Eu estava substituindo a professora efetiva da classe dos pequeninos, na Escola Dominical. Encontravam-se presentes muitas crianças, incluindo vários alunos visitantes. Para começar, recordei-lhes que na Bíblia aprendemos sobre Deus e Cristo Jesus. Em seguida, todos nos levantamos das cadeiras e “subimos ao monte”, porque era lá que às vezes Jesus falava aos seus amigos e seguidores. Por fim, sentamo-nos no monte, neste caso o chão, e preparamo-nos para aprender nova parábola.
Um dos visitantes sentou-se à minha esquerda, e minha filha aninhou-se praticamente no meu colo, à direita. Começamos a falar do amor de Deus para com todos nós, isto é, a mensagem universal do ministério de Jesus. Estendi então a mão para acariciar o visitante à minha esquerda. Ao fazê-lo, o menino ficou visivelmente perturbado, pelo que retirei de imediato o braço. Sorri-lhe para que se apercebesse que era amado e que não tinha motivo para se alarmar.
Eu sabia que muitas crianças não gostam de ser acariciadas por desconhecidos, e por certo a reação do pequeno visitante se deveu a esse motivo. Esse incidente, porém, levou-me posteriormente a averiguar quais os meus sentimentos em face das notícias veiculadas pelos meios de comunicação sobre crianças desaparecidas, maltratadas ou molestadas. A quantidade de anúncios, panfletos, livros e teatrinhos de marionetes destinados a ensinar as crianças a se protegerem, suscita nos pais boa dose de medo. Como ajudar as crianças a lidar com maus-tratos perpetrados, não apenas por familiares e amigos de confiança, mas também por desconhecidos? Esse desafio levanta questões pertinentes aos pais cristãos. Como ser cristão e ensinar aos nossos filhos o amor cristão, ou seja, ir ao encontro do necessitado e trazer ao redil o extraviado, se nos retrairmos com medo?
A resposta a essa questão começa em nossas orações, estabelecendo estreita comunhão com Deus. A oração saca dos infinitos recursos de Deus. Compreender que Deus é o único poder e a única causa, habilita-nos a sentir a proteção que Deus nos proporciona. O amor de Deus não é vulnerável. Deus é Amor, e o Amor é nossa defesa inexpugnável. Expressar o amor de Deus não significa ser destituído de inteligência. As qualidades de Deus evidenciam Sua plenitude, a Vida divina, e o desvelo de Deus para com Sua criação. O Amor divino não é fraco. É sábio e forte, e não obstante permanece amoroso.
É natural que nos preocupemos em ensinar a nossos filhos um modo de proceder que os ajude a lidar com comportamentos impróprios. Ignorar desafios atuais e não alertar as crianças, de maneira tal que elas o compreendam, não é inteligente nem carinhoso. No entanto, ensinar-lhes mera desconfiança cega lhes é prejudicial. Tal ensinamento priva as crianças de sua força derivada do Amor divino. Pense bem! Privar as crianças de seu mais valioso recurso!
Qual é então a solução? Além de orar por nossos filhos, devemos ensiná-los a orar em seu próprio benefício. A oração não é confiança cega. Pelo contrário, a oração deposita a confiança em Deus, o bem onipotente. A oração eficaz baseia-se na compreensão científica de Deus. Ou seja, não estamos fechando os olhos aos maus-tratos cometidos contra crianças, na esperança de que não sejam verdade, nem tentando acreditar que nossos filhos não serão atingidos, mas sim, estamos abrindo os olhos ao mundo e demonstrando o poder do Cristo, a Verdade, para salvar e curar.
Uma vez que as crianças podem ser abordadas quando não há ninguém por perto que as proteja, em primeiro lugar é necessário reconhecer que Deus está sempre com elas e que Sua proteção está sempre presente. Em segundo lugar é necessário que as crianças estejam armadas com a compreensão de sua própria espiritualidade, a qual é, ininterruptamente, a realidade de seu ser. E, ensinando-as a expressar sua força espiritual inerente, podemos ajudá-las a evidenciar essa espiritualidade.
