Está na moda, atualmente, as pessoas pesquisarem suas origens na sua árvore genealógica através de muitas gerações. Algumas delas têm a esperança de que esse conhecimento esclareça ou justifique seu status na sociedade. Mas a informação histórica jamais pode levar a pessoa às suas raízes espirituais reais, ao manancial de sua identidade espiritual como filho de Deus.
O apóstolo Paulo orou para que os companheiros cristãos fossem “arraigados e alicerçados em amor” Efésios 3:17.. Podemos ampliar esse pensamento para incluir o objetivo de sermos arraigados e alicerçados em sabedoria, vigor, integridade, bondade, justiça, beleza — em um solo muito rico. Essas qualidades, todas elas dadas por Deus, mostramnos a natureza espiritual que é nossa para que a reconheçamos e expressemos.
O homem não é um mortal, condicionado pela hereditariedade, pelo ambiente e pela história humana. O homem é idéia espiritual evoluída do Espírito, ou Deus, sustentado continuamente e nutrido espiritualmente. Assim, pois, quando temos a impressão de necessitarmos confiança e vigor, não precisamos vasculhar o passado, a árvore genealógica e a herança nacional. Em vez disso, voltamo-nos ao nosso Pai-Mãe Deus como a fonte atual, infinita e inexaurível de inspiração e sustento, sempre disponível para cada um de nós. Mary Baker Eddy, quem descobriu e fundou a Ciência CristãChristian Science (kris'tiann sai'ennss), escreve: “Na Ciência o homem é o descendente do Espírito. O belo, o bom e o puro constituem sua ascendência. Sua origem não está no instinto bruto, como a origem dos mortais, e o homem não passa por condições materiais antes de alcançar a inteligência. O Espírito é a fonte primitiva e derradeira de seu ser; Deus é seu Pai, e a Vida é a lei de seu ser.” Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 63.
Perpetuar o pensamento na ancestralidade material tende a produzir um modo de pensar rígido, inflexível, capaz de produzir distanciamento entre pessoas de origens diferentes. Por outro lado, rejeitar a ancestralidade material sem substituí-la por algo mais significativo pode causar a impressão de incerteza ou de não se ter quaisquer raízes. Mas o conceito radical de que o homem é descendente do Espírito, a Mente, mostra que a individualidade é de natureza infinita e, portanto, está continuamente aparecendo em novas expressões.
Aos atenienses, conscientes de sua tradição, S. Paulo explicou: “O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, ... de um só fez toda raça humana para habitar sobre toda a face da terra, ... para buscarem a Deus se, porventura, tateando o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós,... como alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dele também somos geração.” Atos 17:24, 26–28. Não há nada de exclusivo quanto a ser descendente de Deus. Cada qual, em toda parte, o é; é-o todo indivíduo em todas as eras. Isso torna-se cada vez mais relevante à medida que as barreiras do tempo e do espaço continuam a desaparecer.
Poder-se-á argumentar que a própria Bíblia veio a existir porque uma nação procurou remontar sua herança através das gerações a fim de estabelecer sua identidade separada. Se deixássemos isso nesse ponto, teríamos de ler a Bíblia apenas como história pessoal de reis, sacerdotes, profetas e do povo comum daquele tempo. Mas a Bíblia, lida de um ponto de vista mais elevado, pode ensinar-nos muito mais.
Espiritualmente interpretada, a Bíblia apresenta conceitos divinos universais de imenso valor para todas as pessoas. Ela nos informa sobre a natureza de Deus, que se revela cada vez mais claramente, e sobre o impacto dessa natureza na consciência individual. Quando captamos esses conceitos, começamos a vê-los aparecer em nossa própria vivência. Descobrimos que são justos e poderosos e que são tão aplicáveis agora quanto sempre têm sido.
Por exemplo, será que lemos a história de Moisés como que começando pelo recém-nascido escondido entre o junco do rio Nilo, a fim de escapar à opressão de Faraó? De um ponto de vista mais espiritual podemos ver que essa história demonstra a natureza de Deus como Amor, que protege e cuida de Sua criação. Na travessia do Mar Vermelho, no maná que caiu no deserto, na dádiva dos Dez Mandamentos e em outras provas, vislumbramos o efeito da presença de Deus. A indestrutibilidade do homem como descendente de Deus torna-se mais firme em nosso pensamento. E apercebemo-nos de que nada de real jamais mudou. A indestrutibilidade também aplica-se à nossa identidade real.
