde essa qualidade estivera ausente. De que qualidade se tratava? Não lhe atribuí nome até o dia em que uma frase de autoria da Sra. Eddy saltou das páginas de Ciência e Saúde: “O cimento da civilização e do progresso.” Na íntegra essa declaração diz: “A castidade é o cimento da civilização e do progresso. Sem ela não há estabilidade na sociedade humana, e sem ela não se pode alcançar a Ciência da Vida.” Ciência e Saúde, p. 57;

Uma ilustração portentosa da natureza da castidade encontra-se na história de Sansão e Dalila. Há uma declaração feita pela Sra. Eddy que empresta a esse relato um significado particular para os Cientistas Cristãos pertencentes à comunidade acadêmica. Em Ciência e Saúde a autora escreve: “A ciência física (assim chamada) é conhecimento humano — uma lei da mente mortal, uma crença cega, um Sansão despojado de sua força.” ibid., p. 124;

No contexto de sua época, a Bíblia apresenta Sansão como alguém consciente de que o poder espiritual provinha de Deus. Reconhecendo que Sansão oferecia um desafio formidável à autoridade deles, os príncipes filisteus valeram-se de Dalila — que nesta história representa as tentações do sentido material — para descobrir o segredo de sua força. Por três vezes Dalila falhou, mas, por fim, ela o importunou tanto que ele lhe revelou o segredo. Sansão confiou nela, depôs confiança no sentido material: “Nunca subiu navalha à minha cabeça, porque sou nazireu de Deus desde o ventre de minha mãe.”  Juízes 16:17; Quando Sansão deixou de ser fiel ao Espírito, Deus, e submeteu-se ao sentido material, sua cabeça foi rapada e retirou-se dele a sua força. Perdeu os olhos — ou, poderíamos dizer, o discernimento espiritual  ver Ciência e Saúde 586:3–4; — e foi sujeitado a uma vida de escravidão, cegamente virando um moinho na prisão da existência material.

A força e a liberdade físicas, emocionais e intelectuais são concomitantes naturais de uma integridade de pensamento baseada no Espírito. E essa integridade é nutrida pela castidade, prova humana de que depositamos nossa confiança no Espírito, no Princípio, em Deus, e em nada mais.

Será que consideramos a castidade mera regra moral que governa o comportamento sexual? Tal conceito merece ser ampliado. Por exemplo: Será que não existe algo que poderíamos chamar de castidade intelectual? Os escritos da Sra. Eddy evidenciam essa castidade intelectual. Num trecho a autora escreve: “Mais vale a sóbria refeição intelectual com o contentamento e a virtude, do que o luxo da erudição com o egotismo e o vício.” ibid., p. 452;

Podemos manifestar nossa preocupação quando a poluição intelectual passa a permear a comunidade acadêmica — quando livros de mau gosto são escritos e lidos, quando o debate degenera em vingança, quando as dissertações nos exames carecem de originalidade honesta, quando um músico troca a música pela técnica. Esses são sintomas de um intelecto humano em rebelião, exemplos de promiscuidade intelectual. A rebelião é esmagada e Sansão reconquista sua força ao reconhecer que a Mente única, Deus, é a única Mente que o homem possui. Então os elementos da castidade intelectual começam a surgir: passa-se a encontrar profunda preocupação pela verdade, não importa onde é ela descoberta, respeito pela individualidade e amor por uma avaliação justa. O mero desejo de conhecimento humano se transforma num anseio por sabedoria. O diletantismo é substituído por um senso de obrigação. E, não menos importante, o reconhecimento de nossas próprias falhas e a superação delas passam a ocupar o lugar do anseio auto-enganador de nos arvorarmos em juiz e condenar o próximo. A promiscuidade intelectual pode ser totalmente curada pela Ciência Cristã e pela compreensão que ela nos dá a respeito de Deus e do homem.

A tragédia de Shakespeare, Hamlet, pode ser interpretada como evidência de promiscuidade intelectual corrigida, na parte em que o príncipe, que se deixou levar por sua inclinação à introspecção melancólica no 1° ato, e diz:

Meu Deus! Meu Deus!
como são fastidiosos, gastos, vulgares,
estéreis os bens terrestres!
Que mundo este! Oh! é um jardim inculto
em que crescem as ervas bravas! todas as plantas
malfazejas e grosseiras o invadiram...

 volta no 5° ato, um pouco antes do final trágico da peça, para ecoar Mateus 10:29: “Um pardal não cai sem licença especial da Providência.”

Até o acontecimento aparentemente mais insignificante pode ser considerado de grande importância quando nos apercebemos de que Deus cria e governa tudo e que Ele é Amor. Um Deus amoroso não poderia criar um universo sem significado. A promiscuidade intelectual segue no encalço da verdade sem tomar em consideração o Amor. O intelecto espiritualmente regenerado vê com admiração e entendimento a distinção de um universo centralizado em Deus.

Será preciso sermos originais? A castidade baseada na compreensão espiritual promove a originalidade, pois reconhece ser Deus a origem de tudo. O pensamento casto, iluminado por uma percepção da realidade divina, confirma que cada uma das idéias de Deus tem um modo singular de manifestá-Lo. Atento a tais fatos, o pensador original lança-se ao seu empreendimento com reverente sinceridade e olhar inocente que vê mais porque está livre da crença nas concepções materiais.

