A Proximava-Se O Natal. Eu tinha uma quantia muito limitada de dinheiro para gastar, que me fora dado por meus pais, pois eu era estudante, prestes a me formar e a me aventurar na carreira musical. Sentia muita vontade de dar presentes de Natal a meus pais, mas não me parecia muito correto pedir a eles, o dinheiro para comprar-lhes presentes.
Eu começara recentemente o estudo da Ciência Cristã e estava entusiasmada, aprendendo a volver-me a Deus em todas as necessidades; por isso vi que essa seria mais uma oportunidade de procurar uma solução espiritual para um problema do cotidiano. Voltando-me em oração para meu Pai-Mãe Deus, fiquei atenta e esperei uma resposta. Imediatamente, vieram-me à lembrança as palavras contidas na parábola do filho pródigo, narrada por Jesus: “Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que é meu é teu.”
Embora a ênfase dessa parábola recaia geralmente no problemático filho mais novo, naquela hora, o ponto principal da história, para mim, foi a generosidade infinita do pai, revelando ao filho mais velho a abundância onipresente da herança que já era sua e que ele já usufruía.
Naquele momento, senti que meu Pai-Mãe Deus havia revelado, a mim também, minha rica herança como Sua filha. Então, voltei-me para o livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de autoria da Sra. Eddy, e li: “O homem não é absorvido na Divindade, e o homem não pode perder sua individualidade, porque ele reflete a Vida eterna; nem é ele uma idéia isolada, solitária, pois representa a Mente infinita, a soma de toda substância.”
Foi a parte final dessa frase que teve bastante impacto sobre mim e me fez compreender, como nunca antes, as palavras bíblicas recém lembradas: “tudo o que é meu é teu.” Subitamente, compreendi que Deus era a Mente progenitora que inclui tudo, contendo todo um universo de idéias e que o homem era o reflexo completo desse conteúdo infinito. Tal vislumbre trouxe uma nova e completa visão do que é a riqueza verdadeira. Não é dinheiro, nem casas, nem carros, pois Deus não dá coisas materiais. Tais coisas são simplesmente a conseqüência, ou o subproduto, das idéias que foram empregadas criativamente para satisfazer as diversas necessidades humanas.
A riqueza verdadeira é a riqueza de idéias, ilimitadas, úteis, construtivas. Idéias de beleza, idéias que todos podemos empregar para abençoar outros. Qual é a fonte de toda idéia boa e correta? Com certeza não é um cérebro limitado e material, mas sim uma inteligência universal ilimitada que conhecemos como Deus, a Mente. Imagine isso! Todo um universo de idéias espirituais é nosso, pertence a cada um de nós por reflexo. Que riqueza! Verdadeiramente é nosso Pai celestial dizendo a cada um de nós: “Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que é meu é teu.”
Esse vislumbre da riqueza do homem foi suficiente para solucionar meu problema do momento, pois em um ou dois dias recebi de uma tia um presente inesperado, em dinheiro, que foi mais do que o bastante para eu comprar os presentes para meus pais.
Sem dúvida essa foi uma experiência pequena. Mas nela eu alcancei uma percepção clara da infinita abundância do bem que Deus dá. A experiência mostrou-me que a disposição e a capacidade de Deus de cuidar do homem e supri-lo de tudo não são intermitentes nem resultam de nossa habilidade em pedir-Lhe auxílio. Ao contrário, a abundância do bem de Deus está sempre presente e acessível. Deus é Amor e a infinita presença e poder do Amor divino operam como uma lei espiritual. O Amor está sempre zelando por sua própria criação, o homem. O que é necessário, a fim de sentirmos a eficácia dessa lei divina, é a disposição de colocar-nos sob seu governo, volvendo-nos a Deus com um motivo puro e ficando atentos à resposta.
Meu motivo era puro. Era simplesmente o de amar a meus pais. Minhas orações para encontrar uma forma de expressar esse motivo puro foram atendidas pela lei do Amor. Para mim, as palavras de Cristo Jesus explicam claramente como essa lei estava operando em minha experiência: “Dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão”.
No momento específico de minha oração, eu não podia prever como minha necessidade seria atendida. Mas admiti que no universo da Mente divina devia haver sempre a idéia certa para atender à necessidade. Na verdade, a procura e a oferta têm de coincidir. Em outras palavras, a mesma Mente que ordena a expressão do amor, supre a idéia para atender à ordem, conduzindo ambas à formação de um todo perfeito. A Sra. Eddy diz em Ciência e Saúde: “O Espírito, Deus, reúne em canais apropriados os pensamentos ainda não formados e desdobra esses pensamentos, assim como Ele abre as pétalas de um propósito sagrado, para que esse propósito possa aparecer.”
Nunca me esqueci daquele momento maravilhoso em que eu percebi que tenho um “Pai rico”, isto é, que a bondade de Deus é ilimitada e não pode ser impedida de alcançar Sua expressão, o homem. Nos dias, semanas e mesmo anos que se seguiram, meu reconhecimento do universo de idéias da Mente continuou a aumentar. Aliás, foi esse o ponto de partida de uma carreira. Comecei a ver que meu talento musical, que naquela época parecia pequeno, era a expressão da beleza, do ritmo, da exatidão, da harmonia, todas essas qualidades de Deus refletidas e compartilhadas com os outros. Essas qualidades, ou talentos, têm sua fonte em Deus, a Mente, e podem ser expressas em uma infinita variedade de formas. Quando uma amiga de minha mãe telefonou, perguntando se eu poderia ensinar música a seus dois filhos, iniciou-se uma carreira que nunca parou. Numa carta aos coríntios, Paulo escreve: “Se há boa vontade, será aceita conforme o que o homem tem, e não segundo o que ele não tem. Porque não é para que os outros tenham alívio, e vós, sobrecarga; mas para que haja igualdade, suprindo a vossa abundância no presente a falta daqueles, de modo que a abundância daqueles venha a suprir a vossa falta, e assim haja igualdade.”
Que maravilhoso dia é para cada um de nós aquele em que descobrimos que nós também temos um Pai rico e que herdamos, por reflexo, todo um universo de idéias demonstráveis e talentos valiosos. Nós somos sempre alvo das dádivas da vontade do Pai. Por ser Deus a fonte de todas as idéias inspiradas e espirituais, estas não podem se desgastar num diminuir com o uso. Mesmo que o suprimento, de início, nos pareça pequeno, multiplicar-se-á à medida que expressarmos bondade e amor espiritual para com os outros, enriquecendo assim o mundo em que vivemos.