Uma transferência de trabalho que implique em mudança, um divórcio, um rompimento de relações entre amigos, o falecimento de um parente — qual gigantesco caleidoscópio, o viver diário, por vezes, apresenta relacionamentos cheios de vicissitudes. Mas será preciso sofrer com cada virada no fluxo da existência humana?
A Ciência Cristã ancora-nos na certeza de que Deus é Amor perpétuo. Por mais volátil que a situação seja, podemos, contudo, sentir-nos felizes, confiantes de que a Vida divina e única está criando tudo o que de amorável existe. O Deus vivente é igualmente um Deus bondoso. E nosso verdadeiro ser reflete esse Amor todo ativo. A volubilidade da vida mortal, com todas as suas idas e vindas, adultera o caráter do Amor eterno.
A humanidade terá, por fim, de reconhecer que o fator determinante em nosso modo de viver e amar é o Todo-Amor, a Mente governante e o Espírito impulsionador. Os filhos de Deus dependem apenas da Mente para a sua felicidade, a sua saúde e o seu progresso — e não uns dos outros. Estando em harmonia com o Amor, as idéias de Deus estão sempre e reciprocamente em harmonia entre si.
Diversidade, não a casualidade de uma mutação, distingue o que a Mente divina cria. A Sra. Eddy afirma o fato imediato: “O Espírito diversifica, classifica e individualiza todos os pensamentos, os quais são tão eternos como a Mente que os concebe; mas inteligência, inteligência, a existência e a continuidade de toda individualidade permanecem em Deus, que é seu Princípio divinamente criador.” Ciência e Saúde, p. 513;
Diversidade na criação espiritual não significa sua fragmentação. As formações da Vida — os pensamentos de Deus — habitam para sempre na unidade da Mente. O Amor é a força coesiva. O Princípio que os mantém juntos em manifestação infinita é a única Vida que há. Os indivíduos que dentro do amplo termo de nossa existência conhecemos como parentes, amigos de infância, colegas de estudo, vizinhos, conhecidos e membros de igreja, são cada um deles, de fato, entidades espirituais que já conhecem a Mente e são por ela conhecidos, e, portanto, são conhecidos das idéias da Mente.
O mais casual encontro na rua com um estranho, a quem talvez nunca mais vejamos de novo, pode conter um lampejo, uma tênue indicação, de que todos os nossos “nomes estão arrolados nos céus” Lucas 10:20;. Uma pessoa não poderia estar consciente de outra, quer se trate de amigo ou de conhecido de primeira vista, se Deus primeiro não conhecesse cada indivíduo como sendo Seu próprio e se cada um de nós, como idéias da Mente, não estivéssemos refletindo para sempre a consciência divina.
Essas, pois, são algumas ds verdades espirituais que servem de alicerce a um relacionamento duradouro. Por outro lado, “as mudanças e os acasos dessa vida mortal”, como diz o livro Book of Common Prayer, arriscam pôr tudo a perder. Não importa, porém, que voltas a vida mutável dê, nosso verdadeiro curso é o de viver o Amor que nunca muda. Temos um antídoto seguro para as rápidas mutações da vida mortal: Nunca cessar de amar! Seja qual for a causa da inconstância, a cura é o constante amor.
Quando um relacionamento passa por uma fase de transição
Um aspecto da vida mutável é sua mobilidade. Os acontecimentos diários, como porta giratória, tanto podem empurrar um amigo para fora de nossa vida como permitir-lhe a entrada. Amigos perdem contato, vizinhos mudam-se, colegas de trabalho aposentam-se. Por sua vez surgem novos amigos, novos vizinhos, novos colegas de equipe.
