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Ativismo espiritual em defesa do meio ambiente

Da edição de junho de 1992 dO Arauto da Ciência Cristã


Para as pessoas que moram na cidade, as imagens bíblicas que descrevem cenas da vida no campo ou no deserto podem, às vezes, precisar de alguma interpretação. Mas para que, com o marido e filhas adolescentes, administra um empreendimento agropecuário de sua propriedade, no interior da Austrália, a Bíblia oferece orientação prática e imediata. Ela diz que a Bíblia lhe permite compreender melhor as leis espirituais que governam o universo. Em seu relato, ela explica como o estudo da Bíblia, bem como a oração incessante, auxiliam-na no trabalho da fazenda, em sua participação na comunidade e na defesa do meio ambiente.

Muitas Pessoas Imaginam que a vida no campo consista unicamente de beleza e paz; a verdade, no entanto, é que logo de saída aparecem problemas! Quando vim morar na fazenda, que meu marido já possuía antes do casamento, já fazia alguns anos que a região vinha sendo assolada por uma seca. De início, fiquei muito preocupada com o que parecia uma necessidade premente de chuva, pois precisávamos alimentar nossos animais. Temos cerca de mil cabras angorá, que nos fornecem seu belo pêlo; temos também gado de corte e outros animais próprios de fazenda.

Quase todas as semanas, ao ler a Lição Bíblica constante do Livrete Trimestral da Ciência Cristã,
Christian Science (kris’tiann sai’ennss) eu encontrava trechos que falavam de água e de chuva. Por exemplo, a Bíblia cita a mensagem divina: “Derramarei água sobre o sedento, e torrentes sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade, e a minha bênção sobre os teus descendentes; e brotarão como a erva, como salgueiros junto às correntes das águas.”

Toda vez que eu orava, chovia um pouco. Certa vez, ao passar a tarde inteira orando, apercebi-me de uma coisa muito importante: eu estava orando para mudar uma situação, para fazer alguma coisa acontecer, em vez de procurar adquirir uma perspectiva espiritual, ou seja, procurar aprender mais sobre o amor que Deus tem por toda a Sua criação. Também compreendi que eu não estava curando porque tinha muito medo. Além disso, eu precisava compreender melhor que o crescimento é espiritual, nutrido por Deus “a seu tempo”, como diz a Bíblia.

Pouco tempo depois, quando saí para dar a ração ao gado, deparei-me com um touro tão magro que me deu vontade de rir, por mais estranho que pareça. Foi tão ridículo, que eu vi que aquela não podia ser a verdadeira identidade desse magnífico animal. Percebi então que as idéias espirituais nunca estão subnutridas. Daquele momento em diante, passei a orar procurando, com insistência, compreender o que é o suprimento divino, sem levar em consideração o que os sentidos materiais pareciam estar mostrando. Por volta de seis semanas mais tarde, caiu uma chuva muito forte; depois disso passou a chover com regularidade. O gado recuperou-se, sem que tivéssemos perdido uma só cabeça. Compreendi que, na oração, temos de volver nosso pensamento de uma crença na lei material para a percepção do cuidado que Deus tem por todas as Suas criaturas.

O que você aprendeu nessa experiência foi útil para outras situações na fazenda? Sim. Uma das dificuldades com a criação de gado e cabras é a idéia generalizada de que é inevitável que haja mortes e problemas climáticos. Por exemplo, certa noite, em época de cria, caiu uma chuva forte e fria; muitos filhotes morreram. Nós havíamos feito uma cobertura de lona, mas não fora suficiente para a tempestade que caiu.

Notei que as pessoas aceitam a crença de que as cabras são muito frágeis quando nascem. Assim, no ano seguinte, antes da época de cria, orei para adquirir uma compreensão mais clara da presença de Deus como Vida eterna, a Vida de toda a Sua criação. Eu sabia que essa era a realidade, ao passo que a vulnerabilidade de uma frágil existência animal nada tem a ver com a realidade. Foi muito difícil lidar com as matrizes que rejeitavam seus filhotes. Algumas cabras, quando têm sua primeira cria, simplesmente se afastam dos filhotes após o nascimento, abandonando-os.

Vieram-me ao pensamento as palavras de um poema de autoria de Mary Baker Eddy, a Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã, intitulado “A Oração Vespertina da Mãe”: “Gentil presença, gozo, paz, poder”. Compreendi que o amor materno é uma qualidade que provém de Deus e que envolve cada uma de Suas idéias. Não era um sentimento que eu precisava incutir nas cabras. Libertei-me daquela falsa sensação de responsabilidade e tratei de reconhecer que Deus estava me dizendo que Ele é Pai-Mãe. Depois disso, consegui entrar nos estábulos com um sentimento de alegria. Vi um filhote, que eu sabia pertencer a uma determinada cabra, ser apanhado e amamentado por outra. A verdadeira mãe o havia rejeitado. Conversando com pessoas que lidam com cabras, soube que esse tipo de comportamento é muito raro.

