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Ninguém está fora do alcance do amor de Deus

Da edição de março de 1990 dO Arauto da Ciência Cristã


Tenho a impressão de que nenhum lar é tranqüilo o tempo todo. Talvez haja uma vasta gama de variações, desde o "geralmente tranqüilo" ao de "violência constante".

O que acontece, é que ninguém sabe realmente como são as coisas na casa dos outros. Segundo algumas estatísticas, a brutalidade para com as crianças é mais freqüente do que a maioria das pessoas imagina. Atualmente, pelo menos, o problema dos maus tratos às crianças é trazido à baila. As pessoas falam disso e muitas têm consciência de que se pode fazer alguma coisa.

Quando eu era pequena, tinha um segredo horrível: meu pai me espancava. Eu fazia de tudo, até inventar mentiras, para que meus amigos e professores não descobrissem. Mesmo no verão, usava blusas de mangas compridas para cobrir as marcas nos braços, pois tinha muita vergonha.

Não que eu mentisse para proteger meu pai, pois não sentia amor algum por ele, eu o odiava. Odiava meu pai, a casa onde morávamos e a vida que eu levava naquela casa. Amava minha mãe, mas tinha raiva de sua incapacidade de enfrentar meu pai em qualquer questão importante. Ressentia-me especialmente da hipocrisia que fazia com que nossa família parecesse tão simpática aos olhos dos outros. Tinha ódio das horas que eu passava chorando, sentindo-me presa numa armadilha, sem gostar de mim mesma, também, por ser tão desgraçada.

Por isso, quando finalmente saí de casa, aos dezenove anos, foi como se tivesse saído da cadeia. Só que a coisa não era tão simples assim. Eu não conseguia me livrar daqueles sentimentos de rancor e infelicidade.

Ainda estava revoltada, carregava grande ressentimento. Tinha me saído bem na escola, mas eu me considerava uma vítima, uma sobrevivente. Tinha me convencido de que pela força de vontade pessoal, pela agressividade e pela teimosia, impediria que meu pai arruinasse minhas esperanças e meu potencial.

Foi nesse estado de espírito que a Ciência Cristã me encontrou, ou melhor, que conheci a Ciência Cristã. Sem dúvida, foi uma época de valiosas descobertas.

Fazia um ano que eu estava fora de casa, quando conheci alguns Cientistas Cristãos e comecei a ir com eles à igreja. Havia vezes em que estar naquela atmosfera equivalia quase a um choque de culturas. Sentir aquela atmosfera tão completamente isenta de ansiedade, era muito diferente de tudo o que eu conhecia.

No decorrer da semana, sentia tanta vontade de gozar aquela atmosfera, que tomava o ônibus e ia à cidade para ficar na Sala de Leitura da Ciência Cristã. Nunca deixava de me surpreender pelo fato de a atendente sempre se alegrar de me ver. Lembro-me de uma noite, no dormitório da faculdade, em que eu senti o desejo de ter um lar meu para onde ir em busca de paz. Aí lembrei-me de que eu tinha a Sala de Leitura para ir e me sentir em paz. Também tinha aquela mulher sorridente que parecia feliz de me ver, tanto quanto eu ficava contente de estar lá. Às vezes eu lia. Mas com freqüência, afundava numa cadeira, fechava os olhos e ficava quieta, em paz. Lembro-me de vezes em que, sentada naquela Sala de Leitura, chorava lágrimas de gratidão e orava de todo o coração.

O que me impressionou, desde o início de meu estudo, foi algo bem simples, mas foi a pedra angular de meu progresso espiritual. É bem significado da primeira frase da Oração do Senhor, que Cristo Jesus nos ensinou: "Pai nosso que estás nos céus, Nosso Pai-Mãe Deus, todo-harmonioso,. . ." (A parte grifada é a interpretação espiritual que a Sra. Eddy dá em Ciência e Saúde.) Ciência e Saúde, p. 16.

Desde a mais tenra infância, eu tinha associado "ódio" ao termo "pai", pois meu pai tinha se me afigurado como sendo um poder tirânico. Agora, pela oração, eu começava a perceber que meu verdadeiro Pai é Deus. Como Deus é todo-poderoso, Ele é o único poder real que atua sobre mim, portanto Ele me ama e me protege. A princípio, esse raciocínio espiritual parecia-me não mais do que algo agradável em que pensar, mas um tanto abstrato. No entanto, à medida que continuava a lembrar, em oração, que Deus é em verdade meu Pai-Mãe, e afirmava que Ele é todo-harmonioso, algo começou a mudar em meu conceito de Deus e de mim mesma.

Provavelmente, o mais importante foi que comecei a me sentir profundamente amada, não só pelos queridos amigos Cientistas Cristãos e pela atendente da Sala de Leitura. Sentia-me profundamente querida de Deus, de uma forma espiritual, numa profundidade e a um nível como jamais sentira antes.

Havia temporadas, horas e dias, em que meu mundo já não parecia cruel e malvado, mas refletia luz, ternura e ordem. Tive algumas curas físicas que me surpreenderam, porque não tinha orado especificamente para isso. Problemas financeiros começaram a ser solucionados. Achei coragem para terminar um namoro e essa foi a melhor coisa para o rapaz e para mim. Foi uma decisão difícil, mas não me senti solitária nem desesperada.