Será que esses casos de vida em movimento apagam os relacionamentos genuínos de outrora? Não, de maneira alguma. Se o amor foi alguma vez sincero, nunca pode deixar de se fazer sentir. Existe como um fato da vida, como parte indelével de nós. Saber que o Amor é imutável livra-nos de ansiar pelo passado e permite acolhermos o presente influxo da bondade de Deus. Por trás de cada evidência do bem, quer anterior, quer atual — o amor de mãe, a lealdade de um amigo, a equanimidade de um chefe, a alegria de uma criança — há a expressão constante de Deus: a Vida individualizando suas formações, o Amor classificando cada identidade, a Mente diversificando todos os pensamentos. Nessa luz estamos sempre livres para amar tudo quanto de valor o passado dotou ao presente:
Pois todo o bem que já passou,
Presente está no meu viver.Hinário da Ciência Cristã, n° 238;
O passar do tempo, ou das pessoas, não pode apagar a realidade eterna daqueles momentos em que sentimos e manifestamos verdadeiro amor. Ao permitirmos que o amor de Deus nos conduza a cada instante, nossos passos em frente não deixarão nenhum bem para trás. Com Deus a controlar os nossos sentimentos, as nossas relações, quer breves, quer duradouras, manifestarão uma finalidade em prol do bem, que é inteligente e é impelida por Deus.
Por exemplo, conquanto já não tenhamos necessidade dos serviços de nossa professora da segunda série, e não mais mantenhamos contato com ela, isso não nega de maneira alguma o benefício duradouro da associação original ou a nossa continuidade de apreço por ela. Podemos ver nesse relacionamento especial um vislumbre do elo eterno que existe entre as idéias de Deus e uma indicação de que Deus classifica e diversifica infinitamente Seus pensamentos. Continuidade e diversidade, ambas caracterizam igualmente o governo do Amor.
Quando o relacionamento se torna amargo
A adversidade é um aspecto da vida mutável que submete a duras provas o poder estabilizante de nosso amor. Porém, quer tome a forma de um acordo comercial desonesto, de desamor de um amigo, ou de trágica desavença, o relacionamento adverso não indica, por um momento sequer, um rompimento na família do homem ou uma interrupção do fluxo do amor de Deus. Mostra, antes, a versão deturpada da família permanente de idéias do Amor segundo a representa a mente humana.
A raiz de nosso problema de relacionamento não se encontra na outra pessoa, e por isso a dificuldade não pode ser resolvida a partir deste ponto de vista. Resolver-se-á na espécie e qualidade de nosso amor por essa pessoa. O alcance de nosso amor dá a extensão atual de nossa visão espiritual do homem. A maneira como respondemos as seguintes perguntas assinala o estado de nosso amor:
• É o nosso amor possessivo e variável, ou altruístico e constante?
• É a razão de nosso amor humanamente motivada, ou espiritualmente impelida?
• Focaliza-se o nosso amor na aparência física da pessoa e em sua personalidade física, ou está consciente do caráter essencial do indivíduo?
• Está a continuidade de nosso amor na dependência do que outra pessoa pensa, diz ou faz, ou depende do que sabemos da Mente divina e dela manifestamos?
• Numa palavra, amamos como ama o mundo material — esporádica, ávida ou apaixonadamente, ou amamos da maneira como Cristo Jesus indicou: “O meu mandamento é este, que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei”? João 15:12; (Anteriormente Jesus havia identificado a natureza de seu amor: “Como o Pai me amou, também eu vos amei.” v. 9; O amor aos outros deve enquadrar-se no padrão do Amor divino.)
O cristianismo instrui seus seguidores a amar a todos — amigos e inimigos. Mas não alardeia temerariamente que todos irão retribuir o nosso amor. Não importa quão sério seja um alheamento, o Cristo nos incita a sempre continuar amando — e, enquanto for necessário, perdoando. Nossos esforços nesse sentido provêm da continuidade e permanência do Amor inalterável.
O que fazer, porém, quando nossos melhores esforços no sentido de amar não são correspondidos, quando o curso dos acontecimentos não nos permite a oportunidade direta de mostrarmos amizade, ou quando retirar-se calmamente torna-se mais apropriado? Nessas ocasiões, podemos obedecer à injunção de Cristo Jesus aos seus discípulos: “Se alguém não vos receber, nem ouvir as vossas palavras, ao sairdes daquela casa ou daquela cidade, sacudi o pó dos vossos pés.” Mateus 10:14; Espiritualmente entendido, esse sair não significa deixar de amar alguém. Antes tipifica a remoção da fuligem de erro que nutrimos a respeito de outrem e que estava acumulada em nosso pensamento.
