Lembro-me daquele dia como se fosse ontem. Contava doze ou treze anos, e admito que não foi esse o período mais feliz de minha vida. Eu queria muito ser considerada simpática, mas sentia-me sempre tão impopular. Minhas roupas não eram lá da última moda, eu nunca sabia do que falar, especialmente com os rapazes. De vez em quando, minha mãe lembrava-me que esses eram os dias mais felizes de minha vida, e que eu devia aproveitá-los. Eu pensava: “Se são esses os mais felizes, não quero nem pensar no que me espera.”
Num desses “dias felizes” em particular, eu esquecera minha roupa de ginástica, e o instrutor de educação física me fizera jogar “baseball” de vestido, o qual era rosa e azul. Já teria esquecido há muito desse detalhe, se não fosse por Bárbara. Ao passar pela terceira base, ouvia-a gritar: “Olhem aquele elefante rosa e azul!” Foi a gota. Eu sentia-me mesmo bastante grandona e desajeitada, por isso o comentário dela acertou em cheio.
“O que se faz num caso desses?” perguntei-me. Fingi não ter ouvido e simplesmente continuei a correr. Mas então pus-me a refletir seriamente. Por que não voltar para trás e dizer-lhe poucas e boas? Eu não podia fazê-lo. Por que não? Porque não fora dessa forma que aprendera a enfrentar mesquinharias. Eu ia a uma Escola Dominical da Ciência Cristã desde que aprendera a andar, e mais de uma vez ouvira que quando as pessoas falam ou agem mal, devemos voltar-lhes a outra face. Foi assim que Cristo Jesus nos instruiu Ver Mateus 5:39., e a Ciência Cristã me ensinara a seguir seus ensinamentos. Assim, pois, voltei a outra face. (Estava tão vermelha quanto a primeira.)
Olhei então para Bárbara. Ao redor dela estava um grupo grande de meninas, todas rindo. Nunca soube que Bárbara tivesse voltado a outra face. Ela não sabia que era essa a coisa certa a fazer, porque não lho haviam ensinado. Bárbara era bastante livre e folgada em seu estilo de vida. Embora também ela só estivesse com doze ou treze anos, fumava, bebia, e se envolvia em atividades sexuais. Tudo o que não se devia fazer, ela estava fazendo. Bárbara parecia feliz. Pensei em minha vida, comparada com a dela, e a minha parecia bastante aborrecida.
Mais tarde, comecei a debater-me com algumas duras questões. “Por que me esforço tanto para fazer as coisas certas? Será que é tão importante?” Naquela idade, muitas vezes não parece ser tão importante. Meu dia começava com a leitura da lição bíblica, conforme consta no Livrete trimestral da Ciência Cristã. O dela, não. Meus pais diziam que eu poderia extrair da lição orientação e visão valiosas. Nunca me era permitido faltar à Escola Dominical, ou à reunião de testemunhos às quartas-feiras. Meus pais diziam que os ensinamentos da Bíblia eram tão importantes para nossa vida, que devíamos aproveitar todo auxílio que conseguíssemos a respeito de como utilizá-los. Eu realmente acreditava nisso, lá no fundo, e sabia quanta ajuda esses ensinamentos me proporcionavam. Mas Bárbara e outros idênticos a ela pareciam estar se saindo muito bem sem qualquer ensinamento religioso.
“Então, que escolha me resta?” indaguei. “Abandonar os ensinamentos religiosos que recebo e escolher uma maneira de vida totalmente diferente? Não. Por quê? Porque, do contrário, meus pais mandar-me-iam embora?” Bem, pode ser que mandassem. Mas, ao refletir em profundidade, concluí que as normas de vida que eu adquirira como jovem Cientista Cristã praticante, não eram mais simplesmente normas da igreja, ou de meus pais; havia feito delas os meus próprios padrões. Pela primeira vez em minha vida, dei-me conta de que praticamente toda decisão que tomava durante o dia, era baseada no que havia obtido com o estudo da Ciência Cristã.
A posição firme de nossa igreja contra o álcool e o fumo, fazia sentido para mim. Aprendemos que a felicidade e a satisfação são encontradas em Deus, não em apetites falsos e escravizadores. Quanto ao sexo, determinado trecho de Ciência e Saúde parecia-me tremendamente lógico. A Sra. Eddy afirma: “A castidade é o cimento da civilização e do progresso. Sem ela não há estabilidade na sociedade humana, e sem ela não se pode alcançar a Ciência da Vida.” Ciência e Saúde, p. 57. O desejo de ser bondosa com todos — inclusive com aqueles que não estavam sendo bondosos comigo — de ser honesta em minhas relações, e de trabalhar bastante, tudo parecia fazer parte da disciplina que eu adquirira através da Ciência Cristã. Compreendi que não tinha intenção de desviar-me dela, mesmo se outros à minha volta pareciam estar se divertindo mais.
