Os aborígines australianos, nas caçarias do emu, o avestruz australiano, valiam-se da curiosidade dessas grandes aves. O caçador, escondido, oferecia à vista do emu algum objeto para atraí-lo, e a ave se aproximava para ver o que era.
Ao controlar nossa curiosidade meramente material, protegemo-nos, e às nossas demonstrações, das distrações e da ação destruidora do pensamento materialista, ou seja, da mente mortal. Necessitamos, por outro lado, de uma ardente curiosidade espiritual, ou, melhor, de uma ânsia premente de encontrar a significação mais profunda da Ciência divina. Esse tipo de investigação e anseio, exercitando nosso sentido espiritual, nos traz satisfação de maneira muito especial. Leva-nos a viver mais construtivamente, a expressar mais amor, e acelera nosso progresso rumo ao Espírito.
O Cristo, a idéia imortal da Verdade a iluminar a consciência humana, dirige nossa atenção para os fatos da Vida eterna. Impele-nos a fazer as indagações adequadas. Revela respostas permanentes, demonstráveis. O Cristo dá direção à nossa curiosidade, nutre, amplia e satisfaz nosso interesse. Aliás, não nos podemos realmente satisfazer enquanto não nos ocuparmos em investigar, e em encontrar, novas verdades espirituais. O Cristo substitui em nós a curiosidade do mero mortal pelo anseio de tornar-nos investigadores da Verdade.
Imaginemos Cristo Jesus, no meio de uma densa multidão, a perguntar: “Quem me tocou nas vestes?” Marcos 5:30. Essa pergunta extraordinária desconcertou os discípulos. Contudo, no atropelo da multidão encon-trava-se uma mulher que havia anos sofria de hemorragia. Jesus percebeu-lhe o apelo mental em busca de ajuda, e curou-a. A pergunta de Jesus não foi uma expressão de surpresa infundada. Evidenciou sua atenção, seu cristianismo. Queria saber, especificamente, quem precisava de sua ajuda. Ao aceitar seu Pai-Mãe Deus como a única presença real, e ao estar consciente da perfeição imutável do homem criado por Deus, curou a mulher.
O pensamento mortal inquisitivo, quando impenitente, sempre lança o olhar na direção errada, dedica-se a questões equivocadas, envolve-se em assuntos impróprios e procura somente soluções humanas para os problemas. Tal mentalidade volta-se com obsessão à matéria, ao corpo, aos mortais. Longe de espiritualizar-nos, essa atitude perpetua a materialidade. Explora território indevido. Piora a situação. Com percepção espirituosa, Mary Baker Eddy escreve: “‘Onde a ignorância é felicidade, loucura é ser sábio’, diz o poeta inglês, e há verdade neste seu modo de sentir. A ação da mente mortal sobre o corpo não era tão prejudicial, até o momento em que as curiosas Evas modernas empreenderam o estudo de obras de medicina, e que os Adãos pouco varonis atribuíram sua própria queda e a sorte de sua prole à fraqueza de suas mulheres.”Ciência e Saúde, pp. 175–176.
O magnetismo animal, pretensão espúria de um poder contrário a Deus, provoca nossa curiosidade quanto ao mundo ilusório de que há vida, substância e homem na matéria. O termo comum a muita dessa curiosidade é bisbilhotice. Em perguntar: “Por que é que o Sr. Fulano faltou hoje ao trabalho, estará doente? Terá problemas em casa? O filho se comporta mal de novo?” — haverá apenas uma consideração gentil? Talvez o Sr. Fulano faltasse por ser o dia da formatura do filho! Mas o caso é que a curiosidade intrometida ocupa nossa própria consciência com o que é material e pessoal, e não ajuda de maneira alguma quem está enfrentando algum problema. Pensar fantasiosamente nas pretensões da matéria e na maneira de viver dos mortais não é nem cristão e científico, nem é expressão de amor. Portanto, não contribui para haver cura.
Temos de substituir a admiração inquisitiva “Será que ...?” pela busca espiritual da verdade do ser. Façamos perguntas argutas quanto à natureza de Deus, do homem e do universo. Averigüemos o que, na realidade, nos ajudará a enxergar aquilo que anteriormente só víamos, talvez, indistintamente. Feito isso, sejamos suficientemente humildes para perceber as respostas que nos vêm de Deus por meio do Cristo; e, suficientemente receptivos e dispostos a mudar o rumo de nosso pensamento, da crença física para a realidade espiritual. “Os mortais precisam olhar para além das formas finitas e desvanecentes, se quiserem conseguir o verdadeiro sentido das coisas”, explica a Sra. Eddy.“Onde é que o olhar se fixará, senão no reino insondável da Mente?” Ibid., p. 264. Se nosso olhar repousar na Mente, não repousará na mente mortal e suas fantasmagorias.
Suponhamos que recebêssemos de um amigo o pedido para ser ele curado pelo tratamento, ou a oração, de acordo com a Ciência Cristã. Essa comissão não constitui um convite para sondar desnecessariamente os pormenores íntimos desse indivíduo. Nem é uma oportunidade de ficar fascinado com a personalidade humana. Temos de negar especificamente as pretensões mais evidentes do caso e, igualmente, deixar de lado a curiosidade obsessiva quanto a possíveis crenças médicas ou à fisiologia, o único efeito das quais é o de reforçar a crença na doença. Que utilidade há em perguntar se nosso amigo está mancando da perna direita ou da esquerda? Nenhuma. E não precisamos extrair de nosso amigo a confissão de cada um dos seus possíveis erros cometidos nas últimas semanas. É conselho da Sra. Eddy: “Evita falar de doenças ao paciente. Não faças perguntas desnecessárias sobre o que ele sente, ou sobre a moléstia.” Ibid., p. 396.
Sem embargo, ao exercitar percepção cristã, talvez nos sintamos inclinados a discutir algum temor ou pecado oculto que esteja perturbando nosso amigo. Não se trata de procurar a “causa fundamental” do problema, pois o mal não tem causa, do ponto de vista científico. A intenção é a de expor os erros peculiares do caso com o objetivo único de negá-los, estabelecendo que são destituídos de causa, revelando-lhes a própria impotência, e, logo, trazendo à tona, com a cura, a perfeição do homem.
Cultivarmos o sentido espiritual muitas vezes nos obriga a insistir em nossas indagações sobre alguns aspectos da relação entre Deus e o homem, até encontrarmos revigorantes verdades eternas que oferecem respostas demonstráveis. Quando nossa indagação ficar espiritualmente satisfeita, em algum caso, e quando a cura for evidente, estará completo, com êxito, o tratamento pela Ciência Cristã.
Quando temos a “curiosidade” de saber mais acerca de Deus e de Sua criação, ansiando ardentemente apreender o que é divino — quando buscamos vivamente pelas respostas na Bíblia, e nas obras escritas pela Sra. Eddy, pondo-as em prática constantemente — nosso progresso na Ciência Cristã vem a ser seguro e inevitável.
 
    
