Lembro-Me, Às Vezes, de uma experiência que vivi quando tinha uns seis ou sete anos de idade. Estávamos sozinhas em casa, minha irmã, então com treze ou catorze anos, e eu. Ouvi-a chamando por mim no andar de cima. Quando lá cheguei, vi que a porta que dava para o sótão estava aberta. Olhei para cima e vi uma figura fantasmagórica vestida com um lençol branco. Eu sabia (ou pensava que sabia!) que era minha irmã, por isso dei uma risada e disse-lhe que a havia reconhecido. Mas ela não respondeu e começou a mover-se lentamente em minha direção. A cada passo que ela dava, minha convicção vacilava. Quando chegou a poucos passos de mim, entrei em pânico, gritei e desci a escada tão depressa, que meus pés mal tocavam os degraus. Percebendo o que fizera, minha irmã logo desceu e me acalmou.
Essa experiência, contudo, faz-me lembrar que, independentemente do que estamos enfrentando, seja doença, seja qualquer outro tipo de problema, não podemos nos deixar enganar pelas aparências. Precisamos compreender a realidade espiritual em toda a sua perfeição e poder. Dessa maneira vemos por que o erro não é, e nunca pode ser, real. Permanecemos, então, firmes com uma convicção espiritual inabalável.
A Ciência Cristã ensina a realidade de Deus e de Sua criação espiritual, e a irrealidade, ou nulidade, de Seu oposto, a matéria e a mente mortal. A Sra. Eddy escreve em Ciência e Saúde: “Se a doença é real, pertence à imortalidade; se é verdadeira, faz parte da Verdade. Tentarias tu, com medicamentos ou sem eles, destruir uma qualidade ou uma condição da Verdade? Se, porém, a doença e o pecado são ilusões, o despertar desse sonho mortal, ou dessa ilusão, nos levará à saúde, à santidade e à imortalidade.”
Contudo, não basta um entendimento intelectual desses fatos. Isso não nos dá a convicção sólida, necessária quando a doença e o pecado parecem tão reais. Essa convicção brota de uma mudança em nosso pensamento e em nossa vida, para um ponto de vista espiritual, em vez de material.
Algumas vezes basta um vislumbre da verdade espiritual para ocorrer a cura. Mas se esses vislumbres forem apreciados apenas por aliviar a dor e a doença, é como o que Cristo Jesus descreveu na sua parábola do semeador, cuja semente caiu à beira do caminho e as aves do céu a comeram. Sua explicação dada aos discípulos foi: “A todos os que ouvem a palavra do reino, e não a compreendem, vem o maligno e arrebata o que lhes foi semeado no coração.”
Quando ouvimos relatos de como uma pessoa foi manipulada por um hipnotizador, é provável que pensemos em nunca deixar nosso pensamento ser controlado dessa maneira. Mas o que dizer das sugestões impessoais e silenciosas das crenças do mundo, tais como doenças, acidentes, idade, que se apresentam como nossos próprios pensamentos? Surgem em nosso raciocínio desta forma: “Sinto-me doente”, “Poderia sofrer um acidente”, “Estou ficando velho”. A fim de barrar a influência dessas falsas sugestões, devemos perguntar-nos se tais pensamentos podem proceder da Mente divina, se têm algum poder ou inteligência.
Por ser Deus a única Mente infinita que não tem outra igual ou oposta, não há mente mortal capaz de produzir outras mentes mortais ou formar uma rede de transferência de falsas crenças e de sugestões mentais por meio de uma mítica influência mesmérica. Concepções mentais errôneas não constituem outra mente que é oposta à Mente divina, Deus. O oposto da realidade não é “algo diferente”. É o nada.
Assim, quando sentimos dor, mal-estar ou inquietação, podemos reconhecer que a desarmonia não é algo real capaz de nos fazer senti-la, vêla ou dela tomar conhecimento. Uma fotografia não pode ser revelada a menos que esteja no filme. Nossa defesa está em aprender o que é nossa verdadeira consciência: a expressão individualizada da Mente divina. E essa consciência inclui só o que Deus sabe ou conhece. Quando chegarmos a compreender que a desarmonia, o pecado e a doença são ilusões mesméricas, já não as temeremos, nem teremos medo de que penetrem na consciência. Nada haverá, então, em nossa consciência, que caia presa do magnetismo animal, que fica posto a descoberto como o nada.
Como tudo o que é real é Deus, o bem, e Seu reflexo, sempre que se afigure haver doença, desarmonia ou injustiça de qualquer tipo, poderemos estar certos de que não é real. A dificuldade em compreender como o tratamento pela Ciência Cristã, que é espiritualmente mental, pode curar tais condições, ocorre unicamente quando acreditamos que elas sejam físicas, em vez de sugestões mentais. Ficamos como atiradores equipados com o que há de melhor, mas com a mira no alvo errado. Precisamos ceder ao Cristo, a Verdade, e aprender que o erro não é real, não é algo “em algum lugar”, fora do âmbito da lei espiritual. O livro Ciência e Saúde observa o seguinte: “A realidade da Mente mostra de modo concludente como é que a matéria parece existir, mas não existe. A Ciência divina, que se eleva acima das teorias físicas, exclui a matéria, reduz as coisas a pensamentos, e substitui os objetos do sentido material por idéias espirituais.”
