No Manual de A Igreja Mãe, Mary Baker Eddy define o dever do Delegado de Divulgação: “corrigir, de maneira cristã, falsas afirmações feitas ao público acerca da Ciência Cristã. . .” (§ 2º do Art. 33). Suas palavras não podiam ser mais claras: O trabalho tão necessário de prover informação corretiva ao público deve ser feito “de maneira cristã”. A experiência demonstra que se o trabalho corretivo não se faz de maneira cristã, não está feito. E fazer esse trabalho de maneira cristã exige, é claro, realizá-lo com amor.
Ao observar a vida de nosso Mestre, Cristo Jesus, e toda a experiência cristã, verificamos que o amor verdadeiramente eficaz se origina no Amor divino e dele deriva a energia. Esse Amor divino não conhece oposição, porque esse Amor é Deus. Vivenciar esse Amor em face de evidente injustiça não é coisa fácil. Exige sabedoria, discernimento e, em determinadas ocasiões, até mesmo um certo “vigor” espiritual. (Ver Miscellaneous Writings 250:14–21, de autoria da Sra. Eddy.) A persistência, porém, em continuar a amar, traz à experiência humana um fator transformador que simplesmente não pode ser assimilado nos termos estabelecidos pela mundanalidade.
Por exemplo, temos certeza de que os leitores do Arauto, sejam novatos, sejam leitores regulares, apreciarão tanto quanto nós o relato feito por um Cientista Cristão, Barsom Kashish, que assistiu a uma palestra acerca da Ciência Cristã num auditório superlotado, realizada por um de seus críticos mais estridentes. A seguir transcrevemos um resumo do relato de Barsom Kashish.
Da Delegacia de Divulgação
No ano passado eu era Primeiro Leitor numa igreja filial da Ciência Cristã e uma vez, quando acabara de realizar o culto dominical, foi-me entregue uma carta da Delegacia de Divulgação, solicitando meu apoio. Informava-me sobre uma palestra que teria lugar dali a dois dias, a ser proferida por um homem que estava percorrendo os Estados Unidos a derramar ódio contra a Ciência Cristã. Na mesma hora tive a certeza de que eu estaria presente. A comunidade onde seria proferida a palestra ficava bem perto e eu lhe tinha afeto especial, pois em meu coração brotara grande apego e amizade pelas pessoas que nela moravam. Dos vinte e sete anos de minha carreira como agente imobiliário, a maior parte transcorrera nessa comunidade. Por isso, eu sabia exatamente aonde ir.
Minha reação imediata foi “amor incondicional”: esse homem precisa de amor, mais do que de qualquer outra coisa, e muito amor do tipo incondicional, se ele nos ataca tão vilmente. Em Ciência e Saúde a Sra. Eddy escreve: “Tuas decisões te dominarão, seja qual for o rumo que tomarem.” Ciência e Saúde, p. 392. Por isso decidi com firmeza romper esse quadro material de ódio, e amar esse homem sem me importar com o que ele dissesse ou fizesse. Em ocasiões anteriores, ao enfrentar problemas, eu recorrera à Concordância das obras da Sra. Eddy e procurara citações referentes ao Amor divino, e sempre obtivera resultados comoventes. Portanto, compreendi que precisava comparecer à palestra, levando comigo esse tipo de amor.
Uma das afirmações que cultivei e com a qual trabalhei, pensando nela sem cessar e atendo-me ela foi um trecho que havia pouco tempo um amigo muito querido partilhara comigo. Trata-se de uma afirmação da Sra. Eddy que diz: “Todos os dias, oro assim: ‘Ó Deus, abençoa meus inimigos; faze deles Teus amigos; dá-lhes a conhecer a alegria e a paz do amor.’ ” The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany, p. 220. Fui à palestra imbuído desse amor incondicional.
Quando entrei no auditório, fiquei muito admirado. Creio que havia quatrocentas ou quinhentas pessoas. A platéia e a galeria estavam lotadas. Havia um conjunto musical de cinco ou seis instrumentos, lotadas. Havia um conjunto musical de cinco ou seis instrumentos, um órgão, um xilofone, uma trombeta, um piano e um coral integrado por trinta e cinco pessoas. Cerca de quinze minutos foram devotados à introdução e ao canto de hinos. Depois, durante duas horas inteiras, esse homem desfilou para lá e para cá enquanto despejava mentiras e ódio contra a Sra. Eddy e a Ciência Cristã.
Enquanto lá estava, eu pensava: “Pai, quem é esse aí, a ridicularizar a Ciência Cristã e a dizer todas essas coisas, todas essas coisas rudes e condenatórias? Ele é tão filho de Deus quanto eu. Deus o ama, tanto quanto a mim. Deus não tem favoritos, porque Seu amor é universal. E se esse homem é filho de Deus, quem é esse aí no palco a dizer todas essas coisas? Não pode ser o filho de Deus, pois o filho de Deus é bom, é a imagem de Deus, e só conhece o bem.” Foi aí que percebi que suas palavras não mais me afetavam. Assim diz Ciência e Saúde: “Revestido com a panóplia do Amor, estás ao abrigo do ódio humano.” Ciência e Saúde, p. 571.
Ao chegar a hora de sair do auditório, todos tivemos de passar sob um arco que levava ao saguão de entrada. Quando estava passando pelo arco, senti um encontrão, levei um empurrão. E quem era que me empurrava? Para minha surpresa, o orador em pessoa!
