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O vínculo real

Da edição de janeiro de 1989 dO Arauto da Ciência Cristã


Uma jornalista que percorreu diversos países das Américas nos últimos cinco anos, descreveu em três frases, difíceis de igualar por sua habilidade de resumir, o tremendo contraste entre a escravidão e os elos do amor. Diz: "Um menininho, com o cabelo cortado rente e calças demasiado grandes, aprende a soltar um papagaio de papel de jornal. Não sabe o que é brincar, pois em sua infância de moleque da rua afanou dinheiro, lustrou sapatos, vasculhou lixo. Mas quando o acaricio, aflora em sua face um amplo sorriso e ele me abraça com toda a força." Pamela Constable, "The truth about covering Latin America", The Boston Globe Magazine, 20 de setembro de 1987, p. 13.

Limitações tremendas perseguem a idéia de que o homem é o filho de Deus, e pretendem subtraí-la à vista. A escravidão e o desleixo despertam sentimentos agudos, de revolta e desesperança. No extremo oposto do espectro humano encontramos relacionamentos profundos que compelem aos mais heróicos e compassivos gestos. São relacionamentos que despertam em nós uma necessidade quase indescritível de amar.

A capacidade inata que a criança tem, de aceitar e retribuir amor, ainda que nas mais aterradoras circunstâncias, é sinal de nossa natureza espiritual e de nossas capacidades genuínas. De que outra maneira descrever, por exemplo, o afeto que irresistivelmente atraiu para o pé da cruz Maria, mulher de Cleofas, Madalena, João, o Apóstolo, junto com a mãe de Jesus, no preciso momento em que as forças centrífugas do medo afastavam tantas outras pessoas e as reduziam ao silêncio?

Esses vínculos fundamentais, quer os intitulemos espiritualidade ou amor incondicional, sublinham a força vital que faz surgir, junto à miséria material mais ignóbil, a certeza espiritual do que é verdadeiramente a Vida divina, a Vida que é Deus. Vêmo-los, por exemplo, na resposta que Jesus dava às pessoas mais desesperadas e desprezadas. Ao sair Jesus de Jericó, um mendigo cego à beira do caminho clama a ele por misericórdia. Algumas pessoas ordenam ao mendigo, chamado Bartimeu, que se cale. Talvez se sintam constrangidas por Bartimeu. Talvez o considerem tão insignificante como uma pedra de tropeço no caminho de realizações maiores.

Talvez o motivo para silenciar Bartimeu fosse apenas o de que os circunstantes não percebiam relação alguma entre o ministério de Jesus e um mendigo pobre e cego. Mas Bartimeu a percebia. E Jesus também a viu. Eis que algo grandioso estava ocorrendo naquele dia, o Princípio divino a desvendar-se, gradual mas inevitavelmente no mundo, ali mesmo, no meio da vida rotineira e de sua estridência diária. Ali, olhos postos em Jesus e Bartimeu, as pessoas estavam na iminência de uma descoberta espiritual, que lhes revelaria a própria lei divina subjacente à vida. Naquele dia, Bartimeu tornou-se nova criatura; “tornou a ver, e seguia a Jesus estrada fora.” Marcos 10:52.

Há um vínculo, um vínculo interpessoal que pode ser um evento tão inesperado para o sentido material como o abraço de um moleque da rua perante o amor que lhe é oferecido. Mas para o sentido espiritual, que cada um de nós possui, mesmo que por desenvolver, esse vínculo dá unidade à vida e é a força espiritual que, por assim dizer, mantém coeso o mundo. É a força que dita a ordem e a harmonia pelas quais a terra gira em torno de seu próprio eixo, a flor desabrocha ao sol da manhã, os homens se esforçam para construir um mundo melhor e para obter uma idéia mais clara da relação que têm cada um e todos com Deus.

Ainda que não estejamos pensando nesse poder divino, ele pode irromper de forma surpreendente em nossa vida. Acontecimentos ou decisões que não havíamos previsto, ou que há muito esquecêramos (ou desejaríamos ter esquecido), põem-se de súbito em foco, inevitavelmente. Então esses acontecimentos, às vezes trágicos, outras vezes ternos e repletos do poder dinâmico da bondade reconhecida ou relembrada, nos compelem a mover-nos na direção de Deus em caminhos ainda mais irresistíveis e poderosos do que jamais julgáramos possível.

A unidade espiritual é um fato. Tal unidade existe porque Deus é a Vida, e tudo quanto não se coaduna com Seu amor, tem de se render, por fim, à lei divina. O mal, seja qual for a forma que tome, tem de dar lugar ao bem, porque o mal não é sustentado pelo impulso da lei divina. O mal é uma mentira horrenda, aflitiva, trágica. Eis aí uma declaração espiritual metafísica, uma verdade divina. É uma verdade que estimula a reforma, pondo a descoberto e, por fim, anulando, toda mentira, toda agressividade que pretenda deformar ou obscurecer a realidade de ser o homem a imagem de Deus.

Essa realidade foi iluminada por Cristo Jesus. E não nos podemos permitir ignorá-la. Em Jesus vemos por fim o que é a vida conjugada com a própria Vida divina. E quando compreendemos essa realidade, move-nos um impulso genuíno, corajoso, e uma indomável rebelião contra a doença e o pecado. Obtemos vislumbres da imortalidade, um novo gênero de amor, e a realidade de Deus se evidencia no poder sanador de uma vida cujo centro está em Deus. Sobre esse vínculo indissolúvel que existe entre nós próprios e Deus e o exemplo de Jesus, a Sra. Eddy escreve: “... o homem seria aniquilado, não fosse o vínculo indissolúvel do homem real e espiritual com seu Deus, vínculo que Jesus trouxe à luz. Na sua ressurreição e ascensão, Jesus mostrou que um homem mortal não é a essência real do homem e que essa mortalidade material e irreal desaparece em presença da realidade.” Ciência e Saúde, pp. 292–293.

Podemos valer-nos da oração, e tal como Bartimeu, não aceitar que nossas invocações da imortalidade e da bondade do homem sejam silenciadas. Então, veremos coisas que jamais víramos antes. E, talvez ainda mais importante, começaremos a fazer coisas que nunca pensáramos estar ao alcance da nossa compreensão da lei divina, daí decorrendo mudanças e genuína cura cristã. O mundo nunca mais será o mesmo, nem para ti nem para aqueles com quem entrares em contato. A escravatura moral, bem como a escravatura física e econômica, começarão a ser derrocadas, e os homens e as mulheres aflorarão como os filhos de Deus, dignos, saudáveis, em liberdade.


Vede que grande amor
nos tem concedido o Pai,
ao ponto de sermos chamados filhos de Deus;
... e ainda não se manifestou o que havemos de ser.
Sabemos que, quando ele se manifestar,
seremos semelhantes a ele ...
E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança,
assim como ele é puro.

1 João 3:1–3

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