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“A vontade do povo é que prevalecerá”

Da edição de julho de 1991 dO Arauto da Ciência Cristã

The Telegraph


Nien Cheng vive ao sabor da história do século vinte. Morou na China, na Inglaterra, na Austrália, no Canadá e nos Estados Unidos.

Mas os quase sete anos que passou na pequena cela de uma prisão em Xangai, talvez tenham sido o período mais importante de sua vida. “Para mim,” diz ela em seu livro Vida e morte em Xangai, “iniciou-se uma nova fase de minha vida quando passei pelo limiar da prisão e, através de minha luta pela sobrevivência e em prol da justiça, tornei-me... uma pessoa espiritualmente mais forte.”

Foram os anos como prisioneira política, durante a Revolução Cultural Chinesa, no final da década de sessenta e no começo da década de setenta, que levaram a Sra. Cheng a escrever: “Durante os anos em que fiquei presa, muitas vezes me volvi a Deus e senti Sua presença. No ambiente monótono de minha cela cinzenta, passei por momentos de extraordinária transcendência, que não havia sentido em minha vida normal de despreocupação e conforto. Minha confiança no triunfo final da verdade e do bem fora restabelecida e eu sentia nova coragem para continuar lutando. Minha fé me sustentou nessas horas mais negras de minha vida e me salvou em meio a privações, doença e tortura. Ao mesmo tempo, o sofrimento fortalecera minha fé e me fizera compreender que Deus estava sempre presente. Competia a mim volver-me a Ele.”Copyright © 1986 por Nien Cheng. Usado com permissão de Grove Weidenfeld.

Ano após ano, resolutamente negou-se a fazer uma confissão falsa. Nenhuma passagem de seu livro, tomada isoladamente, pode transmitir por completo a grandeza da integridade, dignidade e força que resistiram à tortura, ao luto e ao peso da mentalidade de um país inteiro que insistia em que todos tinham de pensar, deviam pensar, o que lhes era imposto no momento.

À medida que o governo se fundamenta mais firmemente na lei, em vez de se estribar em pessoas, “a vontade do povo ... prevalecerá”, afirma ela. Sua convicção faz eco às palavras da fundadora desta revista, Mary Baker Eddy, que escreveu: “Toda ação legislativa e toda lei de caráter coercitivo, inconstitucional e injusto, que infringem os direitos individuais, devem ser de ‘breve tempo,’ cheias ‘de inquietação’. A vox populi, pela providência de Deus, promove e impele toda reforma autêntica; e, no momento mais apropriado, corrigirá erros e retificará injustiças. ... Deus reina e ‘porá tudo ao revés’ até que a justiça seja reconhecida como suprema” (Miscellaneous Writings).

Desde 1983 a Sra. Cheng, que é metodista, mora em Washington, D.C., E.U.A. A seguir, transcreveremos parte de uma entrevista que nos concedeu, bem como trechos de uma anterior, publicada no jornal “The Telegraph” (de Alton, Illinois, E.U.A.).

Eu Me Sentia muito mais próxima a Deus quando estava na prisão. Será que em meu novo estilo de vida, em meio à agitação das cidades ocidentais, ainda me sinto assim? É verdade que não tenho tanto tempo... Você realmente precisa estar bem sossegada para sentir... Não sei descrevê-lo.

Freqüento a igreja. Não podia fazê-lo na China. Vou à igreja todos os domingos, em Washington. Quando estou em outra cidade, procuro ir à igreja local. E leio a Bíblia. Mas é diferente, é triste dizer isso. Sempre toca o telefone, as pessoas querem fazer isso e aquilo, e assim por diante. Todo dia somos bombardeados por exigências, mensagens e anúncios, coisas que é preciso fazer, tomar parte e por aí afora.

A cela de prisão é tão sossegada! É quase como um retiro.

Aqui nos Estados Unidos é preciso mais sossego até do que na Europa, pois ainda somos uma nação de pioneiros. Você sente a atmosfera, nós somos jovens, como um rapaz explodindo de energia. Faça isso, faça aquilo, eis o lema. Você tem de manter o ritmo. Temos menos tempo para meditar e pensar. Por isso, em nossa vida diária, realmente precisamos de uma hora ou duas de real tranqüilidade.

Temos muitos lugares aonde ir a fim de manter a forma física. Você sabe, pode-se ir a lugares onde dão banhos de lama, fazem massagens, fazem-nos correr e receitam um bom regime e você paga tremendamente caro por esse privilégio. Mas que dizer da renovação espiritual? Temos lugares tão bonitos na América, bosques e riachos. Se você quiser sair de Washington, por exemplo, há um lugar nas montanhas. É um grande hotel. Mas lá as pessoas jogam golfe, jogam tênis, dançam, comem, comem demais das especialidades gastronômicas. Bem, em vez de se sentirem melhor, ficam exaustas, mais exaustas do que se não tivessem ido! É um lugar elegante, você se veste bem, etc. Isso não é descanso.

Você acha que um processo de renovação espiritual teria de ser um processo difícil? Tremendamente difícil.

Bem, você passou seis anos e meio numa solitária... Eu me sentia muito mais próxima a Deus naquela época. Em parte talvez porque precisasse mais dEle. Mas também por causa do sossego. Eu não tinha a Bíblia, é verdade. Queria muito ter um exemplar da Bíblia. Por isso orava a maior parte do tempo e me sentia muito mais perto de Deus do que hoje, em minha vida agitada. É por isso que de manhã, quando não há ninguém, desço para o jardim do condomínio. Fico sozinha. Então faço minhas orações para começar o dia. E faço um pouco de exercício. Fico lá uma hora e me sinto muito bem. Quando volto, estou cheia de energia para cuidar de meu dia-a-dia.