Na arte, na pesquisa científica, no viver diário, transcendemos o modelo de pensamento geral quando começamos a perceber que a Mente é a única fonte do pensamento e que o homem é a manifestação perfeita da consciência divina. Esse pensar casto traz consigo inspiração espiritual, “o sopro do Todo-poderoso”  Jó 33:4;.

Os estereótipos populares que caracterizam o intelecto como “frio” ou “árido”, indicam um suposto divórcio entre pensamento e sentimento. A castidade não concebe tal antagonismo, pois as faculdades do homem nunca estão dispostas em compartimentos estanques. Um espectro total dos modos humanos, desde a reação espontânea de um sentimento afetivo, passando pela capacidade de ter iniciativa prática decisiva, até o mais abstrato pensamento lógico — tudo isto está potencialmente presente quando sabemos que a única Mente, o Espírito, a Alma, é na sua plenitude o manancial do nosso eu.

Tanto no seio da comunidade acadêmica como fora dela há muitos relacionamentos que sofrem porque as pessoas perderam o contato com seu próprio eu real e, portanto, com o verdadeiro sentimento, que é o sentido de Alma. Os sentimentos humanos baseados neste sentido de Alma são valiosas expressões de verdade e amor, receptivas à realidade do ser. Opõem-se ao sentimentalismo romântico ou à ascese arrogante, ritualista, sendo ambos emoções que carecem de autenticidade e têm raízes num sentido pessoal, material, da criação. O verdadeiro sentimento é espiritual. Por isso, procurar o sentimento mediante o sentido material do homem só pode resultar em frustração.

Compreender espiritualmente o que é a castidade destrói o errôneo emocionalismo e abre as portas de um novo mundo de sentimento, um mundo cheio de imutável receptividade a tudo o que Deus está expressando em Sua criação. O verdadeiro sentimento começa com amor pela realidade e leva-nos à realidade do Amor. Exatamente ali onde a emoção promíscua sofre por considerar a vida um drama sentimental, um melodrama, a Mente divina está orquestrando todo verdadeiro sentimento numa concórdia que verdadeiramente satisfaz.

A castidade entre homens e mulheres não é um extra opcional que adiciona “requinte” ao relacionamento. Pois, sem se ter alguma noção do que é a castidade, o relacionamento carece de uma qualidade fundamental. Deus estabelece e mantém para sempre a estrutura amorosa e inteligente de Sua criação. Conhecemo-nos e amamo-nos reciprocamente numa base autêntica quando esse fato é reconhecido. Os altos padrões da Ciência Cristã livrar-nos-ão da dor humilhante de constatar em primeira mão que os corpos materiais não representam o verdadeiro eu. Há sempre, porém, um meio de manifestar o amor que sentimos. A castidade não é a supressão forçada de sentimentos naturais, nem é esse disfarçado ódio a si mesmo que transgride a lei moral. Quanto mais conhecemos Deus, tanto mais amor sentimos por Sua criação e somos devidamente guiados em nossas ações.

A castidade é a pureza do Espírito manifesta na existência humana. Em cada estágio do nosso desenvolvimento humano há uma maneira adequada de manifestar castidade que irá moderar, coordenar e abençoar a nossa vida.

Convém livrarmo-nos das crisálidas dispersas da personalidade humana revelando a integridade e a inteireza de nosso eu espiritual. Quando a promiscuidade intelectual, emocional ou sexual nos desvia, induzindo-nos a ponderar ou apoiar as distorções do pensamento material, a castidade nos liberta porque desvenda algo do esplendor da realidade espiritual, ante a qual essas distorções da personalidade material perdem seus atrativos.

Isso é verdadeiro no que concerne ao indivíduo e também no que se refere à nossa civilização. W. B. Yeats escreveu a respeito dos sintomas por ele percebidos em nosso século:

Girando e girando em círculos cada vez maiores
O falcão não consegue escutar o falcoeiro;
Tudo desmorona; o centro não consegue agüentar.... “The Second Coming”;

O sentido material das coisas precisa desmoronar, porque o sentido material nega a castidade, nega “o cimento da civilização e do progresso” — nega o sentido puro que discerne para sempre o homem e o universo perpetuamente unidos no Amor, centralizados no Princípio.

Na medida em que a comunidade acadêmica aprecia e demonstra castidade em todas as esferas da existência, a base espiritual de uma sociedade sadia será mais amplamente aceita. Em lugar de ser posse pessoal ou um traço cultural, a castidade é uma qualidade originária de Deus e, portanto, acha-se de igual modo ao dispor de todos nós. Se procurarmos os elementos da castidade em nós mesmos e em nossa civilização, encontrá-los-emos e ajudaremos a descobrir a vereda que leva a um futuro estável, cujas raízes se acham numa compreensão do Amor divino.

Longe de renegar duramente a natureza humana, a castidade representa o amanhecer do verdadeiro significado do Amor nos corações humanos. Nas palavras de nosso Mestre, Cristo Jesus: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.”  Mateus 5:8.

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