Estava escuro e prestei bastante atenção, enquanto os últimos alunos desciam do ônibus. Nanci não estava entre eles. Mamãe havia me enviado para buscar minha irmã, quando esta voltava duma excursão escolar. Eu chegara cedo ao estacionamento, de modo que vi o ônibus chegar e os primeiros colegas dela descerem.
Comecei a me preocupar. Daí, alguém informou ter visto Nanci descer na casa duma amiga, antes que o ônibus chegasse à escola. Fui à casa da amiga, já não tão preocupada, mas confusa e um pouco chateada. A família surpreendeu-se de me ver. Não sabiam que alguém iria buscar Nanci, por isso a mãe da amiga a levara para casa!
Agora eu estava irritada mesmo. Perdera mais de uma hora! Naquela manhã, Mamãe havia dito claramente a Nanci que alguém iria buscá-la. E eu havia deixado uma de minhas atividades prediletas de lado, para ir lá!
Algumas semanas antes, eu provavelmente teria ido para casa e feito minha irmã e o resto da família saber, em palavra e ação, o quanto aquilo me atrapalhara e o quanto eu julgava minha irmã desconsiderada. Mas, fazia pouco que eu passara a estudar regularmente as lições bíblicas do Livrete trimestral da Ciência Cristã. Para mim, o que era novo era o “regularmente”. O que me interessou nisso foi ter eu ponderado seriamente o que meus professores da Escola Dominical haviam me dito, nos últimos anos, sobre o proveito que eu teria desse estudo. A lição bíblica daquela semana era sobre Cristo Jesus.
Ao dirigir-me para casa, fiquei pensando que agastar-me não era cristão. Em casa, e em cada uma das Escolas Dominicais que eu freqüentara, inclusive naquela que freqüentava agora, aprendera que perdoar fazia parte de ser cristão. “Mas”, pensei, “nunca me ensinaram como é que se perdoa, principalmente quando a desatenção ou a maldade machucam.”
Oh, sim, eu aprendera a esconder muito bem a irritação e a mágoa, mas bem lá no fundo havia ressentimento sobrando. Muitas vezes eu me achava melhor do que a outra pessoa por sofrer em silêncio, mas também isso não me ajudava muito. Nessa ocasião de que falo, eu apenas me sentia frustrada. Subiram-me as lágrimas e eu não queria ir para casa naquele estado.
Do que eu aprendera na Ciência Cristã sobre a oração, sabia que tinha de fazer algo mais do que pedir a Deus que interviesse e arranjasse as coisas. Aprendera que, para orar com acerto, eu teria de espiritualizar meu conceito das coisas, e minhas ações teriam de acompanhar essa compreensão espiritual.
Tornei a pensar na lição que estivera estudando durante a semana. Lembrei dos muitos relatos sobre Jesus na Bíblia: seu trabalho de cura, o fato de passar pela multidão furiosa sem sofrer mal e, especialmente, seu martírio e sua crucificação. A minha situação nem de longe se comparava com aquelas e, por isso mesmo, eu achava que me seria fácil perdoar, nessa peripécia cotidiana. Pensei: “Como é que Jesus perdoava?” Em seguida recebi a resposta: “Jesus sabia que era o Filho amado de Deus.”
Essas não eram agora meras palavras para mim, nem mais um fato sobre Jesus. (Eis a parte mais difícil de relatar, porque minha maneira de pensar mudou tão depressa.) De repente, olhei de outro modo as coisas, com relação a Jesus, a mim e a minha irmã. E a natureza totalmente boa e amorosa de Deus, que tudo governa, dominava essa percepção. Pensei no amor de Deus por mim e no versículo bíblico que inicia: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira. .. .” João 3:16. E realmente era como se nada houvesse acontecido para me incomodar ou me irritar. No meu pensamento só havia coisas sobre Deus e aquilo que eu aceitara para mim como filha de Deus e discípula cristã.
Cheguei em casa, calma e sorridente. E a paz que eu encontrara, por volver-me a Deus, acalmou as coisas em casa também. Minha irmã pediu desculpas, mas não foi isso o que pesou, no meu amor por ela naquela noite, ou depois. Acolhi apenas o amor completo que Deus tem a cada um de nós. Passamos algum tempo falando na excursão que ela fizera e não tive que fingir meu entusiasmo.
Não quero deixar a impressão de que nunca mais enfrentei nada em que tivesse de lutar para dar o perdão cristão. Aquele foi apenas o primeiro passo, para mim. Mas, foi uma experiência muito convincente em minha vida, provando que a graça de Deus está sempre à mão quando ansiamos por ela, e por isso queria muito contá-la a vocês.
Longe de vós toda a amargura, e cólera, e ira,
e gritaria, e blasfêmias,
e bem assim toda a malícia.
Antes sede uns para com os outros benignos, compassivos,
perdoando-vos uns aos outros,
como também Deus em Cristo
vos perdoou.
Efésios 4:31, 32
