Se Neemias não tivesse abandonado a relativa segurança do palácio real em Susã, provavelmente Sambalá e Tobias não teriam ficado sabendo de sua existência. Respondendo ao chamado de Deus para reconstruir o muro de Jerusalém, Neemias provocou a fúria deles — fúria tão intensa que, em certo ponto, o fez clamar: “Ouve, ó nosso Deus, pois estamos sendo desprezados.” Neemias 4:4. Mas, fossem quais fossem as táticas que seus inimigos empregaram para derrotá-lo, a firme convicção de Neemias de que Deus tinha o controle da situação e o faria progredir no trabalho, capacitou-o para terminar seu empreendimento.
Essa mesma convicção estava no âmago da carreira sem igual de Cristo Jesus. Por causa de sua maravilhosa demonstração do poder de Deus na cura dos doentes e dos deficientes, redimindo pecadores, ressuscitando mortos e fazendo outras obras maravilhosas, Jesus surgia como ameaça aos membros das religiões estabelecidas. Em conseqüência disso eles conseguiram sua crucificação
Sua advertência aos seus seguidores: “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim” João 15:18., mostra ter ele estado na expectativa de que também seus seguidores teriam de enfrentar a resistência do mundo. De maneira que Cientistas Cristãos não devem surpreender-se por terem de enfrentar oposição. O desafio básico é sempre o mesmo: o desafio do materialismo.
Sistemas políticos consideram a força material quase como tudo quanto importa, ao passo que a Ciência Cristã adere ao ensinamento bíblico de que o poder pertence a Deus e é inteiramente espiritual.
Na preservação da saúde, o consenso geral é o de que o homem é um organismo material e que a saúde é mantida unicamente mediante tratamento médico — levando-se em conta que, em alguns casos, a mente humana pode produzir benefícios limitados mediante o emprego da psicologia e da psiquiatria. No polo oposto, a Ciência Cristã insiste em que a ação da Mente divina, Deus, sobre a consciência humana cura males físicos e mentais.
No terreno religioso, os ataques furiosos contra a Ciência Cristã se originam geralmente da sua explicação de que Deus não criou a matéria nem a conhece, e de que o homem não é um mortal pecador, mas sim, na verdade absoluta, é o reflexo puro e perfeito de Deus; que o homem não é material, mas espiritual.
Nas ciências físicas, embora se tenha verificado algum progresso em romper as limitações da matéria e do tempo, não há nenhuma concordância real com a posição da Ciência Cristã de que a matéria e o tempo são fundamentalmente conceitos mortais que precisam ser completamente superados.
A Sra. Eddy afirma claramente a responsabilidade que têm os Cientistas Cristãos de enfrentar esses desafios do materialismo. Depois de explicar que a afirmação de Paulo, “Pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos”, é idêntica à declaração dela: “Não há vida, verdade, substância nem inteligência na matéria”, ela escreve: “Se a Criência Cristã reitera o ensinamento de S. Paulo, nós, como Cientistas Cristãos, devemos dar ao mundo a prova convincente da validade dessa declaração científica do ser. Tendo percebido antes dos outros esse fato científico, temos para conosco e para com o mundo a obrigação de lutar por sua demonstração.” Retrospecção e Introspecção, pp. 93—94; cf. Atos 17:28 e Ciência e Saide de autoria da Sra. Eddy, 468:8—15.
A Bíblia e os escritos da Sra. Eddy mostram como perseverar nessa luta e como lidar com a perseguição que ela possa trazer. Jesus ensinou incessantemente que o ódio devia ser enfrentado com paciência. Quando os habitantes de uma aldeia samaritana recusaram receber a ele e aos discípulos, Tiago e João propuseram mandar descer fogo do céu para consumir os aldeãos. O Mestre, porém, repreendeu-os com a admoestação: “Vós não sabeis de que espírito sois. Pois o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salválas.” Lucas 9:55, 56.
Salvar a humanidade da doença, do pecado, da pobreza, da morte — todas as tribulações da mortalidade — era o que, com tanto amor, o Mestre ansiava levar a efeito. Que ele era capaz de inspirar esse amor nos seus discípulos está evidenciado na grande alegria que vemos na vida deles, ao irem pelo mundo fora pregando e curando no modo em que ele os havia instruído. Mesmo quando relatam graves perseguições, o livro dos Atos e as cartas do Novo Testamento brilham com o fulgor do privilégio que esses trabalhadores dos primeiros tempos sentiam ser o levar avante a obra de Jesus. Com a ajuda de Deus, convertiam adversidades em oportunidades para provar o Seu poder.
Numa epístola de João, o autor fala de experiência própria no amor que protege o cristão devoto: “Nós conhecemos e cremos o amor que Deus nos tem. Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele. Nisto é em nós aperfeiçoado o amor, para que no dia do juízo mantenhamos confiança; pois, segundo ele é, também nós somos neste mundo. No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo.” 1 João 4:16—18.
