Rememorando os anos da década de 1960, algumas pessoas notaram um espírito especial. Apesar das revoltas, havia freqüentemente um sentimento de altruísmo fora do comum, uma forte confiança no potencial da humanidade, um fervilhar de alegria e liberdade.
O que aconteceu com esse espírito? Talvez não tenha se perdido. Talvez precise apenas criar raízes e reunir mais forças. Olhado mais de perto, o espírito dos anos sessenta pode indicar, em realidade, a emergência de uma direção, não só para a década dos oitenta, mas também para o século vindouro.
Afinal, o pensamento da humanidade muda mesmo. Contrariamente à opinião dos cínicos, o pensamento evolui, embora nem sempre numa linha reta de progresso, nem sempre com a rapidez que nos permitisse notá-lo facilmente. Mary Baker Eddy observou certa vez: “Podem-se ouvir as batidas de nosso coração; porém não se ouvem o palpitar e as angústias incessantes do pensamento, quando este troca os pontos de vista materiais pelos espirituais.” The People’s Idea of God, p. 1.
A Sra. Eddy estava convencida de que a consciência humana está mudando. Acreditava que a humanidade está numa importante encruzilhada: afastando-se da fria teoria de que tudo está baseado na matéria e dirigindo-se para visões espirituais, visões novas. Deu tudo de si para trazer à luz esta Ciência do Espírito, Deus, que ficou conhecida como Ciência CristãChristian Science (kris’tiann sai’ennss).
Outros, inclusive alguns dos melhores pensadores de nossa época, também percebem que a humanidade chegou a uma encruzilhada e se encontra no limiar de uma nova maneira de ver a si mesma. A Fundação Templeton, que confere um prêmio anual internacional por progresso na religião, faz este interessante comentário em sua declaração de propósitos: “É imperativo que o progresso na religião seja acelerado, assim como ocorre progresso em outras disciplinas. Um universo amplo exige uma consciência mais profunda da dimensão do espírito e de seus recursos espirituais disponíveis ao homem, da imensidão de Deus e do conhecimento e compreensão divinos ainda não reivindicados.” Program, Templeton Foundation Prize for Progress in Religion, 14 de maio de 1985.
Perderíamos muito de uma perspectiva tremendamente encorajadora se nos recusássemos a reconhecer o que está ocorrendo nesta era. De muitas maneiras e a muitos níveis, a humanidade está procurando a compreensão espiritual. O Cristo, a Verdade, continua a mudar a consciência humana. Algo está ocorrendo e este algo fará toda a diferença no futuro da humanidade.
A Sra. Eddy escreveu: “Hoje em dia, percebemos apenas o primeiro vislumbre de um cristianismo mais espiritual que inclui uma filosofia mais ampla e profunda e um sistema de cura mais divino e racional.” Miscellaneous Writings, p. 2.
Suas próprias experiências tinham-lhe propiciado concluir que a cura da doença era perfeitamente natural para um cristianismo que levava a sério ser o Espírito, Deus, o Pai do homem, e estar Seu reino presente agora. A Sra. Eddy acreditava que toda vez que a Verdade — a qual ela entendia ser o Cristo, a verdadeira idéia de Deus, vivida por Jesus — predomina no pensamento, ocorrem poderosas mudanças para melhor.
Previu uma grande fermentação na consciência como resultado, em nossa era, de reconhecer-se o Cristo integral, a Verdade. Algo está acontecendo. Mas também há algo em jogo.
É esse “primeiro vislumbre” que está em jogo. A realidade a respeito de Deus, o Espírito, e do novo homem como Sua expressão, é inquestionável. Mas o materialismo tenta expulsar do pensamento a receptividade ao Cristo. Tenta livrar-se do Cristo onde quer que este apareça, assim como tentou eliminar o menino Jesus logo após este haver nascido.
Esse esforço não será bem sucedido. No entanto, a dedicação integral daqueles que amam a luz da espiritualidade, se faz necessária. A espiritualidade emergente desta era não se desenvolve automaticamente, mas manifesta-se através da vida daqueles que estão dispostos a trabalhar e lutar por ela.
E os trabalhadores não podem se deixar ficar por aí, sentados, discutindo quão interessante é a fermentação espiritual. Seu trabalho primordial é deixar que o fermento espiritual aja neles mesmos, a fim de que possam participar da mudança, ao invés de aumentar a resistência.
Superar o materialismo e o mal, que através dos tempos têm escravizado a mentalidade, não é coisa que permita passividade. Ao contrário, significa ir à luta contra o persistente sentido materialista da vida e da identidade — primeiramente em nosso próprio pensamento — e vencer essa batalha mediante obediência cada vez mais completa ao Cristo. Significa aprender, nos termos mais práticos e sanadores, que realmente vivemos em Deus, o Espírito, que somos dEle e não “do mundo”. Significa exatamente o que Jesus disse a seus discípulos: “Quem não toma a sua cruz, e vem após mim, não é digno de mim. Quem acha a sua vida, perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa, achá-la-á.” Mateus 10:38, 39.
Como esteve implícito no tema da Reunião para Organizações Universitárias da Ciência Cristã de agosto de 1985, “A espiritualidade individual e o futuro da humanidade”, há uma parada dura à espera de nós mesmos e da humanidade. Mas quem haveria de querer viver numa era menos significativa? (Ver relatório no número de março de 1986.)
Cristo Jesus não prometeu um caminho florido, fácil e aprazível nem um rápido e amigável acordo com o mal. Seria ingênuo acreditar que o milênio esteja esperando logo atrás da virada da próxima década. Mas a idéia espiritual de Deus — e o homem, espiritual, à Sua imagem — vem ganhando terreno nesta era. Modifica o pensamento e, à medida que o pensamento muda, o mundo que vemos a nossa volta também muda — porque não podemos deixar de ver o que pensamos. Dificuldades que anteriormente nos haviam parecido concretas desvanecem-se ante o pensamento inspirado.
Os dizeres da primeira epístola de João asseguram-nos com alegria: “Filhinhos, vós sois de Deus, e ... maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo.” 1 João 4:4.
A razão de podermos vencer o que nos parece, às vezes, um enorme e imutável mundo costumeiramente material, é que, em realidade, não existe por aí esse mundo objetivo. O “mundo” e seus problemas — suas guerras, sua carestia, sua poluição — é, na realidade, aquilo que os homens coletivamente pensam. Mas a descoberta de que Deus, o Espírito, é a vida do homem, exerce influência onipotente e maciça sobre o pensamento e começa a proporcionar um novo homem e um novo mundo.
Olhamos novamente para o significado impressionante e profundo das palavras de Jesus: “Vós sois a luz do mundo.” Mateus 5:14.
 
    