Penso ter compreendido que, pela primeira vez em minha vida, eu estava realmente decidindo-me por algumas opções, e pareciam ser as certas. Intuitivamente, senti que chegaria a época em que essas opções teriam significado maior do que simplesmente o de fazer a coisa certa e não se meter em encrencas. Elas frutificariam em minha vida. Pensei naquilo que Josué diz, na Bíblia: “Escolhei hoje a quem sirvais.” Josué 24:15. E parecia ser, realmente, como o grande dia da decisão. Pensei então em outro trecho de Ciência e Saúde: “Tuas decisões te dominarão, seja qual for o rumo que tomarem.” Ciência e Saúde, p. 392. Pela época em que eu entrava na adolescência, minhas decisões já tomavam rumo definido, e, com elas, toda a minha vida também.
A esta altura, você poderá desafiar-me com uma pergunta importante: o que torna a Ciência Cristã tão especial? Não há outras religiões que também ensinam padrões morais elevados? Claro que há. Algumas advogam a abstinência total ou parcial do álcool e do fumo. Não muitas, entretanto, ajudam seus seguidores a permanecerem completamente livres das drogas. Tantos tipos de drogas têm sido consideradas legais por tanto tempo — aspirina e pílulas emagrecedoras, por exemplo — que a maioria das pessoas acabou aceitando alguma forma de uso das drogas, como sendo desejável. Estamos consideravelmente sozinhos nessa questão.
Mas, poderia você argumentar, há algumas poucas igrejas que ensinam a abstinência total. No que nos diferenciamos delas? Será que um adolescente de outra religião, assaltado pelas mesmas tentações, resolveria seus problemas da mesma maneira que um Cientista Cristão? Há clara diferença entre a Ciência Cristã e todas as outras religiões. Você deverá tê-la ouvido na conclusão da Escola Dominical. Trata-se da primeira linha da “exposição científica do ser” de autoria da Sra. Eddy em Ciência e Saúde e que começa assim: “Não há vida, verdade, inteligência, nem substância na matéria.” Ibid., p. 468. Se uma droga, ou bebida, ou erva de qualquer espécie não têm em si substância alguma, o que têm para oferecer?
Os Cientistas Cristãos aprenderam a esforçar-se para não se apoiar em quaisquer estímulos artificiais para manterem-se felizes, saudáveis, ou confortáveis. Não nos voltamos para drogas quando temos dor de cabeça, e não nos voltamos para elas quando problemas começam a avolumar-se. Volvemo-nos para Deus, o Espírito divino, não para a matéria, para obtermos toda ajuda. Nada vemos de substância genuína na matéria, seja esta chamada pílula, bebida ou erva. Qualquer conforto, ajuda ou solução que a matéria pareça oferecer, não é, afinal, digna de confiança. As pessoas que aprenderam a se voltar a Deus para qualquer aspecto de seu bem-estar, abstêm-se das muletas do álcool ou dos narcóticos, não por serem obrigadas a isso, mas porque não é possível que essas coisas supram o que é realmente necessário — a compreensão de Deus. Usando uma analogia, não é terrivelmente difícil não querer roubar dinheiro falso.
Até agora, nesta história, não se tirou nenhuma conclusão sobre quais as escolhas que você estará fazendo. Simplesmente temos dito que essa foi a época em que eu estava tomando decisões, e que senti estar tomando as decisões que teriam forte influência no resto de minha vida. Você poderá achar que a escolha de Bárbara foi a melhor, porque ela estava se divertindo mais. Talvez minha opção lhe pareça um tanto antiquada.
Uma coisa é dizer que determinada escolha é a melhor, e outra é sustentá-la com provas. Sabe, eu estava levantando as mesmas perguntas que talvez você esteja fazendo ao ler este artigo: Será que as normas da Ciência Cristã valem a pena, ou estarei simplesmente tentando agradar alguém?
Elas valem a pena. Vamos dar um salto de vinte anos para frente, para uma reunião de ex-alunos. Os padrões que eu adotara me haviam sido úteis. Seguindo a direção de Deus a cada passo do caminho, eu mudara de uma faculdade para outra, de uma carreira compensadora para outra, fizera bom casamento, e tinha agora três filhos que estavam fazendo o melhor que podiam para manter os mesmos padrões elevados, com o auxílio dos ensinamentos da Ciência Cristã. Planejava-se a reunião de nossa antiga turma de formandos, e aceitei fazer o discurso. Alguém explicou: “Você foi a única que sempre teve todos os parafusos no lugar.” Quem? Eu? Eu tinha todos os parafusos? Tudo o que alguma vez tivera, haviam sido as coisas que acabei de contar. Compreendi, então, que essas eram tudo quanto necessitara.
A reunião foi bem. Estava quase na metade do discurso quando percebi o olhar de alguém na última fila. Era Bárbara, sentada sozinha, e longe de estar sóbria. A bebida tinha cobrado seu tributo. Soube mais tarde que o casamento dela havia fracassado. Eu teria gostado de oferecer-lhe algum encorajamento, mas ela foi embora em silêncio, antes que qualquer um pudesse se aproximar dela.
Não é tarde demais para você. Está ouvindo? Você pode ter amigos que fumam maconha, ou que tomam cocaína, ou que cheiram cola, e brincam com todo tipo de fogo. Lógico, muitos deles acabam eventualmente se endireitando, ainda que não se voltem para a Ciência Cristã. Mas, por que dar cabeçadas? Juntando-se a eles você provavelmente acabará se queimando, ou poderá abster-se e caminhar rumo à liberdade espiritual. Você pode seguir a massa, ou seguir o Cristo. A vida é sua.
    