Que lugar ocupa na vida religiosa a leitura de livros? Podemos encontrar Deus sem livros e ensinamentos? Muitos diriam que a resposta à segunda pergunta é obviamente “sim”, pois que toda e qualquer revelação de Deus deve alguma vez ter ocorrido, antes que pudesse ter sido registrada. A resposta à primeira pergunta é individual. Abrange, desde a pessoa que, apesar de não saber ler, vive de acordo com os preceitos espirituais iluminados de sua cultura, até o mais douto dos especialistas em Bíblia.
Cristo, a manifestação de Deus, está sempre presente para cada indivíduo. A revelação crística não está restrita a livros nem é percebida apenas pelo intelecto humano. A revelação registrada em livros, porém, possui na vida humana lugar inestimável, varando os séculos e colocando o pensamento atual em contato com profetas e apóstolos e preparando-nos para ouvir diretamente a mensagem de Deus. A Sra. Eddy escreve: “Ficai também certos disto, que livros e ensinamento são apenas uma escada descida do céu da Verdade e do Amor, pela qual os pensamentos angelicais sobem e descem, trazendo em suas asas de luz o espírito de Cristo.” Retrospecção e Introspecção, p. 85.
A Sra. Eddy, nessa afirmação, alude à experiência de Jacó quando este fugia de Berseba: “E sonhou: Eis posta na terra uma escada, cujo topo atingia o céu; e os anjos de Deus subiam e desciam por ela.” Gênesis 28:12.
Muitas pessoas encontraram, em Ciência e Saúde, uma escada preparada para elas, a qual liga sua experiência àqueles séculos em que se revelou a bondade de Deus. Esse livro de autoria da Sra. Eddy contém o registro da Ciência Cristã e lança luz sobre trechos bíblicos apreciados, de tal forma que torna vividamente aparente em nossa época o espírito do Cristo. Realmente, anjos fazem uso dessa escada. Se não o fizessem — se a inspiração espiritual não acompanhasse a leitura de Ciência e Saúde e da Bíblia — as palavras pouco significado teriam para nós.
Se o que falta é a oportunidade de ponderarmos o que lemos — se meramente nos apressamos em terminar a leitura da lição-sermão Do Livrete trimestral da Ciência Cristã. ou em concluir a tarefa de ler algo — podemos perder as intuições espirituais e o discernimento que nos transformariam. Muitos fizeram planos de completar a leitura da Bíblia dentro de determinado período de tempo. Essa é uma boa idéia se o planejamento em si não se tornar preponderante; isto é, se nos permitirmos tempo suficiente para fechar os livros e deixar que a mensagem do Cristo nos atinja o coração.
Duas cartas do capítulo “Frutos” do livro Ciência e Saúde abordam especificamente este ponto. Uma delas inicia na página 661 e tem por título: “Nascida de novo.” A autora escreve: “Abri Ciência e Saúde e deparei com estas palavras: ‘Se compreendêssemos Deus, em vez de meramente crermos nEle, essa compreensão estabeleceria a saúde’ (p. 203). Depreendi que tinha de obter a compreensão correta acerca de Deus! Fechei o livro, e, com a cabeça inclinada em oração, esperei ansiosamente alguma resposta.” A resposta veio, e a missivista continua: “Eu caminhava, por assim dizer, sobre terra santa.” Ciência e Saúde, p. 662.
A outra carta, que inicia na página 646, intitula-se: “Investigação convincente” e diz, em parte: “Abri o livro pela primeira vez e, mais ou menos no meio, encontrei um parágrafo que me atraiu a atenção. Li e reli o mesmo parágrafo por quase duas horas. Quando a campainha soou para o chá, fechei o livro e nunca esquecerei a percepção que tive do novo céu e da nova terra...” A autora prossegue: “... e ao começar o dia seguinte, senti-me mais do que nunca com vontade de trabalhar.” Ibid., p. 646.
Desnecessário é dizer que, para que os possamos fechar, devemos ter aberto os livros. O que fazemos, porém, depois que fechamos nossos livros de texto, Ciência e Saúde e a Bíblia, é vital. Se os fechamos no espírito do “pronto, minha obrigação está feita”, nossa leitura será escada assaz baixa, que mal e mal alcancará acima de nós. As palavras desses livros, no entanto, lidas e relidas, ponderadas e, às vezes, regadas de lágrimas, até mesmo, talvez, rebatidas com rebeldia, se lhes permitirmos que nos agitem os pensamentos, trarão a nós o novo nascimento e, com ele, o poder sanador. A intensidade ardente da oração, impelida pelas exigências da lei espiritual e inspirada pelos vislumbres do amor de Deus, levar-nos-á além da individualidade mortal e nos auxiliará a ver a verdadeira natureza crística do homem. Não apenas iremos sentir as mensagens angelicais descendo até nós, mas também em nós irá subindo a decisão de viver vida melhor, de seguir mais de perto nosso Guia, Cristo Jesus. Quando essas orações de promessa sobem ao nosso Pai, talvez venhamos a ouvir de Deus o que ouviu Jacó: “Em ti e na tua descendência serão abençoadas todas as famílias da terra.” Gênesis 28:14.
O travesseiro de Jacó, quando este vislumbrou a escada sobre a qual os anjos subiam e desciam, era uma pedra. Muitas vezes, uma percepção da dureza de nossa experiência terrena faz-nos recorrer a nossos livros. Nossa leitura não deve ter em vista meramente sair do problema ou do conhecimento do sofrimento — não simplesmente entregar-nos à beleza da revelação. Nossa leitura deve ter o propósito de tornar esse sofrimento — que nos pode ter acometido por estarmos lutando contra os males do mundo — em oportunidade de cura. Ao fazer uma súmula da experiência de sofrimento resultante do pensamento alheio, como no caso específico da vida de nosso Mestre, a Sra. Eddy escreve, sobre Cristo Jesus: “Esse evangelho de sofrimento trouxe vida e felicidade. Esse é o Betel terrestre em pedra — seu travesseiro, que apóia a escada que atinge o céu.” Unity of Good, p. 57.
Quando nos recusamos a permanecer simplesmente com a alegria de uma revelação que não é colocada à prova — isto é, quando exigimos de nós a aplicação, em nossa vida e na vida de outros, do que percebemos da bondade divina — achamos a rocha sólida que apóia nosso contínuo aprendizado de Deus. Cerrar os livros e viver as palavras em obras sanadoras assegurará que anjos nos acompanharão na vez seguinte em que os abrirmos.