“Que prazer”, disse-lhe eu com entusiasmo, e ofereci-lhe a mão, cumprimentando-o fraternalmente. Ao estender-me ele a mão, eu a tomei nas minhas e com amor e afeto acrescentei: “O senhor não imagina o quanto orei antes de vir até aqui, e durante o trajeto para cá, e enquanto o senhor falava. Vim de uma cidade vizinha para ouvi-lo. Quero que saiba que sou Cientista Cristão, e que aprendemos que é preciso amar, e eu o amo, apesar de tudo. E sabe por quê? Vou lhe dizer. É porque a Ciência Cristã ensina, nas palavras da Sra. Eddy: ‘Amai vossos inimigos, ou nunca vos livrareis deles; e se os amardes, os ajudareis a se reformarem.’ Miscellaneous Writings, pp. 210–211. Não vim aqui para argumentar ou discutir. Vim para oferecer-lhe meu afeto incondicional.”
Pelo jeito, ele não soube enfrentar a oferta de amor incondicional, vinda de um Cientista Cristão, pois de momento ficou totalmente desconcertado. Ele havia falado com tamanho domínio, tanta autoridade, uma autoridade tão inquestionável. No entanto, quando eu lhe disse que o amava apesar do que fizera e dissera, ficou sem saber o que fazer. E cada palavra que proferi, foi com profunda sinceridade, e ainda hoje atenho-me a elas.
Depois desse encontro, os acompanhantes do orador o conduziram para fora, e ele foi embora. Pensei que havia cumprido meu dever naquele local. Era uma noite de chuva. Quando eu saía, alguém me chamou: “Meu senhor, poderíamos conversar um momento? Ouvimos quando o senhor disse que era Cientista Cristão.” Havia umas vinte e cinco ou trinta pessoas reunidas na rua, na chuva. Uma delas disse: “Deixe-me fazer uma pergunta. Vocês não acreditam que existe morte?” O orador havia ridicularizado a Sra. Eddy por ela dizer que não havia morte. Afirmara algo assim: “É claro que você vai morrer, e você vai morrer, e você também, e eu vou morrer, e todos vão morrer, morrer, morrer!”
Estas pessoas, porém, não pretendiam me provocar, expressavam respeito, e eu estava admirado. Senti como se pisasse em terra santa. Não me pressionavam, estavam à espera daquilo que eu tinha a dizer.
E respondi: “Deixem-me explicar desta maneira. Quando Jesus veio à terra, desde o começo de sua obra, toda a sua missão foi com o objetivo de subir naquela cruz. Sabem por quê? Não para ser crucificado, mas para esculpir a vitória e o feito mais glorioso que já se realizou. Foi parar naquela cruz, não para ser crucificado, mas para crucificar e destruir a própria morte.
“Esteve na cruz para destruir a morte de uma vez por todas. E o mundo material inteiro ficou tão furioso e colérico que entrou em convulsões: ficou escuro, houve um terremoto, o véu do templo rasgou-se ao meio. Abriram-se sepulturas e o centurião exclamou: ‘Verdadeiramente este era Filho de Deus.’ Mateus 27:54. E Jesus, enquanto ainda estava na cruz, disse: ‘Está consumado!’ João 19:30. Não disse que ele estava terminado. Creio que quis dizer que o ‘fato’ estava consumado, que a ‘morte’ estava acabada, não a vida, pois a vida é indestrutível. E impossível destruir a vida; o que ele destruiu foi a morte.”
Em seguida quiseram fazer-me outras perguntas. Vinham perguntas de todos os lados. Mas eu lhes disse: “Desculpem-me, mas sou apenas um Cientista Cristão comum. Vim aqui para oferecer meu afeto, meu amor cristão, a meu irmão. Não vim para discutir ou argumentar, e nós não fazemos proselitismo, não procuramos converter. Converter, em nossa religião, é algo que está dentro do âmbito divino, é da alçada somente de Deus. O que se nos ensina é imitar a vida de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. Ele é nosso Modelo, e o nosso dever diário é procurar seguir-lhe o exemplo e ser semelhantes a ele.
“Se desejarem literatura, podem conseguir The Christian Science Journal, uma revista mensal, ou, então, o semanário chamado Sentinel [em uma Sala de Leitura da Ciência Cristã]. Ambos contêm artigos escritos por pessoas que aplicaram a Ciência Cristã e foram curadas de todo tipo de doença. Ou podem fazer como eu fiz quando ainda não era Cientista Cristão. Li o livro Ciência e Saúde escrito pela Sra. Eddy. Tive uma cura após outra. Esse livro salvou-me a vida. Eu nunca havia posto o pé numa igreja da Ciência Cristã, e não sabia coisa alguma sobre a Sra. Eddy, mas esse livro salvou-me literalmente a vida. Por isso espero que me perdoem, mas não vou dizer mais nada.”
Francamente, após essa experiência passei momentos difíceis durante alguns dias. Parecia impossível libertar-me do sentimento de ódio que emanara daquele palco. Era algo muito mesmérico. Não tenho dúvida de qual era a causa, que ainda estava me rondando. Sentia-me muito deprimido. Mas continuei a orar, todos os dias e, por fim, toda a depressão e o ódio se desfizeram, desapareceram, não estavam mais presentes. Aliás, nunca haviam tido substância alguma.
Sei que senti a conseqüência do Amor divino, que é imutável, incondicional. Mas você tem de ser sincero. É preciso que esse Amor tenha significado, é preciso conhecê-lo e senti-lo. Não se pode ignorar o ódio, mas é preciso compreender como o Amor divino destrói esse ódio. Temos de contradizer a crença geral e amar nosso inimigos, em vez de odiá-los. Amar nossos inimigos é o maior segredo do mundo: mostra-nos que não temos inimigos. A recompensa é incalculável.
 
    
