Certo dia seguia eu pelas encostas de uma cadeia de montanhas que se elevavam do mar. Num lugar em que a formação da linha costeira era adequada, criara-se um pequeno porto mediante a construção de um molhe. Ali pequenos barcos presos à âncora balouçavam suavemente embora enormes ondas se rebentassem de encontro à muralha protetora. Vieram-me à lembrança estas palavras da Sra. Eddy: “No Seu porto da Alma não penetra elemento algum terrestre que possa expulsar os anjos, e silenciar a intuição justa que vos conduz a salvo para o lar.” Miscellaneous Writings, p. 152.
Num mundo de tensão e agressão, ser-nos-á possível encontrar tal porto de paz, um lugar onde os anjos — os bons pensamentos — mantenham vigilância sobre nós para que a perturbação não abale nossa vida?
Sim. No entanto, esse porto da Alma não é uma localidade geográfica, mas uma realização consciente e positiva de nossa inata unidade com o Espírito, Deus, em quem “vivemos, e nos movemos, e existimos” Atos 17:28., como o diz S. Paulo. E a Bíblia, e Ciência e Saúde de autoria da Sra. Eddy, explicam como podemos viver neste porto seguro.
“Torre forte é o nome do Senhor, à qual o justo se acolhe e está seguro”, Prov. 18:10. lemos na Bíblia. A Sra. Eddy dá uma descrição compreensiva de “o nome do Senhor”, escrevendo: “Deus é Mente, Espírito, Alma, Princípio, Vida, Verdade, Amor, incorpóreos, divinos, supremos, infinitos.” Ciência e Saúde, p. 465.
Estes sete sinônimos são outros nomes para Deus e indicam Suas qualidades. O homem, idéia de Deus, é tão inseparável dessas qualidades como o é de Deus, e, em realidade, está agora expressando Deus na medida em que manifesta essas qualidades. Compreendendo dessa maneira a natureza de Deus e nosso relacionamento com Deus, podemos habitar com Deus, capazes de enfrentar eficazmente os acontecimentos, seguros e a salvo de sermos submersos pelas ondas do turbilhão do mundo.
Como idéia de Deus o homem está ancorado na Mente. Mas isto não significa que esteja estático. Uma idéia resulta sempre de ação, assim o homem é o produto da ação da Mente. Toda ação do homem baseia-se na Mente e expressa sabedoria e conhecimento. Na medida em que sustentamos essa verdade científica e vivemos de acordo com ela, somos progressivamente liberados e salvos das tormentas da ignorância ou do despotismo. Sentimos a orientação e o controle da Mente.
O homem não pode flutuar do ancoradouro da Mente. É da natureza do Espírito proteger seu descendente. A matéria, o pecado e a dor, não podem entrar no Espírito para causar dano ao homem. A materialidade é, por natureza, desprovida de poder — é até mesmo irreal — perante o Espírito. Cristo Jesus, sabedor disto, curou e, deste modo, revelou o homem real. Acalmou a tempestade no Mar da Galiléia, confiante de que Deus, a Alma, mantinha as ondas em Seu poder.
Para que nos vejamos como vivendo no porto da Alma, temos de obter uma compreensão mais clara a respeito de nós mesmos como o homem real, o filho completo de Deus, que vive e existe em união com a Alma. Ao mantermos continuamente esse verdadeiro conceito livramo-nos da crença em tensão ou em desgaste. A Alma leva-nos para as águas calmas da serenidade e delas não podemos ser varridos pelas tempestades da impaciência, intolerância ou da violência. No “porto da Alma”, a tranqüilidade e a harmonia são a ordem do dia.
Ancorado no Princípio, o homem está a salvo da anarquia, pois o Princípio sustenta o universo do Amor mediante a lei e a justiça. Quando reconhecemos sua orientação e a ela cedemos, somos levados pela estrada da justiça e da ordem.
A vida é sempre ativa e vital, por isso o homem como expressão da Vida manifesta vigor e domínio. O homem criado pela Vida apresenta energia e vivacidade sempre presentes. E a matéria, como não tem parte no Espírito e, portanto, não tem parte na Vida, não pode perturbar a estabilidade da Vida.
O homem cuja natureza é divina está certo da continuidade de seu ser na Verdade, imperturbado pelas correntes materiais. Sobre essa base é-nos possível obter o domínio divinal sobre as ilusões materiais e provar que não podemos ser cerceados por elas. A Verdade abriga-nos de todas as crenças errôneas.
O Amor divino é o Pai-Mãe de Seus filhos, abrigando-os onde nada de cruel pode alguma vez causar-lhes dano. O Amor divino mantém Seus filhos a salvo na palma de Sua mão todo-poderosa, onde o ódio ou o mal não podem chegar. Realmente não existe poder algum separado do Amor, pois Deus é Amor e é Tudo. Quão confortador é saber que em nossa verdadeira e terna identidade jamais odiamos!
Quando o autor do Apocalipse percebeu que o mar já não existe Ver Apoc. 21:1., deve ter reconhecido a natureza exclusiva de Deus na qual nenhum mal, ódio ou condenação pode entrar ou habitar. Viu o novo céu e a nova terra da criação de Deus, onde só o Amor se manifesta. Tal reconhecimento consciente de nossa parte significa um porto seguro, e nele permanecemos na medida em que compreendemos a natureza de Deus e o nosso relacionamento com Deus, e vivemos de acordo com essa compreensão.