Nosso Mestre não restringiu seu amor a uns poucos. No jardim de Getsêmani, sua preocupação sanadora pelo bem-estar de um dos seus captores, o servo do sumo sacerdote, era genuína; seu perdão aos que o crucificaram vinha do coração. Os atos de amor de Jesus diante da traição e do ódio eram afirmações espirituais de que a fraternidade do homem não pode ser desfeita, porque sua origem está no Princípio eterno, o Amor. A diversificação dos filhos de Deus nunca é uma divisão deles.
Depois da ressurreição, o amor de Jesus por seus discípulos, que o desertaram no momento culminante de seu ordálio, ainda se achava intato. Jesus não precisava renovar seu afeto por eles, porque nunca tinha deixado de amá-los, tão certo como não tinha cessado, de fato, de viver, apesar do testemunho dos sentidos materiais. A Vida eterna que ele demonstrou era o Amor imutável por ele vivido.
Quando o relacionamento resulta em luto
O falecimento de alguém que amamos pode vir a ser um choque trágico. Só uma visão espiritual da existência pode compensar a ruptura, restabelecer à sua classificação original o conceito de que, tanto quem partiu como nós, somos entidades imortais de Deus. A ressurreição de nosso Mestre desperta-nos para a compreensão de que a morte é uma ilusão e de que o homem é imutável. Em vez de aceitar o quadro mortal de luto e separação, podemos usar essa oportunidade para ver algo mais do escopo infindável das qualidades de Deus, para saber como nunca que “a inteligência, a existência e a continuidade de toda individualidade permanecem em Deus”. Como a morte nunca põe fim à existência de alguém a quem amamos, a morte não tem o poder de fazer cessar o nosso amor por esse alguém. A vida desse ente querido e o nosso amor fluem da mesma fonte divina que a tudo anima.
A Ciência do Amor pode guiar-nos para fora — e manter-nos fora — do vale da tristeza. A Sra. Eddy indica o caminho: “Quando a luz de uma amizade atrás da outra passa da terra para o céu, acendemos em seu lugar o lume de alguma realidade imorredoura. A memória, leal à bondade, mantém nas suas câmaras secretas aquelas características mais sagradas, mais corajosas para perdurar, mais firmes para enfrentar o sofrimento, mais prontas a renunciar.” Pulpit and Press, p. 5; Tudo que possa vir adequadamente à nossa vida, ou nela permanecer, é o bem que caracteriza todo verdadeiro relacionamento. Se alguma vez vimos o bem individual como parte integrante de nossa vida, dela jamais pode ficar excluído.
Quer manifestado por um professor favorito, um amigo de confiança ou um cônjuge de há cinco ou cinquënta anos, o amor de Deus e sua provisão permanecem para sempre conosco. Se virmos que o bem que as outras pessoas manifestam a nós vem por intermédio delas e procedente daquele que dá origem a todo bem, a Amor imutável, buscaremos em toda parte as expressões individualizadas de Deus. Desse modo honraremos a prerrogativa que tem Deus de conhecer Suas próprias idéias — de diversificá-las e classificá-las, bem como de individualizá-las.
“Onde Deus estiver, ali nos podemos encontrar; e onde Deus está, nunca podemos nos separar.” The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany, p. 131. A verdade dessas palavras da Sra. Eddy formam o alicerce de todo relacionamento perdurável. Nossa capacidade de amar e de ser amado já inclui em si a habilidade, por reflexo, de multiplicar, de manifestar, a bondade de Deus. Nem uma fração de bem pode alguma vez ser subtraída desta capacidade. O livre intercâmbio do amor abnegado reflete o amor imutável de Deus pelo homem, por todos e cada um de nós. Na medida em que damos testemunho desse fato, nossos relacionamentos atuais e futuros continuarão a expressar amor imorredouro.
