O Natal é tradicionalmente considerado como uma época de reunião de família, de alegria e de festança. E, para muita gente, nisso se resume o Natal. Mas que dizer daquelas pessoas que estão longe de casa ou que passam pela primeira vez o Natal sem a companhia de um ente querido? Será que também acharão alegria nessa temporada? Talvez minha própria experiência ajude àqueles que estão à procura do verdadeiro significado da alegria natalina.
O primeiro Natal depois da morte de meu marido foi melancólico. Os esforços carinhosos de amigos para me atrair a atividades joviais apenas produziram piedade de mim mesma. No ano seguinte, enquanto outros estavam preparando decorações, eu deliberadamente desfiz a ordem de meu lar, chamei pintores e tentei ignorar os feriados. Os resultados foram até mais depressivos.
Quando a temporada voltou de novo, mudei de tática e dei tratos à imaginação para achar algum meio de levar um pouco de alegria a outras pessoas cujos padrões de vida em família também tinham sido interrompidos. Isso produziu em mim um sentimento melhor em relação ao Natal e estabeleceu um modo aceitável de “passar” os feriados. No quarto ano, todavia, veio-me a inspiração que deu, desde então, significado renovado à minha celebração do Natal.
A lição bíblica no Livrete trimestral da Ciência Cristã delineava a história comovedora do nascimento de Jesus. Era reconfortante ler esse relato, não apenas como narrativa histórica, mas como uma série de metáforas aplicáveis a qualquer época e à minha situação atual. Quando considerei especialmente a manjedoura, os pastores, os anjos, a estrela e os Magos, duas coisas sobressaíram. A primeira foi a formidável e espontânea novidade dos acontecimentos. Todos os personagens pareciam dispostos a aceitar uma situação desconhecida, receptivos a um acontecimento maravilhoso e a uma promessa cujo cumprimento era esperado de há muito. Enquanto eu lia, percebi que podia começar a cultivar as qualidades espirituais descritas naquela narrativa natalina. A falta de satisfação, o desapontamento, a monotonia, a força de vontade, a desorientação não puderam reprimir minha curiosidade de pesquisar os acontecimentos divinos nem empanar minha alegria com o aparecimento do Cristo. A alegria podia ser exatamente tão natural para mim como o fora para aqueles que estiveram presentes por ocasião do nascimento de Jesus.
Uma das muitas faces da tristeza é a resistência em abandonar aquilo que é habitual por aquilo que ainda não foi tentado. Eu vi da parte de todos os que participavam da cena da natividade um grande movimento progressista. E também eu desejei ser receptiva para captar novas e maravilhosas perspectivas do Cristo, a verdadeira idéia de Deus.
O outro ponto que chamou minha atenção foi a glória espiritual associada com esse Natal na sua origem — não apenas um vislumbre superficial mas uma categoria muito alta de esplendor. Meditei meticulosamente sobre tudo isso e pude até mesmo sentir como a irritabilidade e conseqüente depressão se estavam desvanecendo. Era uma sensação gostosa.
Vi que os espaços mundanos visitados, confortáveis e visíveis, haviam sido, todos eles, preenchidos na ocasião em que essa criança especial nasceu. Foi encontrado abrigo num lugar simples, humilde e sossegado. Para mim, isso aludia a que não havia prejuízo na quietude e privacidade que haviam descido sobre meus feriados. A solidão podia ser encarada como um intervalo abrigado, no qual novas bênçãos espirituais apareceriam sem fanfarra e com menos acompanhamento material.
A narrativa bíblica continuava com os pastores. Certamente era animador considerar quão indispensáveis haviam sido aqueles pastores atentos — dedicados, vigilantes, incansáveis, corajosos quando necessário, os quais provavelmente não eram muito dados a conversas, mas que se dispuseram a maravilhar-se e a manifestar profunda veneração diante do desenrolar glorioso. A Bíblia conta que depois de os anjos lhes terem aparecido, disseram uns aos outros: “Vamos até Belém e vejamos os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer.” Depois do que, continua a narrativa: “Foram apressadamente. ...” Lucas 2:15, 16. Compreendi que a atividade mais promissora do Natal era a de nos erguermos prontamente, até mesmo com pressa, para obter a visão do bem que Deus nos proporciona e que aparece em toda nova época de experiência. É claro, elevarmo-nos até a consciência do bem podia se verificar a qualquer tempo; mas os feriados, quando toda gente sente um impulso de comemorar, pareciam oferecer uma boa ocasião para começar.
