Deus e Sua família de idéias espirituais permanecem em total acordo. No Amor infinito não há lugar para parcialidade ou inimizade. A semelhança muito amada de Deus, o homem, expressa amor infinito e invariável.
A afeição humana, entretanto, parece longe de ser imparcial. O forte apego por aqueles que nos são caros costuma coexistir com o frio desinteresse por aqueles aos quais não estamos ligados. É difícil perceber, às vezes, que é preciso moderação. Não obstante, Mary Baker Eddy repudia decisivamente em seu livro Miscellaneous Writings o sentido mortal de amor/ódio. Escreve: “O mal era, e é, a ilusão de que se pode desobedecer ao Primeiro Mandamento: ‘Não terás outros deuses diante de mim’; é idolatrar algo e alguém, ou odiá-los; é o espírito de idolatria, inveja, ciúme, cobiça, superstição, luxúria, hipocrisia, feitiçaria.” Mis., p. 123.
Essa denúncia enfática do sentido pessoal não deveria surpreender-nos. Afinal, quando perguntaram a Cristo Jesus qual era o grande mandamento da lei, ele respondeu à pergunta e foi além: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” Mateus 22:37–39.
Amar o próximo espiritualmente, em harmonia com o conselho do Mestre, coincide com amar a Deus. A humanidade ideal expressa o perfeito amor. Mas para nos ajudar a demonstrá-lo, Miscellaneous Writings explica: “Deveríamos medir nosso amor a Deus, pelo nosso amor ao homem....” Mis., p. 12.
Os mandamentos de Deus, à proporção que são obedecidos, ajudam-nos a dar prova de que amar ao próximo está de mãos dadas com o amar a Deus. Tomemos, por exemplo, um pai cujo filho amado recusa-se a obedecer preceitos morais e espirituais. Uma atitude mal-humorada, seja por parte do pai, seja por parte do filho, poderá significar que, caso o outro insista em sua posição, o relacionamento irá ficar seriamente prejudicado. Será que nossas afeições deveriam esquentar ou esfriar de acordo com sentimentos mortais? A qualquer das partes em um aparente impasse é possível, através da oração, demonstrar a Ciência do Cristo e despertar espiritualmente para o fato de que o homem é realmente inseparável do amor sagrado, invariável.
Qualquer um pode provar que a lei do Amor reconcilia as relações humanas. Mas não se pode obter nenhuma solução para afeições estremecidas forçando ou contornando a questão de duas vontades postadas uma contra a outra. Se quisermos curar diferenças, devemos fortalecer nossa compreensão e convicção de que há só uma vontade — a de Deus — a governar tudo sem exceção e sem resistência.
Alicerçando os dois grandes mandamentos, encontramos leis poderosas que não excluem ninguém. Há um só Deus? É Deus Amor? Estão Seus filhos todos incluídos no Amor? Portanto, todos amam e são amados, são obedientes às leis do Amor, que não mudam, nem podem ser mudadas. O homem real, ideal, não pode rebelar-se contra o Amor nem reagir ao que contra o Amor se rebela.
É o homem realmente um mortal capaz de resistir às injunções divinas? Em Ciência e Saúde a Sra. Eddy explica: “Os códigos humanos, a teologia escolástica, a medicina material e a higiene acorrentam a fé e a compreensão espiritual. A Ciência divina despedaça essas correntes, e então se afirma o direito que o homem tem, por nascimento, de tributar lealdade somente a seu Criador.” Ciência e Saúde, p. 226.
Se orarmos, reconhecendo a autoridade e o alcance dos mandamentos de Deus, poderemos negar eficazmente qualquer aparente inversão da integridade espiritual ou inversão da alegre obediência de cada filho de Deus, inclusive por parte daqueles aos quais chamamos de nossos filhos. Quando a oração firma-nos de todo o coração na verdadeira lealdade aos mandamentos, vemos — e comprovamos — que Deus é todo-inclusivo em Seu domínio, é tudo o que realmente existe.
A obediência e a afeição nunca estão em desacordo. Dirigida com acerto, a afeição não subverte nossa adoração a Deus, mas lhe será serva. A verdadeira afeição exalta o sentido espiritual, não o corporal. Por isso, nunca será uma questão de escolha entre amar Deus ou amar Sua semelhança. Amar verdadeiramente o Pai celestial é amar verdadeiramente Seus filhos celestiais.
Nem o ódio nem o sentido parcial de amor existem na eqüidade do Amor. Mas o relacionamento humano parece, às vezes, desafiar-nos a provar que o Amor está realmente em todo lugar, sempre. O magnetismo animal, a ilusão de haver inteligência, vida e amor separados de Deus, pode alegar que nos dirigem atrações escravizantes ou repulsões igualmente escravizantes. O magnetismo animal pode aparecer sob o disfarce de fascínio, ou desaprovação, incitando-nos com a sugestão mental agressiva de que alguém pode, através de seus atos ou palavras, fazernos gostar ou não dele. Mas nossas afeições não serão influenciadas pelo sentido pessoal se estiverem firmadas no Amor divino.
Um amigo ou inimigo só pode tornar-se como que um deus para nós se deixarmos o sentido pessoal exercer poder sobre nossa paz e alegria. Na Ciência, somos agentes livres para derrotarmos a intromissão de um sentido mortal de identidade em nosso pensamento. A verdadeira individualidade reflete naturalmente o Amor divino, tal como a luz solar refelte naturalmente o sol. E isso pode ser provado.
Em realidade o Amor nunca deixa de estar governando. A situação a que tivermos sido levados por um raciocínio humano falho, pode ser resolvida pela lógica divina. Podemos retomar os passos mentais que levaram ao desentendimento. A cooperação com as exigências de Deus progride até aquela adoração crística abnegada pela qual o Amor divino verte o poder curativo instantâneo. Com os fatos do Amor, podemos desafiar a premissa de personalidade mortal. Ajustando-nos às leis de Deus, encontraremos a reconciliação com nossa capacidade infinita e invariável de amar e ser amados.
