Às vezes, somos tentados a olhar para o passado e remoer nossas experiências desagradáveis, injustas e, talvez, até aterradoras. Ora, um dos pontos importantes ilustrados pela vida de Jesus foi o de que o poder do Cristo, a Verdade eterna que ele ensinou e demonstrou de modo tão completo, erradica toda sombra de tristeza e dissolve as marcas deixadas por tais eventos.
Ali estava um homem que fora odiado, ultrajado, incompreendido, crucificado e sepultado. No entanto, ao rever seus amigos após a crucificação, não se queixou de sofrimento ou dor, nem das injustiças que lhe foram feitas, e não fez nenhuma tentativa de se vingar de seus acusadores. Num de seus últimos encontros com seus discípulos às margens do mar de Tiberíades, sua única preocupação era com eles. “Vinde, comei” João 21:12., foi seu carinhoso convite.
Para o sentido humano, o que Jesus fez parecia impossível. Como alguém podia esquecer tão depressa todas aquelas injustiças? Jesus de fato provou o que ensinou: o poder do Amor de sustentar-nos sob quaisquer circunstâncias.
A Ciência Cristã explica que, na realidade, toda consciência é Deus, o Amor. Cada um de nós, de fato, reflete a consciência divina porque nossa identidade genuína é a semelhança de Deus, o homem espiritual. Esse fato, percebido aqui e agora, dissolve memórias penosas de tormentos passados. Esse poder proveniente da Verdade é o Cristo salvador sempre presente, que liberta a humanidade do mal de qualquer espécie, poder que elevou Jesus acima do ódio, do desprezo, da brutalidade e, até, da morte. O poder sempre ativo do Cristo está presente hoje, para libertar a humanidade do passado escravizador.
A fim de nos libertarmos de discórdia latente sepultada no pensamento, podemos começar declarando diariamente que Deus é a única Mente, que essa Mente divina não conhece o mal e que não pode ser penetrada pelo mal. Todos os dias, podemos orar, como a Bíblia nos anima a fazer, para termos em nós aquela Mente que “houve também em Cristo Jesus” Filip. 2:5.. À medida que nos identificamos com a Mente divina, esforçando-nos por viver em consonância com o Amor divino, vencemos a crença de que temos uma mente pessoal falível que sofreu o mal. Aprendemos que, na realidade, como filhos de Deus nunca conhecemos nada além do bem que Deus está sempre nos dando. À proporção que nos familiarizamos com nossa identidade real de filhos de Deus, damo-nos conta de que nosso eu verdadeiro sempre esteve livre do mal e que a pessoa que parece ter sofrido nunca foi nosso eu genuíno nem fez parte de nós. Sobre essa base, lembranças de aflições passadas e seus efeitos tormentosos podem ser dissolvidos.
Reivindicando, compreendendo e demonstrando a presença do Cristo salvador, vencemos a crença de ter vivido e sofrido numa existência material. Provamos que o homem não é um mortal, vivendo numa estrutura temporal e sujeito a dor e amargura, mas que, pelo contrário, o homem é a idéia espiritual de Deus, vivendo no reino da Vida e do Amor, onde está sujeito só às bênçãos do bem.
A fim de demonstrar a liberdade total prometida pelo Mestre, Cristo Jesus, temos de estar dispostos a abandonar lembranças do mal. Podemos começar, desafiando todo medo ou ressentimento remanescentes de problemas passados, ficando assim livres da perturbação que pretendem criar. Coragem moral e fortaleza dão-nos ânimo para resistir a esses intrusos e, como nosso Pai é Amor, nossos esforços são recompensados. Maus pensamentos não podem nos aprisionar para sempre, pois não têm criador, nem poder, substância ou lei que os sustentem. Os pensamentos de Deus, de alegria e conforto, estão sempre presentes, mesmo onde sugestões de remorso e tristeza dizem estar.
Para o Cristo, não há erro inextirpável, nem enganos incorrigíveis, nem reminiscências indeléveis do mal. Não há resquício de remorso ou amargura para inflamar-se e crescer. E a Ciência Cristã traz restauração, como a Sra. Eddy o declara em Ciência e Saúde: “Mostra a relação científica do homem para com Deus, deslinda as ambigüidades entrelaçadas do ser, e liberta o pensamento aprisionado.” Ciência e Saúde, p. 114.
Ainda que nossas marcas tenham sido infligidas na infância, essas lembranças podem ser vencidas de forma tão completa que gradualmente o pensamento se vê livre delas. Coisas como maus tratos de crianças, brutalidade, acidente, tortura ou separação de entes queridos não podem de fato “marcar-nos para sempre” como as teorias humanas predizem. Nem podem esses males serem causa de outros erros, como medo, insegurança, inferioridade ou instabilidade. No reino do Espírito nunca houve feridas. A pureza da Mente divina não pode ser invadida pelo terror, e esse fato age como lei divina a fim de dissolver, com a consciência do Amor divino, todas as crenças de dificuldades passadas, não importa quão persistentes. O Cristo apaga todas as marcas dum passado doloroso.
Muitas vezes, as provações pelas quais passamos nos forçam a buscar mais do que ajuda humana a fim de evitar a dor. Se fomos atingidos pela pobreza moral e espiritual da existência material, estaremos mais dispostos a rejeitar suas implicações e mais prontos a abandonar a noção falsa de que a vida esteja na matéria e seja da matéria. Tal pobreza nos faz buscar com avidez o sentido espiritual que nos revela a liberdade autêntica que, de direito, cabe ao homem. Ciência e Saúde afirma: “As duras experiências provenientes da crença na suposta vida da matéria, bem como nossos desenganos e sofrimentos incessantes, levam-nos, como crianças cansadas, aos braços do Amor divino. Então, começamos a compreender a Vida na Ciência divina.” Ibid., p. 322.
Ficar recordando injustiças passadas, impede que recebamos as bênçãos do presente. Paremos de excavar as ruínas de nossos desastres, entregando-os ao nada e sabendo que não há prazer ou cura em repetir o que, no fim das contas, é uma falsa apreciação. Ceder à tentação de remoer, seja mental ou verbalmente, os detalhes duma experiência trágica só tende a imprimi-la no pensamento. E as tentativas de afogar o passado em álcool, drogas ou sedativos é fútil, já que só o Cristo, a Verdade, tem o poder de aniquilar as dores da existência material. O passado não tem o poder de nos separar das alegrias do presente, mas para dar provas disso temos de vigiar e ser obedientes. Não manchemos as alegrias de hoje com as cicatrizes das batalhas de ontem.
Temos paz de espírito, quando somos suficientemente obedientes para desafiar a crença de que coisas terríveis nos aconteceram no passado, obedientes para exterminar qualquer tendência de ficar a remoê-las. Quando deixarmos o passado para trás e ressurgirmos do túmulo da tristeza, exerceremos o domínio dado por Deus sobre “as duras experiências provenientes da crença na suposta vida da matéria”. Como o declaram as Escrituras: “Então levantarás o teu rosto sem mácula, estarás seguro, e não temerás. Pois te esquecerás dos teus sofrimentos, e deles só terás lembrança como de águas que passaram: ... brilharás, serás como a manhã.” Jó 11:15–17 (conforme a versão King James).
