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Ninguém tem que ser dominado

Da edição de março de 1980 dO Arauto da Ciência Cristã

Christian Science Sentinel


Na nossa família vivíamos como meu pai determinava que vivêssemos. Isso valia para tudo — as roupas que comprávamos, os amigos que escolhíamos, a política, as férias. Até a comida que comíamos era aquela que ele preferia, servida quando ele queria comer.

Eu não gostava desse autoritarismo. Não desejava ser a pessoa que meu pai queria que eu fosse. E eu queria mais liberdade do que tinha. Por isso, meus anos de juventude foram de muita mágoa, desentendimento e frustração. Quem teve problemas de família, compreende o tipo de ambiente que existia na nossa casa.

Meu pai até dizia que eu tinha de ir à Escola Dominical da Ciência Cristã. Eu me queixava, mas, para ser bem sincera, gostava de ir. Eu tinha uma professora que realmente se importava comigo e tentava responder minhas perguntas com sinceridade.

Alguns domingos de manhã eu chegava brava e chorosa. Outras vezes parecia estar longe e não dizia uma só palavra. Mas a Srta. Donaldson estava lá — para ouvir-me se eu quisesse falar ou para simplesmente ficar em silêncio comigo. Sempre, de alguma maneira, ela me ajudava a compreender, a sentir profundamente, que eu era filha de Deus e que Ele estava cuidando de mim.

Certo domingo ela pediu-me para decorar a definição de “Eu, ou Ego” no livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde de autoria da Sra. Eddy. Em parte dessa definição, lemos: “Há um só Eu, ou Nós, um só Princípio divino ou Mente, que governa toda a existência; o homem e a mulher, para sempre imutáveis em seus caracteres individuais, tal como os números, que nunca se misturam uns com os outros, embora sejam governados por um só Princípio.” Ciência e Saúde, p. 588;

Na nossa família certamente parecia haver um ego que dominava os outros egos. Pensar em Deus, Mente divina, como o único “Eu, ou Nós”, o único Ego real, era algo espantoso. Compreendi que a coisa mais importante para mim não era a liberdade ou os amigos ou outro tipo de vida familiar. Consistia em compreender que o Princípio divino era o único poder governante verdadeiro, não importando com que força os “nós” humanos parecessem estar puxando em direções contrárias.

Minha professora ajudou-me a compreender que eu era alguém valiosa, porque na realidade era a idéia espiritual de Deus e, por isso, unicamente eu mesma. Minha verdadeira identidade era o reflexo do único Nós, Deus. Não importava se alguém em especial me compreendia ou entendia minhas necessidades como ser humano. A questão principal era, se eu compreendia meu relacionamento especial com Deus. Por causa desse relacionamento nossa individualidade está segura — não como homem ou mulher, como uma pessoa com autoridade ou um subalterno, mas como uma individualidade espiritual governada pela Mente. É assim como os números, que conservam sua integridade porque são governados pela ciência da matemática.

Pouco a pouco tornou-se mais importante para mim conhecer Deus como meu Pai do que achar um meio de fazer meu pai mudar sua maneira de ser. E o que comecei a compreender era de importância muito maior do que a questão da liberdade pessoal. Comecei a ver que a confrontação básica era com a crença de que eu nascera um mortal. Eu não era um mortal, nem o era meu pai. Ambos éramos expressões individuais e espirituais do único Ego, o Pai-Mãe de todos.

Legal e economicamente eu estava “presa” sob a jurisdição de meus pais. Mas eu sabia que havia laços ainda mais fortes entre nós, de modo que era vital para mim enxergar além da situação humana. Não importa se a gente mora com os pais num relacionamento agradável ou desagradável, cedo ou tarde é preciso compreender que o relacionamento fundamental é com o Espírito divino. “Para raciocinar corretamente deve estar presente no pensamento um só fato, a saber, a existência espiritual. Na realidade, não há outra existência, porque a Vida não pode ser unida à sua dessemelhança, a mortalidade” ibid., p. 492;, escreve a Sra. Eddy.

A maioria dos pais e filhos, penso, tentam ser os melhores dos pais e os melhores dos filhos. Sei que meus pais e eu estávamos tentando ser. Não escolhíamos o conflito; era como se ele tivesse sido escolhido para nós, deixando-nos a tarefa fútil de tentar descobrir quem era o culpado. Quando os discípulos perguntaram: “Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” Cristo Jesus teve uma resposta imediata: “Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus.”  João 9:2, 3;

Ao ponderar essa passagem, compreendi que nossos conflitos de família — sob o meu ponto de vista a dominação de meu pai e do ponto de vista dele a rebeldia de sua filha — não eram culpa dele nem minha. A culpada era a crença de que podia haver pequenos egos separados ou mentes desligadas da orientação de Deus. Mas as obras de Deus “deviam ser manifestadas”, diziam as Escrituras. A supremacia de Deus, como a única Mente divina, o único criador do homem, precisava ser vista e amada, e nela se devia confiar.

Descrever em algumas centenas de palavras essa experiência faz tudo parecer muito simples, mas não foi. As lições aprendidas às vezes vinham apenas depois de muita luta. A verdade era simples e clara; deixá-la prevalecer em minha vida era o desafio.

Nunca abri mão do desejo de tomar minhas próprias decisões e escolher meus próprios amigos. Não foi preciso. Pouco a pouco, à medida que compreendia que minha verdadeira existência em Deus — e a de meu pai — nada tinham a ver com a crença em muitas mentes, suas atitudes tornaram-se mais razoáveis, e passei a ter uma perspectiva mais ampla de nossos pontos de vista diferentes acerca das coisas. Ao longo dos anos, meu pai e eu desenvolvemos uma bela amizade baseada no respeito mútuo.

De acordo com o Salmista: “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e o mais ele fará.”  Salmos 37:5. Ninguém gosta de ser dominado e ninguém precisa sê-lo.

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