Dantes ressentia-me das discórdias menos importantes e costumava negligenciá-las, e tudo ficava na mesma. Até que certa manhã acordei com uma dor de cabeça irritante. Quando pensei no muito trabalho que me aguardava nesse dia, fiquei ainda pior. Depois fiquei zangada e reclamei: "Por que devo haver-me com essa dor de cabeça, quando tenho tanta coisa mais importante a fazer?"
Deixei-me ficar na cama, queixando-me ao mesmo tempo que tentava orar. A certa altura a oração e a súplica a Deus começaram a sobrepujar meu queixume. Minha oração tornou-se bem simples: "Meu Deus, que é que preciso ver? Que preciso fazer?"
A resposta que Deus me deu foi tão concisa e simples quanto minha pergunta: "Começa já!"
Desde logo verifiquei que me habituara a catalogar as dificuldades. Algumas eu achava enormes. Essas eram as que mereciam oração. Outras eram insignificantes e irritantes.
Então pensei: "Se estivesse envolvida num acidente, então sim, estaria disposta a orar. Então estaria envolvida com problemas importantes. Se assim fosse faria o que Deus me pedisse. Mas não por causa de uma simples dor de cabeça."
Recordei-me de certa história bíblica, a de Naamã, o comandante do exército sírio, que sofria de lepra. Ver 2 Reis, cap. 5. Naamã enfureceu-se depois de ter ido à casa de Eliseu em busca de cura e de o profeta o ter mandado, por intermédio de um mensageiro, mergulhar no Jordão sete vezes para ser curado da lepra. Naamã replicou: "Não são porventura Abana e Farfar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel? Não poderia eu lavar-me neles, e ficar limpo?"
Mas seus servos interpelaram-no: "Meu pai, se te houvesse dito o profeta alguma cousa difícil acaso não a farias? Quanto mais, já que apenas te disse: Lava-te, e ficarás limpo." Por isso Naamã foi e lavou-se sete vezes no Jordão e sua carne ficou limpa como a de uma criancinha.
Apercebi-me que me era pedido algo igualmente simples e profundo, ou seja, atender a Deus, a Verdade, ali mesmo onde a discórdia pretendia separar-me da própria razão de minha existência, ou seja, expressar Deus. Tinha que impedir a sugestão de que eu não queria orar. Era evidente que não devia aguardar pelos grandes problemas para orar. Compreendi que a exigência imediata era tornar-me cristã, uma cristã que curasse, mais devota, mais empenhada.
Quando Cristo Jesus nos encarregou de curar os doentes não especificou apenas as grandes moléstias. Ver Mateus 10:8. Nosso trabalho é dar ouvidos a Deus, a Verdade e o Amor divino, deixar que Seu poder curativo incida nas minúcias de nossa vida, quer as questões que se nos apresentem sejam pequenas, quer sejam grandes.
Em Ciência e Saúde a Sra. Eddy assinala a importância crucial de iniciar a atividade de cura. Após explicar como a Ciência Cristã foi aplicada na cura de doenças orgânicas e no despertar de moribundos para a vida, ela afirma: "No entanto, temos de começar pelas demonstrações mais simples de domínio, e quanto mais cedo começarmos, melhor será." Ciência e Saúde, p. 429.
Com lágrimas nos olhos comecei a enfrentar as dificuldades, pequenas ou grandes, e a orar a Deus, de todo o coração. Não me esquecerei da alegria que senti ao fazê-lo. Percebi que a cura seria para Sua glória, porque obedecer a Deus significa honrá-Lo.
Vislumbrei então a lição dessa experiência. Recordei-me de um versículo bíblico que antes lera com freqüência. Desta vez as palavras adquiriram especial significado e inspiração: "Disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança: tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra." Gênesis 1:26.
Vi com maior clareza do que nunca dantes o fato de ser eu realmente espiritual e não material. O homem não é composto de muitas partes materiais. Em Ciência e Saúde o homem é assim descrito: "As Escrituras nos informam que o homem é feito à imagem e semelhança de Deus. A matéria não é essa semelhança. A semelhança do Espírito não pode ser tão dessemelhante do Espírito." Ciência e Saúde, p. 475.
O Espírito, Deus, tem todo o poder, e o homem, feito à Sua imagem e semelhança, reflete esse poder ilimitado. Compreendi que por ser na verdade o reflexo do Espírito, eu tinha poder imediato para rejeitar o mal, quer se apresentasse como dor de cabeça, quer como catástrofe. Compreendi que por não ser a matéria feita por Deus, não pode usurpar a presença e o poder de Deus. Na realidade eu só podia ter sensações espirituais, provenientes de Deus, incluindo liberdade e alegria, e não dor e frustração.
Essa humildade que me invadiu trouxe-me, pouco a pouco, força espiritual. Com efeito, depressa comecei a compreender a dimensão ampliada do domínio concedido por Deus ao homem, e não me deixei mais enganar pelo cenário da existência mortal, montado pelos sentidos físicos, repleto de discórdia, raiva, ressentimento e dor.
Não importa que o erro se apresente como acidente, como doença considerada "séria", ou ainda como dor de cabeça. Deus nunca fez o homem vulnerável ao mal, seja qual for o disfarce com que este último se apresente. A verdade é que o homem só pode ser como Deus o criou. E Deus criou-o espiritual, harmonioso e invencível, por inteiro.
Quanto mais eu afirmava e aceitava essas verdades espirituais, mais alegria sentia. E quando nessa manhã saí para ir trabalhar, estava completamente curada.
Senti-me grata não só pela cura física, mas também por ter aprendido a nulidade do pensamento que classifica as dificuldades: grandes ou pequenas, importantes ou insignificantes. Todas as discórdias baseadas no relato falso dos sentidos materiais de sermos mortais desapossados de nosso domínio, devem ser enfrentadas com honestidade e assim curadas. O significado básico de todas as curas, pequenas ou grandes, é pôr mais em destaque a presença de Deus e nossa verdadeira natureza espiritual, a de Seus filhos. Não há limites ao progresso de quem está disposto a orar a Deus para a solução de todos os problemas, e não apenas dos grandes.
 
    