Tornou-se natural, menos abstrato, pensar em Deus como meu "Pai-Mãe. . ., todo-harmonioso". Essa verdade iniciou a cura daquelas lembranças traumáticas e das cicatrizes emocionais que vinham de uma infância violenta.

Um dia, encontrei um parágrafo em Ciência e Saúde, que teve um significado extraordinário para mim. Decorei-o e, até hoje, após anos de estudo desse livro, é um dos trechos mais queridos para mim: "Na Ciência o homem é o descendente do Espírito. O belo, o bom e o puro constituem sua ascendência. Sua origem não está instinto instinto bruto, como a origem dos mortais, e o homem não passa por condições materiais antes de alcançar a inteligência. O Espírito é a fonte primitiva e derradeira de seu ser; Deus é seu Pai, e a Vida é a lei de seu ser." Ibid., p. 63.

Sempre pensara que meu pai, com seu alcoolismo e egoísmo, (de certa forma, também minha mãe, por sua falta de coragem e de auto-estima,) tinham sido a causa de todos os meus problemas. Daí vinham meu nervosismo, minha dificuldade em fazer amigos, minha fragilidade emocional, minha mentalidade de sobrevivente.

"É culpa deles", pensava. "Se meu pai não tivesse sido tão egoísta e malvado, eu não roeria as unhas nem roeria as amizades com meu mau gênio." Dizer que eu vivia cheia de ressentimento, amargura e dó de mim mesma, é dizer pouco. No entanto, a verdade acerca de minha origem como descendente do Amor divino, continuou a brilhar sempre mais em meu pensamento, até que comecei a entender que no meu ser real, na filha espiritual e bem-amada de Deus, que eu realmente era, não havia coisa alguma que tivesse sido moldada ou condicionada por mortais e por um ambiente material.

Quanto mais eu admitia que o homem é criado por Deus, não por vontade humana nem por acidente biológico, mais as coisas melhoravam. Não só eu notei a diferença, mas os outros também diziam que eu parecia diferente. Tinha começado a entender realmente o quanto "o belo, o bom e o puro" constituíam meu ser real como descendente de Deus. Quando comecei a me sentir ternamente amada, tornei-me diferente.

Dessa forma, o amor maravilhoso de meu Pai-Mãe ia aparando as arestas de meu caráter, trazendo à minha individualidade espiritual. Compreendi que minha identidade real se expressava naturalmente em qualidades do Cristo, tais como ternura serenidade, compostura, coragem e confiança em que o bem é o único poder.

Alegria era algo que eu raramente sentira em meus anos de formação: estava sempre abatida e com medo. Nos últimos anos, meus amigos têm comentado que a alegria é algo que nunca me falta. Isso me comove de um modo todo especial, porque sei que essa qualidade origina-se em Deus. Cristo Jesus disse: "A vossa alegria ninguém poderá tirar" e "Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo." João 16:22; 14:27.

Alguns poderão indagar quanto tempo levou para realizar-se essa cura. Bem, foi um processo de muitos anos, mas desde o momento em que comecei a estudar a Ciência Cristã, começaram as mudanças e eu fui me sentindo cada vez mais livre.

Até o momento, as relações, familiares ainda não foram resolvidas a ponto de nos reunirmos todos e sentirmos amor e respeito uns pelos outros. Tampouco sei que lições os outros membros da família já aprenderam, ou ainda têm de aprender.

Todavia, consegui perdoar total e incondicionalmente, deixando de lado a amargura e o ódio. Sei que essas coisas nada têm a ver comigo, em minha natureza de filha de Deus. Também sei que a violência nada tem a ver com meu pai, pois a violência e o egoísmo não são parte do homem que Deus criou.

Para mim, o progresso espiritual inclui uma "revisão", um rever quem sou. Não afirmo que, em termos humanos, aquelas coisas nunca ocorreram. Mas estou começando a ver a experiência humana mais como um sonho do qual Cristo, a Verdade, nos desperta. Esse despertar pode ocorrer aqui e agora.

Após narrar com franqueza suas próprias experiências familiares, a Sra. Eddy diz daquelas narrativas: "É preciso revisar a história humana, e apagar o registro material." Retrospecção e Introspecção, p. 22.

Esse trecho tem me dado muito que pensar. Pela perspectiva que tenho agora, a revisão continua e é algo maravilhoso, pois nossa visão do homem de Deus nos traz para mais perto da criação espiritual do Pai e nos liberta das imposições e limitações da versão material. Minha história foi, sem dúvida, revisada: foram eliminados tanto o registro material do sofrimento, como o rótulo de "criança maltratada", com os sintomas correspondentes.

Estou contente, mas não só por mim. Estou contente porque sei que a Verdade e o Amor estão aqui, também para os outros, adultos e crianças. Sei que ninguém pode estar fora do alcance do amor de Deus. Não há ninguém que, mediante a reivindicação de sua liberdade como filho bem-amado de Deus, não possa ser libertado de um passado de abusos.

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