Que outra coisa senão uma profunda compreensão do amor de Deus poderia ter sustentado Paulo nas perseguições que incluíram o ter sido ele apedrejado, espancado, ter sofrido naufrágio e ter sido lançado na prisão? Paulo alude a Deus como sendo Princípio divino, a operar mediante lei, quando declara: “Sabemos que todas as cousas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” Conseqüentemente, acrescentou: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” Romanos 8:28, 31.
Também nós podemos conhecer o amor de Deus e manter nossa alegria mesmo que tenhamos de fazer face à perseguição. Essa demonstração requer de nós compreendermos que não existe alguma mente má para iniciar hostilidades, pois Deus, a única Mente e criador, cria somente o bem. Mesmo que o mal pareça real, não pode penetrar o amor de Deus que nos envolve. Quando reconhecemos a presença do Amor divino, o ódio cessa até mesmo de parecer existir — exatamente como a escuridão não pode coexistir com a luz. Uma vez que nosso ser verdadeiro é espiritual, é ele invulnerável ao mal. A Sra. Eddy explica que a segurança advém do ser espiritual: “O ‘esconderijo do Altíssimo’, que Davi cantava, é inquestionavelmente o estado espiritual do homem na própria imagem e semelhança de Deus, o próprio santuário interior da Ciência divina, em que os mortais não entram sem uma luta ou experiência cruciante e em que se despojam do humano em troca do divino.” The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany, p. 244.
Despojar-se do “humano em troca do divino” é a única coisa que realmente é preciso fazer. Se a perseguição promove nosso progresso espiritual porque nos força a abandonar o materialismo, ela resulta em bênção. Essa bênção se estenderá ao mundo quando, em nossa vida, dermos prova do domínio que procede de uma crescente compreensão do ser espiritual, verdadeiro, do homem.
O quanto urge demonstrar a verdade da Ciência Cristã em nossa vida ressoa nas seguintes palavras da Sra. Eddy: “Nunca se fez um chamado mais imperativo e mais solene do que aquele que Deus faz a todos nós, aqui mesmo, de uma devoção fervorosa e uma consagração absoluta à maior e mais santa de todas as causas.” No parágrafo seguinte, ela pergunta: “Que fareis quanto a isso?... Entregar-vos-eis inteira e irrevogavelmente à grande obra de estabelecer a verdade, o evangelho e a Ciência necessários para ao mundo salvar do erro, do pecado, da doença e da morte?” Miscellaneous Writings, p. 177.
Respondamos: Sim. Não um sim de entusiasmo cego, mas uma afirmação humilde de nossa boa vontade em deixar de um ancoradouro seguro, como Neemias deixou, e ir adiante no trabalho que nos foi indicado por Deus. O ensino e o exemplo de Cristo Jesus traçam o caminho. A determinação alegre dos primitivos cristãos mostra-nos que os rigores da perseguição são menos capazes de nos desanimar quando começamos a compreender a magnitude da verdade que temos para repartir. A coragem e a consagração da Sra. Eddy, no seu trabalho de Líder do movimento da Ciência Cristã, provam o que pode fazer um só indivíduo completamente devotado a uma causa grande e santa.
Deus, a Mente divina, proverá sempre a sabedoria necessária para estabelecer o Seu reino na terra. A Verdade imortal sempre foi e continuará a ser a rocha sobre a qual se baseiam a coragem, a persistência e a integridade daqueles que são fiéis a Deus.
O Espírito infinito, como manancial que nunca seca, verte eternamente a energia, a vitalidade, o frescor e a espontaneidade espirituais. Por ser sustentada pela Vida divina, a nossa Causa triunfa sobre o materialismo. A Causa vai adiante, demonstrando progressivamente harmonia e inteireza na sua missão para o mundo.
A influência da Alma onisciente abrirá os olhos e os ouvidos da humanidade de maneira que já não estarão cegos e surdos para a Ciência do Cristo. Graças ao sentido espiritual, discernirão sua lógica e sentirão a cura que vem com o despertar espiritual.
O Amor divino é nosso terno Pai-Mãe, que continuamente nos ama, nos protege e nos sustenta. Quando as pessoas começarem a compreender melhor Deus, conscientizar-se-ão em maior plenitude do poder curativo do Amor e verão que esse poder dissipa a neblina do medo e do ódio.
Uma contínua sublevação talvez caracterize o período que precede a dispersão dessa neblina e que desfaz as diferenças que separam da Ciência Cristã a medicina, as ciências físicas e as políticas, bem como as muitas formas de religião. Se esse for o caso, precisaremos, com maior meticulosidade, armar-nos dos fatos científicos claramente apontados nos nossos livros-texto, isto é, na Bíblia, e em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras de autoria da Sra. Eddy, e revestir-nos do amor a Deus e ao nosso próximo. Confiando em Deus e apoiando-nos no Seu amor para fazer confiantemente face aos desafios dos dias atuais, pagaremos nossa dívida para conosco e para com o mundo.