Gostaria de falar de outro assunto. Durante sua dolorosa experiência na Revolução Cultural, era-lhe muito importante não fazer uma confissão falsa? Ah, sim, muito importante.

Por quê? Ora, devemo-nos ater à verdade. Teria sentido desprezo por mim mesma, se tivesse feito uma confissão falsa. Gosto de estar de bem comigo mesma.

Para mim, a verdade é muito importante. É preciso ater-se a um princípio, a um padrão de comportamento, para manter o respeito próprio.

Você consideraria isso como parte de um código de honra, ou seria uma atitude espiritual? Ambos, creio que ambos.

Tenho idade suficiente para saber o que está certo e o que está errado. É isso que, na minha opinião, podemos e precisamos incutir em nosso sistema educacional. Embora não acreditemos no marxismo, somos influenciados pelo pensamento de que este ambiente físico, isto é, o materialismo, é mais importante do que a responsabilidade por nossos próprios atos. Se alguém faz uso de drogas, pomos a culpa no ambiente físico, em vez de dizer que a pessoa devia ser mais responsável.

Creio que deveríamos incutir em nossos filhos, antes de mais nada, a noção do que é certo e do que é errado, a noção de que “eu sou responsável pelos meus atos”. Creio que é um costume terrível da sociedade, culpar o meio ambiente por uma série de coisas. Se as pessoas fazem algo que está errado, precisam se responsabilizar. Precisamos realmente assumir nossa responsabilidade. Penso que de outra forma não estaremos sendo corretos para com as crianças, se não lhes ensinarmos isso e as culparmos mais tarde quando fizerem algo realmente horrível. Se você transmitir à criança essa noção do que é certo e errado, e um senso de responsabilidade, ela será muito mais feliz e conseguirá resistir melhor à pressão dos colegas.

Algumas pessoas, por exemplo, dizem que os jovens simplesmente devem dizer “não” às drogas. Mas não lhes transmitimos a força para dizer “não”. Não incutimos neles a capacidade ou a força para dizer “não”, por isso não conseguem dizer “não”. Precisamos dar-lhes certo quinhão de força espiritual para manterem determinados padrões. E se sentirão exultantes, uma vez adquirida essa capacidade, se sentirão bem. A confiança em si próprios aumentará. E provavelmente um grande número de crianças, se aprendessem isso bastante cedo, não se desencaminhariam ao chegar à adolescência.

Você recebeu cartas de jovens que leram seu livro? Ah, sim. E fiz palestras em muitos colégios.

Equal foi a reação? Foi maravilhosa! Escreveram-me muito. Recebi cartas até de turmas inteiras, de diversas escolas, inclusive uma do Canadá. A professora lhes contou minha história e as crianças me escreveram. Algumas são tão engraçadas: “Você ainda come repolho? Você gosta de batata doce?” Outras escreveram: “Sinto muito pela morte de sua filha.” Tudo isso escrito por crianças.

A seu ver, o que toca os jovens mais especificamente quando lêem seu livro? É simplesmente a história? Creio que o livro lhes abre os olhos para dois fatos. Um, o de quão horrível era o sistema comunista. E o outro é de que “uma velhinha (para eles devo parecer muito velha!), uma velhinha foi capaz de fazer isso?!”

... A vontade do povo é que prevalecerá. É claro, não somos perfeitos.

... Mas quando você tem um sistema de governo democrático, é possível resolver os problemas e progredir. E é no decorrer do processo de resolver problemas continuamente, progredindo, que pouco a pouco chegamos a ter uma sociedade melhor.”


Trechos da entrevista da Sra. Cheng a um jornal: ... presa incomunicável... “eu estava completamente sozinha, banida da raça humana.”

O choque de ficar encarcerada foi duro. “Eu estava habituada a confiar mais em mim do que no Senhor,” disse ela, “Aceitava tudo como se me coubesse por direito.” ...

“Não sabia a quem me volver, por isso voltei-me para o Senhor.”

Lembrou-se do Salmo 23...: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo: a tua vara e o teu cajado me consolam.”

A passagem inspirou-a. “Não sou culpada, por isso não tenho nada a confessar. Estava decidida a limpar meu nome,” disse ela.

“Não podia ver o Senhor, mas Ele estava ali. Todas as noites eu orava.” Como os guardas a vigiavam constantemente, ela punha um livro de Mao Tse Tung no colo. Ficava sentada com a cabeça inclinada, como se estivesse lendo, com as costas voltadas para eles, o bastante para que não pudessem perceber que estava de olhos fechados.

“Eu podia falar com o Senhor....

“Foi o Senhor que me deu força para continuar a viver, a lutar.” ...

Hoje, diz ela que é uma pessoa melhor por causa do que sofreu e de sua estada na prisão. Agora, diz, entende o que é fome, frio e abandono. Essa penosa experiência a tornou mais compassiva.

Ela não aprova as distrações da vida moderna porque impedem as pessoas de reconhecerem o próprio potencial.

“Todos nós possuímos recursos latentes,” diz ela. “Em tempos de crise, agimos à altura da situação.”

Publicado com permissão de The Telegraph

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