Porventura não estava eu sendo obrigada a elevar-me acima do hábito de considerar o Natal como um dia de peru assado, de grupos de cantores, e passar a contemplar, com admiração e veneração, o novo advento do bem? Não há dúvida, o bem poderia vir numa dimensão inteiramente diferente, numa dimensão espiritual, gloriosa, eterna e realizadora. Sentia-me pressurosa para ver as coisas que estavam acontecendo.
Muito reconfortada, continuei a ler. Para mim, nenhum símbolo mais encantador do que os anjos aparece nesse primeiro Natal. É impossível que a tristeza possa resistir a uma atitude contempladora de anjos! Um anjo trouxe as boas-novas, as novas da encarnação do próprio Filho de Deus. Para os pastores, essas novas eram tão brilhantes, tão acima de tudo quanto haviam imaginado, que eles viram os céus resplendentes com anjos a cantar e rejubilar. Para mim, a dádiva inesperada foi estar eu a cantar, apercebida de que minha presença, de fato a presença de cada um de nós, produz regozijo nos céus. Tais hostes gloriosas são, na certa, as que a profecia da Sra. Eddy dá a entender, ao dizer: “Quando os corações dos Cientistas Cristãos estiverem tecidos entre si, assim como os seus nomes, na contextura da história, a terra desfraldará majestosamente a heráldica dos céus, e ecoará o cântico dos anjos: ‘Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem’.” Miscellaneous Writings, p. 145.
E que dizer da estrela brilhante, em que se pode confiar? Lá estava ela brilhando — incomparável, continuamente visível, que não se podia confundir com símbolos astrológicos, não explicada pelos sentidos que estão à procura de fenômenos físicos. E, no entanto, ela era uma manifestação assaz distinta do bem que havia sido profetizado! A Sra. Eddy fala da estrela de Belém como sendo a metafísica divina, e da estrela d'alva que virá em seguida: “Na época atual essa estrela de Belém lança o olhar sobre a longa noite do materialismo — a religião material, a medicina material, um mundo material; e brilha como antigamente, embora sua luz ‘resplandeça nas trevas; e as trevas não a compreenderam’. O dia, porém, há de amanhecer e a estrela d'alva aparecerá, iluminando a penumbra, guiando os passos do progresso, para fora da molécula, e os mortais, mais para cima na escala do ser.” The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany, p. 110.
Minha penumbra pessoal tinha sido uma teimosa determinação de conservar todas as coisas como haviam sido até então, um apegar-se a pequenas tradições confortáveis. Que incoerência! A existência tem de ser guiada pela Mente e ser espiritualmente progressiva. De que modo poderia eu esperar que os símbolos exteriores ficassem parados? Não há tempo para arrastar a existência em ressentimento e desapontamento. De olhos voltados para essa estrela d'alva, eu a vou seguindo.
Será que eu podia identificar-me com os Magos, de alguma maneira imediata? Eles foram capazes de perceber a orientação da Mente e de persistir em segui-la. As suas oferendas de alto preço e fragrância tinham a intenção de transformar o ambiente rústico e de honrar a bondade. Vi essas oferendas como manifestação de agradecimento e de reverência pelo Cristo, e decidi fazer o mesmo.
A visão metafórica da narrativa do Natal elevou minhas expectativas a uma noção de que havia novas oportunidades, uma aventura espiritual. Agora posso aguardar prazerosamente muitas novas maneiras de entender o Natal. A glória, a ternura, a simplicidade, a receptividade e uma completa inversão das tradições dos mortais, descritas na narrativa bíblica daquele primeiro Natal, restauraram-me a alegria e proporcionaram-me o ânimo para transcender com inspirações renovadas aquilo que anteriormente era para mim apenas uma temporada de festividades.
A cada temporada de Natal podemos acolher uma indicação dos Magos, montar com alegria nossos camelos e cruzar o deserto do O-Que-Virá-Depois, levando conosco as oferendas de expectativa e de admiração, bem embrulhadas, não nos papéis fantasia dos feriados, mas nas folhas de ouro da oração.
