Sempre gostei da injunção de John Donne. E, desde que comecei a estudar seriamente a Ciência Cristã, tenho encontrado naquela injunção significado ainda maior.
Entre os mandamentos que Cristo Jesus deixou aos seus discípulos há o quase inacreditável: “Ressuscitai mortos.” Mateus 10:8. Milhares de Cientistas Cristãos tiveram curas físicas, curas baseadas na compreensão espiritual da perfeição do verdadeiro ser do homem como descendente de Deus. No entanto, apesar das vitórias do próprio Jesus sobre a morte, e apesar de sua promessa de que os fiéis a seus ensinamentos conseguiriam realizar obras idênticas às suas e até maiores, o desafio de vencer a própria morte, às vezes, intimida até o mais corajoso dos cristãos. Pode-se realmente conseguir essa vitória? É válida a promessa?
O progresso espiritual vem gradualmente. Continuamente sou lembrado disso por uma das orações que meu filhinho e minha filhinha recitam cada noite antes de adormecer. É de autoria da Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã, Mary Baker Eddy:
Pai-Mãe, o bem, com amor
A Ti busco eu —
Paciente, calmo,
Vou no caminho Teu —
Seja lenta ou veloz
A ascensão a Ti.Miscellaneous Writings, p. 400.
Compreender a metafísica cristã que se faz necessária para vencer a morte, exige fé inabalável e profundamente humilde. Deus é Vida, e Deus é Tudo. Seu reflexo, o cosmo espiritual e o homem espiritual, expressa Vida e nada menos. A morte nunca está presente na totalidade da Vida nem em sua criação perfeita. Por isso, a morte não faz parte da realidade. Ela parece monumental à falsa crença mortal. No entanto, a morte é impotente na presença da Vida, pois a Deus pertence todo o poder que existe.
O conceito de morte está baseado na pretensão errônea de que a vida está contida na matéria, está sujeita à matéria e, por fim, a abandona no passamento. Essa crença toma muitas formas e não está restrita ao momento da expiração. Esse momento, de fato, poderia deixar de ocorrer de todo se fossem destruídas, por meio da Ciência divina, as pequenas “mortes” da existência diária — sugestões de idade, dor, perda de esperança, e pesar. Ajudamos a vencer essas sugestões ao percebermos que, de certo modo, o próprio pecado é morte, pois o pecado é a ação falsa que ignora que a Vida, Deus, é Tudo-em-tudo. O pecado é muito mais do que mera desobediência. Falando de modo amplo, pecamos sempre que pensamos ou agimos de maneira oposta ao bem, Deus.
Estar em oposição a Deus é a natureza do mortal. Mas o criador do homem é o Amor; assim, alimentar para com alguém pensamentos de rancor (ou mesmo de fria indiferença) é erro, é pecado. Aceitar como real qualquer forma de discórdia, inclusive o terrível desfile de doenças da mente carnal, é pecado. Acreditar que o erro tenha qualquer forma ou mente — quando Deus é que é Mente e Deus é infinito — é pecado. Pensar que alguma vez estivemos ou que haveremos de estar separados de Deus — que seremos menos do que a testemunha espiritual perfeita de Sua glória eterna — é pecado.
Essas falsas crenças engendram o medo. O medo é a força do pecado, e a morte é o medo elevado à enésima potência. Mas, em verdade, é impossível ao Amor e a sua idéia, o homem, ficarem separados. Compreender verdadeiramente esse ponto destrói o medo, destrói o pecado e, em última instância, vem a destruir a própria morte. Na Bíblia lemos: “O aguilhão da morte é o pecado.... Graças a Deus que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo.” 1 Cor. 15:56, 57.
A salvação total do pecado e da morte está ao alcance de cada um, mas é um processo gradativo que envolve tremendo crescimento espiritual. A Sra. Eddy escreve em Ciência e Saúde: “A autora curou doenças orgânicas consideradas incuráveis e despertou moribundos para se tornarem conscientes da vida e da saúde pela compreensão de que Deus é a única Vida. É pecado crer que algo possa ser mais poderoso que a Vida onipotente e eterna, e essa Vida tem de ser trazida à luz pela compreensão de que não há morte, bem como por outras graças do Espírito. No entanto, temos de começar pelas demonstrações mais simples de domínio, e quanto mais cedo começarmos, melhor será. A demonstração final leva tempo para ser realizada.” Ciência e Saúde, pp. 428–429.
Qualquer afirmação da vida, de harmonia e domínio crísticos que demonstremos em nossa experiência, precisa ser apreciada como vitória sobre a morte. A cura do sentimento de luto é uma dessas conquistas, e seu significado nunca deveria ser subestimado. É uma vitória inequívoca sobre a morte. Se, quando entes queridos passaram de nossa vista, percebermos verdadeiramente que sua identidade espiritual perfeita ainda está intata no Pai — na Vida — teremos contribuído para solapar a crença na morte. O pesar é, freqüentemente, enfeitado com pompas fúnebres. No entanto, o pesar pode ser exalçado, pode ser transformado em alegria, quando vemos mais além dos ritos mortais a eternidade da Vida ativa, expressa no filho da Vida, o homem.
Quando minha mãe faleceu há alguns anos, orei profundamente por um renovado conceito da Vida — e o alcancei. Fui maravilhosamente protegido do pesar. Eu não a amava menos, e sentia sua falta, mas não fui dominado emocionalmente pelo temor ou pelo pesar. A Vida e o Amor divinos me fortaleceram e confortaram.
Em certo grau, eu havia compreendido que não poderia haver vida na matéria; que quando as pessoas passam além desta existência não deixam de existir, pois o ser espiritual individual, em verdade, nunca existiu na matéria. Percebi que o homem é espiritual, é idéia divina abraçada por Deus, a Vida eterna. Quando reconheci que a segurança perfeita e a continuidade infinita são os fatos do ser do homem, minha consciência foi espiritualizada pelo Cristo, e o pesar foi totalmente curado. As palavras da Sra. Eddy explicam a visão: “Um corpo mortal e material não é a individualidade real do homem, feito à imagem divina e espiritual de Deus. O corpo material não é a semelhança do Espírito; por conseguinte não é a verdade do ser, mas a semelhança do erro — a crendice humana que diz haver mais de um Deus — haver mais de uma Vida e de uma Mente.” Rudimentos da Ciência Divina, p. 13.
A lei benéfica da Vida governa a criação. A morte está fora da lei; não tem princípio, pois o Princípio é Deus; daí, no reino de Deus, a morte não é nem imanente nem inevitável. Os acontecimentos humanos nunca precisam nos intimidar. Com gratidão, aceitamos as oportunidades de cura que exigem de nós “demonstrações mais simples de domínio”. Embora nossas vitórias sobre a morte sejam, a princípio, modestas, elas se multiplicarão até que o “último inimigo” venha a ser finalmente vencido. A última linha do poema de Donne declara a vitória:
“Morte, tu morrerás.”