A humanidade tem dificuldade em aceitar muitos dos ensinamentos de Cristo Jesus e mais ainda em praticá-los. Dentre eles, poucos dão orientação mais explícita do que a indicada no Evangelho de Marcos: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” Marcos 12:31.
O próximo não é somente alguém que se encontra geograficamente perto. Num sentido mais amplo, é qualquer pessoa a quem podemos fazer o bem, seja amigo, comerciante, parente, colega de serviço ou companheiro na igreja.
Do ponto de vista humano, amar o próximo é vê-lo numa perspectiva mais caridosa, buscar e nutrir indícios de arrependimento e reforma, respeitar sempre o que é nobre, ainda que em seus estados incipientes. Esta é a afeição fraternal que ajuda a restaurar a harmonia nas relações estremecidas, porque, através dela, oferecemos às demais pessoas somente o que desejamos para nós mesmos.
Desde um ponto de vista mais elevado e cristão, certamente é impossível não levar em conta que a verdadeira identidade espiritual de nosso próximo é a de reflexo individual, exato, natural, da glória divina, e totalmente digno de amor. Este é o afeto supremamente puro e sagrado, a conduzir aquele que o possui para além dos limites do mundano, introduzindo-o na atmosfera pura do reino dos céus, o reino do Amor divino, infinito.
O amor crístico é sempre altruísta; tal amor nunca depende da reciprocidade humana nem é determinado por ela. Existe sem exigir qualquer retorno. Acima de tudo, não é um sentimentalismo açucarado, trazido à tona pela emoção. Cristo Jesus demonstrou a força e a elasticidade do amor divinamente motivado, do amor que corresponde a toda exigência que lhe é feita, e que, como Paulo declarou no décimo terceiro capítulo de 1 Coríntios: “tudo sofre. .. tudo suporta” 1 Cor. 13:7.. E por quê? Porque não é influenciado por ações e reações pessoais. É espontâneo e, assim como seu manancial, o próprio Amor, não sofre desgaste.
Quão maravilhosamente esta dupla tarefa do amor do Cristo é descrita por Mary Baker Eddy, a Descobridora e Fundadora da Ciência CristãChristian Science (kris'tiann sai'ennss), em Christian Science versus Pantheism, quando ela escreve: “Amados irmãos, o amor de nosso Senhor amoroso nunca se manifestou de maneira mais profunda do que na sua firme condenação de todo erro, onde quer que este fosse encontrado.” Pan., p. 13.
Às vezes, as severas censuras ao mal deveriam ser feitas mental em vez de audivelmente, mas ainda assim virão a ser manifestações do amor do Cristo se não forem acompanhadas de animosidade pessoal ou justificação própria. A fim de atingir seu propósito de corrigir, essas censuras devem ser inteiramente impelidas pelo amor, envolvendo a dupla tarefa de descobrir o mal e revelar a eterna presença do Amor que cura e regenera.
A única obrigação que temos para com o nosso próximo é a de amá-lo — em pensamento, palavras e ação. Lemos na epístola aos romanos que os últimos cinco mandamentos do Decálogo relacionam-se com esta responsabilidade; estão sintetizados assim: “Se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.” Romanos 13:9.
Se realmente amássemos desta forma, não cometeríamos adultério com nosso próximo (manchando seu sentido de pureza, física, moral ou mentalmente); nem o mataríamos (atacando-o às ocultas ou em aberto motivados pelo ódio); nem o roubaríamos (tirando dele algo mantido com carinho, como a reputação, a felicidade ou as oportunidades); nem daríamos contra ele falso testemunho (mentindo ou falando maldosamente sobre seus assuntos); nem cobiçaríamos o que ele tem de dinheiro, fama, popularidade ou dons pessoais. O verdadeiro amor coíbe termos em mente qualquer pensamento errôneo do qual possa resultar, na prática, qualquer dessas cinco ações.
O indivíduo moral, cristão e científico é aquele que tem amor e que persiste em considerar o seu próximo como o filho abençoado de Deus e, portanto, digno do melhor. Não deveríamos também considerar a nós mesmos desta forma — como merecedores de tudo o que é bom?
No entanto, se nosso próximo não se vê nesta luz celestial, se persiste na imoralidade, desonestidade, grosseria, interfere ele com sua própria luz e caminha na escuridão lançada pelo seu falso autoconceito, sua estimativa errônea do que constitui a felicidade. Não somos, porém, responsáveis pelo que essa pessoa mal-orientada possa estar pensando; somos responsáveis, isto sim, por nossa própria estimativa correta dessa pessoa como a do ideal espiritual individualizado do Amor, o qual é o homem real criado à própria semelhança de Deus. Esta é a dívida de amor que devemos ao nosso próximo: vê-lo como ele divinamente é, não como parece ser. Poderíamos, com grande proveito próprio, saldar nossa dívida para com ele mais amiúde na prática! Perceber o próximo na luz do Cristo faria mais por ele e por nós mesmos do que nos seria possível conceber. Enquanto for através das lentes distorcidas do sentido humano mal-orientado que olharmos para o próximo, não poderemos vê-lo em sua verdadeira identidade. O quadro verdadeiro emerge somente à medida que o vemos através das lentes da visão espiritual.
Há, neste assunto, um outro aspecto ressaltado adequadamente numa passagem do Novo Testamento, na carta de Tiago: “Se vós, contudo, observais a lei régia segundo a Escritura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem. . .” Tendemos a omitir-nos desta exigência, acreditando que, por não odiarmos ao nosso próximo, cumprimos com ela. No entanto, não há como escapar ao alerta dado no versículo seguinte: “se, todavia, fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo argüidos pela lei como transgressores.” Tiago 2:8, 9.
Eis aí a amplificação de outra profunda responsabilidade do amor, a que acentua haver, na parcialidade pessoal, uma violação da “lei régia”. Discriminações sociais, financeiras ou mundanas são condições que fogem muito do padrão de Cristo Jesus. Todos temos necessidade de grande firmeza nesse aspecto de amor imparcial.
A Sra. Eddy, que se dedicou inteiramente a seguir o Guia, aborda o mesmo ponto em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, indicando o antídoto infalível para o sentido pessoal de parcialidade e, em particular, para o esnobismo econômico e social. Lemos: “Se suprimires a riqueza, a fama e as organizações sociais, que não pesam sequer um til na balança de Deus, obterás vistas mais claras do Princípio. Se dissolveres os grupos facciosos, nivelares a riqueza com a honestidade, fizeres com que o mérito seja julgado de acordo com a sabedoria, obterás uma visão melhor sobre a humanidade.” Ciência e Saúde, p. 239.
Ao considerarmos as profundas implicações, sociais e econômicas, desse trecho, podemos ver claramente o trabalho à frente do amor cristão. Na medida em que as realizações aí descritas pela Sra. Eddy acontecerem, a humanidade gozará de enormes conquistas espirituais e humanas. Compreenderemos e demonstraremos o poder do Amor divino para fazer com que os sistemas justos ideados e apoiados pelo gênero humano se coadunem com o Princípio deífico, e não com o mero sentido pessoal, e eles ficarão, assim, mais bem capacitados a cumprir seus propósitos.
Na proporção em que amarmos ao nosso próximo como a nós mesmos, o verdadeiro homem aparecerá em sua natureza totalmente amada e amável, e descobriremos o reino dos céus na terra como a realidade sempre presente, o reino da harmonia, da justiça, da paz, da saúde e da imortalidade.
 
    
