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As mulheres têm opção

Da edição de março de 1989 dO Arauto da Ciência Cristã


No final do primeiro ensaio do coro universitário, a diretora teceu alguns comentários sobre a música que estávamos cantando e citou um versículo de 2 Timóteo: “Procura apresentar-te a Deus, aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da Verdade.”  2 Tim. 2:15. A seguir explicou em detalhes como esse versículo se aplicava à nossa atuação. A qualidade de nossa música, ou seja, o controle da voz, a concentração e a harmonia seriam melhores se estivéssemos mais bem sintonizados com a aprovação de Deus e O estivéssemos escutando. Ela gostava de considerar o canto como meio de louvar nosso Pai, ao invés de ser algo para impressionar a platéia.

Essa foi a primeira vez que num ambiente profissional dei com alguém que, de público, afirmasse terem os ensinamentos bíblicos efeito sobre atividades e decisões comuns. Pode-se esperar a ajuda de Deus, literalmente, orando para estar perto dEle.

A mensagem causou impacto todo especial porque eu tinha gasto tanta energia procurando descobrir como obter a aprovação de meus pais. Ao mesmo tempo eu não desejava fazer concessões e tornar-me estranha a mim mesma. Na escola secundária eu fora atraída pela idéia de tocar piano, de escrever ensaios, pelos direitos civis e por acampar, nem sempre o que meus pais tradicionalistas consideravam ser adequado a uma jovem. Quando cheguei à faculdade, as coisas melhoraram um pouco (ou talvez eu tivesse aprendido a agir com algum tato), mas ainda havia desacordo fundamental sobre os valores sociais e o que eles acreditavam ser de interesse para a mulher.

Quando há desacordo no seio da família, embora cada pessoa tenha o direito de tomar decisões por si mesma, ainda assim é preciso dar atenção ao Stress emocional. Levada por essas desavenças, comecei a examinar o uso da oração, objetivando em particular a sua aplicação à minha própria identidade, ao que eu desejava fazer e como fazê-lo.

Naquela ocasião, eu estava lendo o livro Ciência e Saúde de autoria da Sra. Eddy. Gostei, por exemplo, dos conceitos contidos no capítulo “A Oração”, mas do meu ponto de vista essas afirmações e promessas pareciam bem inalcançáveis. Era marcante a minha falta de vontade de abandonar a escolha pessoal e o drama, a fim de confiar nas seguintes mensagens: “A oração não pode modificar a Verdade inalterável, nem pode a oração, por si só, dar-nos a compreensão da Verdade; mas a oração, de par com um desejo fervoroso e constante de conhecer e fazer a vontade de Deus, há de nos conduzir a toda a Verdade.” Ciência e Saúde, p. 11.

É preciso ceder um pouco naquilo “que eu quero que seja verdadeiro” a fim de sentir interesse no fato de que a identidade é realmente espiritual. Essa é uma das mais importantes lições que aprendi na Ciência Cristã. É possível neutralizar o medo e começar, pelo menos, a reconhecer que a Mente divina é a única causa. E daí, pouco a pouco, as decisões pessoais são invadidas por certa calma. Vem a seguir a descoberta de que deixando de lado as opiniões (nossas ou alheias) e buscando Deus, o indivíduo se sente gradualmente dirigido. Abandona a rebeldia. A condescendência instável cede ao senso comum.

É bastante óbvio que independente de idade, sexo ou da década em que vivemos, temos de lidar, de um ponto de vista humano, com a influência do ambiente que nos cerca, dos costumes, e do que muitos cientistas sociais consideram “marcas de família”. As influências variam, podendo ir de benéficas a, até mesmo, abusivas; podem resultar em inclinações boas ou nada boas. Por exemplo, a comunidade é beneficiada por um sistema de ordem: Paramos quando o sinal de tráfego está vermelho, esperamos em fila no supermercado, pagamos impostos. Em outras ocasiões, o mero hábito de fazer o que os outros fazem a fim de ganhar popularidade, envolve a individualidade num sentimento de preguiça. A fome por receber aprovação a qualquer preço é capaz de frustrar o contentamento real.

