Certa vez, em minha carreira comercial, quando estava dirigindo uma companhia de construção, sentia-me seguidamente pressionado a aceitar e completar contratos dentro de prazos limitados. Às vezes tornava-me impaciente, e criticava os esforços e a produção dos operários, e ficava ressentido com a indiferença deles para com os problemas administrativos. Naquela época, minha compreensão da Ciência Cristã ainda era relativamente nova e, não raro, eu deixava de lidar com a impaciência e o ressentimento como deveria ter lidado.
Certo dia, enquanto visitava uma obra, uma pequena lasca de pedra voou da talhadeira de um pedreiro e atingiu-me um olho. Ao chegar em casa, naquela noite, pude ver o fragmento de pedra encravado no olho, que estava sensível e dolorido. Embora orasse sobre isso, não pude dormir nem repousar durante dois dias.
Em desespero, perguntei a um amigo especializado em ótica se ele poderia remover o objeto, mas, depois de examinar o olho, recusou-se a tocá-lo. Estava eu, então, extremamente tentado a ir à enfermaria médica local em busca de ajuda. Decidi, entretanto, continuar orando sobre o assunto, pedindo a Deus orientação. A resposta veio: “Vá e converse com um praticista da Ciência Cristã.” Agi imediatamente e subi os três lances de escadas até o escritório do praticista.
Não comentamos o meu problema físico em detalhes, mas falamos sobre a natureza de Deus — o todo-amoroso, compassivo e justo — e a natureza completamente espiritual do homem feito à Sua imagem e semelhança, para sempre sob Seu terno cuidado. Caminhando para casa, espiritualmente elevado, e meditanto, ainda, sobre as profundas verdades que tinham sido abordadas, percebi repentinamente que a dor no meu olho havia cessado. Quando cheguei em casa, o olho começou a lacrimejar e o cortante fragmento de pedra foi expulso. Logo depois, o pequeno corte na córnea cicatrizou e o olho voltou ao normal.
Estou profundamente grato por essa cura, pois fortaleceu minha consagração à Verdade. Havia ali, para mim, também, uma lição maior. Lembrei-me da arguta pergunta de Cristo Jesus: “Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?” Mateus 7:3. E isso alertou-me para meu erro de mentalmente fazer duras críticas, de nutrir uma falsa e farisaica opinião sobre os outros.
Comecei a perceber, em certo grau, que reparar nas deficiências alheias era contraproducente. Tais deficiências eram insignificantes em comparação com o erro muito maior de aceitar apreciações materiais, falsas, no homem — inclusive em mim mesmo. A lição tornouse-me clara; eu necessitava expressar aos outros paciência e bondosa consideração, e apreciar suas qualidades dadas por Deus. A prova da validade dessa regeneração em meu pensamento tornou-se evidente, mais tarde, na harmoniosa atmosfera de trabalho, no serviço honesto e no respeito mútuo que prevaleceram em meus negócios e em outras relações.
Às vezes nos acontece que, durante experiências pessoais como a que enfrentei, despertando para as próprias falhas de caráter e começando a questionar nossas atitudes estreitas e egoístas, decidimos cultivar pontos de vista mais nobres e aperfeiçoar nossos padrões de vida. O desejo de auto-aperfeiçoamento é, entretanto, apenas o primeiro passo. A natureza humana parece ser um amálgama de bem e mal, de verdade e erro, e, se alguém começa com essa proposição, como poderá almejar conseguir regeneração moral permanente? Como eliminar o que parece inerente à consciência humana?
Se nosso objetivo for o aperfeiçoamento próprio, a necessidade básica será a de quebrar o sonho terrenal do eu na matéria. A fim de fazê-lo, precisamos obter uma compreensão melhor de Deus como Princípio divino, o Amor, e de Seu homem e Seu universo como a criação espiritual do Amor. O conceito de que o homem seja composto de elementos materiais e possuidor de uma mente sua própria, tem de ser substituído pela verdade da individualidade espiritual do homem real, a imagem de Deus, o reflexo do Espírito, a Mente.