Pude constatar a eficácia disso há alguns anos, quando comecei a ter dor no calcanhar, chegando ao ponto de não poder firmar o pé. Eu costumava caminhar na praia e pensei que a sola dura da sandália era a causa do problema. Por causa da dor eu não estava suficientemente alerta para reconhecer essa sugestão como uma falsa hipótese de causa e efeito na matéria. Passei a estudar e orar várias horas por dia com a Bíblia e as obras da Sra. Eddy, e senti ter feito, espiritualmente, muito progresso. Mas a dor não cedeu nem um pouco, mesmo depois de meses.
Caiu-me nas mãos, então, o texto de uma conferência que havia sido publicada no The Christian Science Monitor. Ao ler o texto, despertei e percebi que estivera crendo que, se eu tivesse mais compreensão espiritual, o “estado físico” seria curado. É certo que a cura é o resultado da compreensão espiritual, mas eu precisava entender mais claramente que o objetivo da espiritualização da consciência humana é a regeneração. Ela é prevista para ajudar-nos a crescer em graça e alcançar uma compreensão melhor e mais espiritual do homem criado por Deus, o homem espiritual e perfeito que realmente somos, agora mesmo. Eis a luz da Verdade que expõe as sugestões, erroneamente tomadas como condições físicas desarmoniosas.
Comecei a estudar tudo o que a Sra. Eddy escreveu a respeito de mesmerismo, hipnotismo, magnetismo animal, sugestão, ilusão e assim por diante. Orei para reconhecer a nulidade do mesmerismo, para ver que é uma falsa pretensão de haver outra mente além de Deus, a Mente divina. Percebi que o homem não pode ser separado da Mente que o criou e que lhe dá a sua única e real consciência. Em algum momento durante esse estudo, a dor desapareceu.
Quanto mais cedo verificarmos que estamos lidando com o mesmerismo, a sugestão mental, tanto mais cedo poderemos desviar nossa atenção da matéria e suas condições errôneas para a direção certa. A primeira coisa — e a mais importante — que precisamos compreender sobre o mesmerismo é que ele não é algo real e poderoso. Não é uma lei a mais, além da lei de Deus. É uma falsa teoria deduzida da crença de haver muitas mentes. A verdade de que Deus é a Mente única expõe a falsidade da crença em muitas mentes e em qualquer influência mesmérica. Quando o erro é posto a descoberto, sabemos que não precisamos temer as ilusões do falso sentido e podemos nos dedicar a compreender melhor e mais a fundo nosso Princípio divino, o criador e controlador de tudo o que realmente existe. A lei de Deus — a lei da Vida, da Verdade e do Amor — é a única lei. E nunca estamos sujeitos à ausência de lei, quer apareça como pecado e doença, quer como desordem de qualquer tipo.
Um dos muitos exemplos da Bíblia sobre a importância da firmeza de nossa compreensão espiritual é a parábola de Jesus onde ele não deixa dúvida sobre o que é necessário. Diz ele aos seus ouvintes: “Todo aquele que vem a mim e ouve as minhas palavras e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante.” E segue descrevendo um homem que deu à sua casa um alicerce profundo e sólido, “sobre a rocha”. Nem a enchente a abalou. Mas ele diz também o que acontece quando a fundação não é tão sólida: “Mas o que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou uma casa sobre a terra sem alicerces, e arrojando-se o rio contra ela, logo desabou”.
No empenho de reforçar meu próprio fundamento espiritual, temme sido útil rever todas as noites meus pensamentos e ações (e reações!) a fim de verificar se ficaram aquém de minhas boas intenções. Às vezes, esse exame exige dura luta contra a justificação própria, a autocondenação, etc. Quando, porém, trabalho até ver o que é que me enganou e por que, então durmo agradecida pelas lições aprendidas, e, no dia seguinte, posso começar com maior desejo e determinação para pôr de lado o falso sentido do eu. Reconheço um progresso espiritual mais coerente desde que assim procedo. E quando surgem situações como a relatada, sinto-me mais preparada e não preciso voltar atrás tantas vezes.
A Sra. Eddy escreve em Ciência e Saúde: “Os doentes não são curados simplesmente pela declaração de que não há doença, mas pelo conhecimento de que não existe doença alguma.” Esse conhecimento, ou profunda percepção espiritual, nos vem quando permitimos que o estudo da Bíblia e das obras da Sra. Eddy transforme nosso pensamento e viver diário. Está fundado sobre a rocha, Cristo, e é para nós a convicção espiritual que nunca pode ser destruída.