Conformismo e aprovação vieram à tona em meio a uma recente troca de idéias, quando uma amiga minha descrevia os conflitos que estava enfrentando. “No lugar em que moramos, é incrível a pressão para que o recém-nascido seja colocado numa creche tão logo possível, a fim de que a mãe retorne ao trabalho. Não importa qual seja o trabalho ou se preferimos realmente ficar em casa e tomar conta dos próprios filhos, se alguém não se atira de corpo inteiro numa carreira, as pessoas pensam haver algo de errado com essa pessoa e que ela não está fazendo nada de valioso.”

(Compreendi a situação de minha amiga. Quando nossos filhos eram pequenos, ocorria exatamente o oposto. O padrão aceito era de que as mães não deviam seguir uma carreira, mas ficar em casa o tempo todo. Não é que a “sociedade” valorizasse o que estávamos fazendo; tratava-se apenas do padrão em voga, que se esperava fosse seguido. Eram relativamente poucas as mães que então trabalhavam fora do lar. Mas o que se espera das mulheres muda quase tanto quanto o comprimento das saias. Por certo ainda me lembro de meus pais, que, tal como muitos outros, diziam: “É claro que você vai se casar e ter filhos. Você não precisa se formar ou ter uma profissão. Apóie o trabalho de seu marido. Isso é o que compete à mulher.”)

Minha amiga, que se sentia pressionada, disse também: “O pior é a sensação de que a mulher não conta, a menos que tenha uma carreira. Como defender o que foi nossa escolha? Antes de mais nada, como saber o que se deve escolher?”

A essa altura, meu pensamento foi outra vez de volta ao lembrete da diretora do coro que nos disse para trabalharmos para agradar a Deus e percebermos que a segurança provém de se escutar a Sua orientação. Isso pode não ser o que a maioria das pessoas pensa enquanto são pressionadas a tomar decisões. Que tentação escolher os métodos humanos de obter respostas. Quanto seduz a forma como somos levados a pensar que as soluções provêm só de modelos ou análises humanas racionais. Examine os prós e os contras: a resposta é aquela que apresenta menores desvantagens. Ou, veja o que a Melissa e a Diana vão fazer e faça o mesmo. Melhor ainda, procure um grupo de especialistas e siga a recomendação deles. Será que nossos planos perder-se-ão se escolhermos uma rota determinada? Quem designa as funções de cada um de nós?

É natural colher provas, examinar as alternativas, repensar a fundo as coisas. Ora, são vulneráveis as decisões moldadas segundo as linhas da ambição pessoal, da pressão social, do medo, de horizontes limitados ou de projeções psicológicas. Uma premissa limitada há de fatalmente levar a uma conclusão limitada. Daí a segurança (e o alívio) que resulta da oração, de abordar as decisões na base do raciocínio espiritual e do que Deus provê. O ponto de vista espiritual é ilimitado por natureza.

Se pudermos abandonar as dúvidas da mente mortal limitada pelas certezas da Mente divina, haveremos de receber silenciosa orientação. Quando começamos a orar com honestidade, para saber que Deus, o Amor, é a única inteligência, a questão “Qual o caminho a seguir?” perde seu fio aguçado. Algo bem diferente do ponto de vista mundano começa então a acalmar o pensamento. Ou, em outras palavras, constatamos ser mais natural obedecer a Deus do que desobedecer ao Primeiro Mandamento por acatar “outros deuses”  Êxodo 20:3..

Pode parecer que a questão seja se uma mãe (ou um pai) deve ficar em casa ou continuar o trabalho na agência de publicidade, ou colocar os pequeninos na creche, ou será que a tia Amélia devia vir morar conosco e cuidar do recém-nascido? Mas a verdadeira pergunta é: Estamos dispostas a confiar na evidência espiritual da solicitude de Deus por Sua criação? Podemos esperar que essa solicitude se reflita no atendimento coerente das necessidades de todas as pessoas envolvidas? O que Deus sabe a respeito de toda a Sua criação é o ponto fundamental de que necessitamos. Revela que cada um dos membros da família é, de fato, Sua idéia e é muito bem acalentado. O contentamento faz parte da natureza espiritual do homem.

Que maravilha é notar que a tensão causada pela necessidade de tomar decisões, passa a perder força por admitirmos que nosso Pai-Mãe conduz para a luz espiritual todas as suas idéias espirituais. Deus, e não as intenções humanas, é que nos prepara para a atividade do reflexo puro. Ele não se deixa impressionar, ou abalar, por “modismo”, medo ou prioridades confusas, e o Amor divino está sempre bem à mão “quando te desviares para a direita e quando te desviares para a esquerda,” para dizer: “Este é o caminho, andai por ele.”  Isaías 30:21.