Outrossim, será que lemos a história de Cristo Jesus como se começasse com a criança nascida na manjedoura porque não havia vaga para ela na hospedaria? A afirmação do próprio Jesus é que ele veio de Deus. Será que damos reconhecimento à dignidade do Filho de Deus, minimizando as condições materiais? Acaso nos apercebemos dessa dignidade a aparecer de novo quando o menino Jesus fala abertamente com os doutores do templo e quando a voz do céu foi ouvida, dizendo: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” Mateus 3:17.? Posteriormente o Mestre mostrou o domínio que lhe fora dado por Deus em face de toda espécie de desafios.
A estatura do homem como filho de Deus pode ficar mais firmemente estabelecida no nosso próprio pensamento. E podemos compreender que essa estatura é nossa porque somos filhos de Deus.
E quanto a nós? Acaso voltamos para nossa própria infância e sua origem material — acaso perguntamo-nos se fomos amados ou rejeitados; sobre nossos ancestrais, nacionalidade, raça, cor, riqueza, dotes? Ou será que remontamos nossas raízes à espiritualidade e percebemos que aquele que todo esse tempo pensávamos ser filho de um mortal era na realidade filho de Deus, dotado de recursos infinitos e de potencial infinito? Acaso temos, por assim dizer, uma fita magnética gravada por nós mesmos e sobre nós mesmos, que tocamos e tocamos vez após vez? Por que não gravar nova fita, espiritualmente fundamentada, e ouvi-la com regularidade, demonstrando cada vez mais o nosso eu real e indestrutível, de maneira mais convincente?
Quando compreendemos que nossa origem está em Deus, não na matéria, sentimo-nos animados a elevar o conceito que temos de nós mesmos e de qualquer outra pessoa, e a viver dentro dessa concepção sublimada. Mas a dignidade do homem como filho de Deus é o contrário da autopresunção, no sentido que comumente damos a essa locução. A Ciência Cristã mostra-nos que o homem não é um mortal importante aos seus próprios olhos, assim como também não é um mortal acanhado, um mortal tímido, um mortal relaxado, um mortal desonesto ou um mortal sem dignidade. Ele não tem ilusões de grandeza nem sentimentos rastejantes de inferioridade, porque ele não é um mortal, de jeito nenhum.
Num trecho dos escritos da Sra. Eddy sobre Deus, encontramos nossas raízes espirituais: “Eu sou o Espírito. O homem, cujos sentidos são espirituais, é minha semelhança. Ele reflete a compreensão infinita, pois Eu sou a Infinidade. A beleza da santidade, a perfeição do ser, a glória imperecível — tudo é Meu, pois Eu sou Deus. Eu dou a imortalidade ao homem, pois Eu sou a Verdade. Incluo e transmito toda felicidade, pois Eu sou o Amor. Dou a vida sem começo e sem fim, pois Eu sou a Vida. Sou supremo e dou tudo, pois Eu sou a Mente. Sou a substância de tudo, porque Eu Sou o que Sou.” Ciência e Saúde, pp. 252–253.
Talvez nos sintamos modestos demais para reivindicar nosso parentesco com tudo isso. Geralmente estamos apenas por demais apercebidos de nossas aparentes deficiências. Mas quando nos lembramos que nossa individualidade é o produto da inteligência infinita e do poder criador de Deus, será que isso é realmente demasiada expectativa? Uma planta não escolhe suas próprias características nem se rebela contra elas; ela apenas invariavelmente as expressa.
Pais, mães, avós e todos os membros desta geração remontam às mesmas raízes. Fazem isso como membros individuais da família universal de Deus, não como rebentos de um ou de outro. Cada um é em realidade uma idéia divina “arraigada e alicerçada” no Amor infinito. Cada um sempre a foi e sempre a será. Quando nos compenetramos disso, sentimo-nos mais capazes de pensar, falar e agir como filhos e filhas de Deus. Então compreendemos que Deus está bem satisfeito conosco, e nós estamos contentes com nossa linhagem.