A fim de progredir na direção do Espírito, a mente humana tem de submeter-se à disciplina celestial das leis de Deus. Pela renúncia à identidade mortal e pela expressão de nosso eu espiritual, os prazeres materiais são esquecidos. Porém a disciplina espiritual de adaptar o pensamento e a ação ao ideal do discipulado cristão, mesmo diante de experiências desagradáveis, tem de ser praticada. Somente o caráter cristão firma os pés na vereda da Verdade e da Vida, onde as atitudes egoístas de uma personalidade mortal são descartadas e deixadas para trás.
A vitória sobre falhas de caráter exige oração consagrada, a fim de impedir a tentação de favorecer a crítica destrutiva, a arrogância, o egoísmo, o orgulho — falsos traços de caráter que resistem às exigências do crescimento espiritual, sob o manto da retidão e da justificação próprias. A Sra. Eddy previne, em seu livro Ciência e Saúde, da necessidade de opor-se a essas influências debilitantes: “O egotismo é mais opaco do que um corpo sólido. Em paciente obediência a um Deus paciente, trabalhemos por dissolver, com o solvente universal do Amor, a dureza adamantina do erro — a obstinação, a justificação própria e o egotismo — que faz guerra contra a espiritualidade e é a lei do pecado e da morte.” Ciência e Saúde, p. 242.
Deus, o bem onipotente, o Tudo-em-tudo, não é o autor do mal, portanto o mal não pode ser real, mas é, simplesmente, uma falsidade, um erro a respeito de Deus e do homem. Ao acreditar na realidade do mal — o oposto do bem, da Verdade — tornamo-nos servos do erro e suscetíveis a todas as formas de pecado e discórdia. Daí a importância de permanecer na lei moral e espiritual — a lei da Verdade divina, que nos confere domínio. Ao viver em obediência a esta lei do bem infinito, fortalecemo-nos e capacitamo-nos a vencer o pecado e suas pretensas leis. O Salmista cantou: “Quanto amo a tua lei! É a minha meditação todo o dia.... A tua justiça é justiça eterna, e a tua lei é a própria verdade.” Salmos 119:97, 142.
À medida que despertamos da falsa crença de haver um eu material, separado de Deus, percebemos que os traços destrutivos de caráter são, em realidade, imposições, e estas diminuem na proporção em que expressamos, passo a passo, porção maior das graças do Espírito inatas ao homem como semelhança, ou reflexo, de Deus. A parábola de Jesus sobre o joio e o trigo Ver Mateus 13:24–30. ilustra a inutilidade e a natureza transitória do joio, ou o mal, e a genuína utilidade e permanência do trigo, ou o bem. Ainda de outra forma, pode a mesma parábola apontar para a irrealidade de um sentido material do homem e a realidade espiritual e imortal do ser.
Uma declaração da Sra. Eddy, quando tomada a sério e posta em prática, ajuda a promover o crescimento e a regeneração espirituais: “Se o Cientista Cristão reconhecer a combinação de severidade e ternura que permeiam a justiça e o Amor, não desprezará a repreensão oportuna, mas a absorverá de maneira tal que essa advertência será nele uma fonte a jorrar em incessante elevação e progresso espirituais.” Retrospecção e Introspecção, p. 80.
A busca e o cultivo de motivos e propósitos mais elevados e mais santos devem ser, inevitavelmente, coroados com ricas satisfações espirituais quando, genuinamente, tivermos “fome e sede de justiça” Mateus 5:6.. Volver-se da matéria para o Espírito pode ser uma alegre e enaltecedora experiência; ao sacrificar a materialidade pela espiritualidade ninguém fica privado de qualquer riqueza verdadeira. Como uma flor volve-se, sem esforço, para o calor e a luz do sol, assim é divinamente natural voltarmo-nos para Deus, o Amor divino. A suave atração do Espírito, a Alma, pode apenas inspirar gratidão e louvor a Deus, à medida que Seu amor infalível e a bondade do homem sejam discernidos e cientificamente compreendidos.
Emergir da matéria para o Espírito é um processo gradual para a humanidade, continuando na proporção do crescimento espiritual e da expressão de amor abnegado por parte de cada indivíduo. A vitória sobre o pecado em si mesmo, e no mundo, é o destino final que aguarda a humanidade na Ciência divina.