Nem sempre é fácil abandonar idéias preconcebidas sobre o que é melhor sob determinadas circunstâncias humanas. Mas quando oramos mesmo, visando submeter-nos à “aprovação” de Deus, a orientação do Verbo talvez traga consigo algo bem novo no sentido de suprir às necessidades mundanas comuns. Cristo Jesus afirmou que todas essas coisas seriam acrescentadas se buscássemos primeiro “o seu reino [o reino de Deus] e a sua justiça.” Mateus 6:33.

Quando nosso filho mais novo tinha cerca de onze anos, comecei a sentir-me pressionada a provar minha capacidade no mercado de trabalho. Eu sabia que era vital o trabalho que eu fazia no lar, tomando conta dos filhos, e era um prazer vê-los crescer. Os detalhes do cuidado da casa, que se deviam ao nosso estilo de vida de casados, não representavam problema algum, e a vantagem de ter jurisdição sobre o meu próprio tempo era algo que eu valorizava. Tínhamos dívidas, como muita gente tem, mas o fator econômico era motivo menos importante do que o ser aceita em minha profissão.

Uma coisa levou a outra e dentro de pouco tempo eu estava bem empregada. Meu trabalho não podia ser mais interessante. Eu sabia que estava provando minha capacidade profissional e o nosso saldo bancário era bem melhor. Pouco a pouco fui ganhando o respeito de meus colegas, e no final do primeiro ano em minha nova firma, meu marido, meus filhos e eu concordamos que tudo ia bem.

Havia porém algo que me importunava. Eu não tinha certeza de que a decisão fora tomada visando ao bem da família assim como ao meu próprio. Eu não tinha orado sobre esse ponto. Eu não me sentia espiritualmente calma.

Decidi que antes de renovar o contrato, eu faria um estudo buscando obter a aprovação “de Deus” para certificar-me do que me estava guiando. Mais importante do que a realização espiritual (que eu sentia) era a necessidade de saber que esse trabalho era a coisa mais certa sob as circunstâncias.

Orei para ver que o homem é cordato e inteligente. Com toda a honestidade eu pensei: “Pai, mostra-me o que Tu sabes, e qual o caminho a seguir.” De minha oração constava a disposição genuína de seguir qualquer um dos dois caminhos: deixar o trabalho ou continuar nele. Eu ansiava por intuição espiritual, pela escolha individual tanto para mim como para a minha família. Não queria algo para todas as mulheres e todas as famílias. Queria apenas escutar para ouvir o que Ele dizia, só para nós.

O desejo de recorrer à inteligência divina aliviou a pressão. Eu sabia que Deus não tinha necessidade da análise de quem quer que fosse, de palpites alheios, de sentimento de culpa ou de medo. Pouco a pouco estes foram desaparecendo e tive a certeza de que a oração revelaria se o contrato devia ser renovado ou não.

A resposta veio bem clara numa tarde de abril. Eu voltava apressada para o escritório. Usava um conjunto de casimira cinza, levava uma pasta também cinza, tinha o ar de pessoa elegante, pensava eu. De repente, ao ver na vitrina de uma loja a minha figura, foi como se alguém tivesse removido o pano que cobria um retrato, e eu captei uma imagem mental espantosa de mim mesma e das atuais prioridades da família. “Mas esta não sou eu!” pensei. “Realmente não estou neste trabalho para louvar Deus; não tenho certeza de que abençoa a minha família. Então por que continuar com ele?”

Não houve argumento contra esse vislumbre, e decidi não renovar o contrato. Tão logo foi possível ajeitar as coisas de maneira justa, deixei o trabalho e sua recompensa financeira, sem sequer voltar para trás o olhar.

Levei comigo, porém, um conceito um tanto diferente do que significa ser importante para Deus. Essa certeza não vem de acordo com quando ou onde você trabalha, nem mesmo com a natureza precisa do trabalho, mas resulta da convicção de que o homem é obediente ao mandado divino. Ser aprovado pelo nosso Pai-Mãe é realizar-se. E isso mostra o caminho.

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