Olimpíadas especiais, maratonas em cadeiras de rodas, marujos cegos zarpando para longas viagens solitárias. ... Todos esses eventos nos inspiram o mais profundo respeito. Aplaudimos, de todo o coração, a coragem e a vitória sobre as limitações, ambas características desses acontecimentos.
No decorrer dos últimos anos, por consenso geral, surgiu nas nações ocidentais uma nova maneira de pensar a respeito dos deficientes físicos. Há lugares reservados nos estacionamentos, rampas de acesso, leis contra a discriminação e, o mais importante, a atitude pública tende a rejeitar o preconceito e a aceitar, com entusiasmo, todos os que pertencem à família humana.
Os indivíduos considerados deficientes dizem, muitas vezes, que o mais importante para eles não é a comiseração, mas sim serem tratados de igual para igual.
Isso traz à tona uma questão básica. Como podemos tratar como nosso igual alguém que, mental ou fisicamente, não é bem igual a nós? Entretanto, é isso que claramente se faz necessário.
Não deveríamos, então, começar com nossa própria percepção? Talvez devamos desafiar alguns de nossos preconceitos fundamentais. Se, por exemplo, nos defrontamos com alguém que tem uma deformidade física, alguém como o rapazinho adolescente, personagem principal do filme Marcas do destino, será que recuamos, seja de foro íntimo, seja de forma visível? Se a resposta for sim, por que o fazemos? Não será em grande parte porque fomos condicionados pela sociedade a associar a beleza, a atração e até a bondade com certos padrões físicos? No entanto, será que isso faz sentido?
Há uma observação interessante em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de Mary Baker Eddy. Citando o poeta escocês Robert Burns, ela escreve: “... a perda de um membro ou a lesão de um tecido é o que às vezes reaviva a energia do homem; e o infeliz aleijado talvez mostre mais nobreza de caráter do que o atleta escultural — ensinando-nos que a despeito de suas deficiências ‘um homem é um homem apesar de tudo’.” Ciência e Saúde, p. 172.
Como acontece em tantos outros terrenos, poderemos fazer enorme progresso tangível no apoio aos deficientes, se desmaterializarmos a visão que temos do homem. Se deixarmos de acreditar que o homem é definido pela perfeição de seus membros, pela eficiência de seus sentidos ou pela conformação de sua aparência física, seremos capazes de aumentar nossa convicção de estar íntegra a saúde do indivíduo. Pensaremos nele, não como “o manco” ou “o maneta” mas sim, segundo o valor das qualidades que ele expressa.
Estamos começando a perceber aonde isso nos leva, pois não se trata apenas de conscientizar-nos de que a pessoa que tem um defeito físico, não está privada de sua inteireza como homem, mas trata-se de estender esse conceito de inteireza também às pessoas que sofrem de deficiência mental.
Muitas vezes, essa é tarefa das mais difíceis porque, de novo, fomos ensinados a admitir que a atitude ou comportamento de alguém constitui a essência de seu caráter. Mas não é bem assim. Sabemos, por exemplo, que o indivíduo agressivo pode estar refletindo um padrão de comportamento que há muito lhe foi imposto, por ter sido constantemente agredido. Uma observação mais profunda, porém, pode revelar revelar muito mais maleabilidade do que se supunha, pode indicar que por trás das aparências, o indivíduo é mentalmente são e bom.
Está começando a ficar claro, espero, que este editorial não trata tanto de ajudar aos deficientes, mas sim de ajudar-nos a todos, a abandonar as deficiências inerentes a nossa mentalidade limitada.
Você não acha que o progresso da humanidade provém do desmoronamento da tradição que pretende associar o homem com a matéria? Nem a pessoa fisicamente deficiente, que parece ter perdido um ou mais membros, ou sentidos físicos, nem a pessoa material e perfeita é, na realidade, o homem criado por Deus.
Nas frases que precedem o trecho citado anteriormente, de Ciência e Saúde, a autora escreve: “Que é o homem? É ele cérebro, coração, sangue, ossos etc., a estrutura material? Se o homem verdadeiro está no corpo material, então, ao lhe amputares um membro tiras uma parte do homem; o cirurgião destrói o homem, e os vermes o aniquilam.”
Essa maneira de discernir o ser deve ter sido, sem dúvida, imanente em Cristo Jesus, você não acha? Ao olhar para o homem junto ao tanque de Betesda, enfermo havia trinta e oito anos, ele não o viu como se fosse um “aleijado”. Ele o viu como homem, filho espiritual do Pai espiritual, o Deus incorpóreo, que é o Amor. Jesus olhou para além daquilo que ele via, para aquilo que ele sabia estar ali. Na vida de Cristo Jesus, vemos o resultado tangível dessa maneira extremamente diferente de compreender o homem. Não era tão só amar e encorajar: era curar.
Essa compreensão de que o homem é espiritual, de que Deus o conserva intacto e perfeito, à Sua imagem e de que o amor e a espiritualidade nos capacitam a discernir melhor essa inteireza, é o que fundamenta a cura pela oração na Ciência Cristã
Christian Science (kris´tiann sai´ennss). Mas também impõe aos estudantes dessa Ciência uma exigência especial. Mesmo estando profundamente dedicados a reconhecer a perfeição espiritual e a sanidade do homem, eles devem ter a certeza de não ser inconscientemente levados a não se sentir bem na presença de uma pessoa, cuja limitação física ou mental ainda não tenha sido curada. Também devemos exercer controle sobre nós mesmos para não aceitar o conceito de que a deficiência surgiu e permaneceu, por causa do pecado ou da falta de espiritualidade da pessoa. Se somente pensarmos no Apóstolo Paulo e em seu “espinho na carne”  2 Cor. 12:7., venceremos a tentação de julgar.
Compreender que o homem é espiritual, significa ficar firme nesse fato, mesmo que a carne ainda não dê nenhuma evidência de estar correspondendo a essa verdade espiritual e científica. O único conceito de homem que o Amor tem, é indubitavelmente a perfeição, sem vantagem nem desvantagem de espécie alguma. E é essa visão que oferece o melhor tipo de cura para a humanidade. Com ela, podemos nos livrar do preconceito dos sentidos materiais e simplesmente — amar.
Permanece naquilo que aprendeste,
e de que foste inteirado;
sabendo de quem o aprendeste. ...
a fim de que o homem de Deus seja perfeito
e perfeitamente habilitado para toda boa obra.
2 Timóteo 3:14, 17
 
    