Temos que ensinar nossos filhos a ser pensadores espirituais e a reconhecer seu próprio relacionamento com Deus. Quantas vezes, porém, na vida as pessoas se encontram inteiramente a sós. Mas Deus é onipresente. Não existe lugar em que o amor de Deus esteja ausente. A sabedoria de Deus guia-nos constantemente, Suas leis nos protegem, e Sua verdade desmascara e destrói o mal escondido.
Embora seja vital que nós saibamos que esses fatos espirituais se aplicam aos nossos filhos, também é essencial que as crianças conheçam essas verdades. A criança que está segura de compreender seu ser espiritual, sente-se confiante em sua fortaleza. Dar ouvidos à Verdade e ver por intermédio do sentido espiritual, permite-lhe afastar-se com naturalidade do que lhe for prejudicial.
E se a criança se encontrar numa situação assustadora, talvez dolorosa? Deus está presente! E, sabendo-o, a criança pode socorrer-se em Deus. As crianças têm o direito de saber que nenhuma idéia de Deus jamais se perdeu, que o socorro divino já está presente. A criança pode, por isso, confiar em que Deus há de socorrê-la e lhe preservar a vida.
Os crimes perpetrados contra crianças são, de certa maneira, ataques à inocência espiritual, ao cristianismo, e à própria vivência crística. A depravação germina na mente mortal, a mente carnal, que assim pretende negar o poder e a presença de Deus e tornar vulnerável a inocência. Mas a inocência espiritual não é vulnerável. É forte e permanece intata, seja qual for o quadro mortal. Uma vez que o poder de Deus, o Espírito, está ativo no homem, podemos provar que cada uma das idéias de Deus está a salvo das injúrias ou do impulso da mente mortal de perpetrar o mal.
Talvez os pais achem que devem ajudar seus filhos a serem mais vigilantes. Mas a vigilância não deve impedir nossos filhos de ver todos como filhos de Deus, tratando com deferência cada individualidade espiritual.
Nunca devemos colocar-nos intencionalmente em perigo, quer sejamos crianças, quer adultos. Se sentirmos alguma espécie de desconforto durante um encontro com um desconhecido, podemos utilizar as ferramentas que Deus nos deu: inteligência, sabedoria e espírito de Amor, ou seja: cristianismo. Nunca estamos desprotegidos; estamos sempre em segurança, e a oração é um passo ativo para o provar.
Em Ciência e Saúde, no capítulo intitulado “Os Passos da Verdade”, sua autora indica alguns dos elementos vitais para nossa autoproteção espiritual e para a de nossos filhos. A Sra. Eddy escreve: “Devemos familiarizar-nos mais com o bem do que com o mal e proteger-nos contra as crenças errôneas com a mesma cautela com que trancamos nossas portas contra a penetração de ladrões e assassinos. Devemos amar nossos inimigos e ajudá-los, tomando por base a Regra Áurea; evitemos, porém, lançar pérolas ante os que as pisam com os pés, roubando, assim, a si mesmos e a outros.”
Nossa Líder acrescenta uma afirmação que, para mim, é muito proveitosa nas orações em prol de meus filhos. Essa afirmação mostra-me a necessidade de descartar o medo e de compreender a medida do terno cuidado todo abrangente de Deus. “Os pensamentos e propósitos maus não têm maior alcance, nem fazem maior dano, do que nossa crença permite. Os maus pensamentos, a cobiça e os propósitos maliciosos não podem ir, como o pólen errante, de uma para outra mente humana e ali achar alojamento sem despertar suspeitas, se a virtude e a verdade formam forte defesa.” Ciência e Saúde, pp. 234–235.
Com a compreensão científica do cristianismo, nós e nossos filhos estamos protegidos. Temos também a responsabilidade, para conosco, para com nossos filhos e para com o mundo, de deter o mal. Esforçando-nos para compreender a onipotência e onipresença de Deus, alcançaremos a paz e ajudaremos outros a alcançá-la.
 
    