Para mim, o mais interessante nisso tudo é que, à medida que nossa compreensão espiritual aumenta, os passos humanos que precisamos dar tornam-se mais claros. Na estação seguinte, passamos a usar um sistema de etiquetas para identificar os animais, o que evitou que os filhotes se dispersassem e se aproximassem das mães erradas. Se, por acaso, mãe e filhote se separavam, nós os encontrávamos pelas etiquetas, colocávamos os dois juntos em um pequeno cercado e os deixávamos ali alguns dias, para que mãe e filho se acostumassem um ao outro. Nesse ano, não tivemos praticamente nenhuma perda.

O exemplo de Cristo Jesus, que destemidamente enfrentava os desafios de tempestades violentas e de situações desesperadoras, tem me ajudado muito. A Bíblia nos diz: “Nós temos a mente de Cristo.” Para mim isso significa que possuo a inspiração que necessito, quer esteja cuidando de um animal, ou consertando uma tubulação de água. Estou aprendendo a não reagir às dificuldades com afirmações do tipo: “É..., as coisas são assim mesmo.” Ao invés disso, estou assumindo uma atitude mais firme e estou aprendendo a ser mais paciente. Eu sempre pensara que a paciência era uma atitude em que ficamos andando ansiosamente de um lado para o outro, à espera de que Deus apareça com uma solução. Agora entendo que se trata de uma atitude mental em que pacientemente vão sendo removidas as ervas daninhas do jardim de nosso pensamento, em que trabalhamos pacientemente para remover quaisquer conceitos que tentem obstruir aquela perspectiva crística do processo divino.

Além de seu envolvimento no trabalho da fazenda, em que atividades você participa na comunidade? Numa pequena comunidade rural sempre acabamos nos envolvendo muito com os assuntos comunitários. Em nossa região, somos um grupo de apenas cinqüenta famílias. Participo muito das atividades da escola, ajudando a ensinar aos alunos o uso de computadores; também participo de um grupo que luta pela preservação do meio ambiente.

Nossa fazenda está localizada no vale do rio Towamba, próximo à floresta Coolangubra. Essa floresta é composta por eucaliptos muito antigos, com árvores de até quatrocentos anos. Ela abriga inúmeras espécies nativas de animais, entre elas o recém descoberto potoru de patas longas (espécie de canguru), um grande número de pequenos mamíferos planadores, a cacatua preta de cauda amarela, a ave-lira, um tipo grande de coruja e outras; flora e fauna raras que correm perigo de extinção.

Indústrias extrativistas e madeireiras estão interessadas em explorar a floresta. Uma empresa multinacional de celulose, localizada próximo à floresta, está cortando as árvores, processando sua polpa e exportando o produto. Certas pessoas da região onde moramos manifestaram preocupação com o fato de que algumas das atividades da Comissão Florestal pareciam irregulares e até mesmo ilegais. Foi então convocada uma reunião à qual não compareci. Na manhã seguinte, recebi o telefonema de uma grande amiga que é bióloga. Ela me disse que muitas pessoas haviam comparecido à reunião, mas que tinha havido muito radicalismo. Minha amiga acreditava que era necessária uma influência moderadora nas discussões. Ela então perguntou-me se eu teria interesse em comparecer à reunião seguinte. Concordei e acabei fazendo parte desse grupo de defesa do meio ambiente.

Havia muita diversidade entre os membros. Um grupo era radical e outro mais conservador, constituído de fazendeiros e pessoas ligadas ao comércio. Lembro-me de haver pensado que todos tinham o mesmo propósito. Todos desejavam proteger a mata. Simplesmente pareciam ter meios diferentes para alcançar esse propósito.

Há um versículo bíblico muito adequado para essa situação: “Os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo.” Quão importante é compreender que é o mesmo Espírito, Deus! Durante os meses em que o grupo se reuniu, aparando suas arestas, orei, partindo da idéia de união. O documento que foi produzido ao final das reuniões diz que um dos propósitos do grupo é criar uma associação cujos participantes realmente representem a comunidade, buscando eliminar deferenças sociais num esforço para estabelecer e manter um grupo coeso. Isso mostra o amor que conseguimos expressar pela comunidade.

Ao mesmo tempo, empregava em nossa fazenda algumas mulheres cujos maridos, irmãos ou pais trabalhavam para a madeireira. Eu sentia muito carinho por essas mulheres e penso que elas sentiam o mesmo por mim. Trabalhávamos muito bem juntas. Uma delas, contudo, achou melhor deixar o emprego, pois dizia ser hipócrita trabalhar para mim, pois eu participava do grupo de preservação do meio ambiente. Falei com as outras mulheres para saber o que elas pensavam a esse respeito. Nunca havíamos falado sobre esse assunto, mas elas disseram que questões políticas não faziam parte de nosso relacionamento. Elas também achavam que meu marido e eu lhes havíamos dado a oportunidade de trabalhar numa região onde não havia muitos empregos disponíveis. Escrevi à mulher que deixara o emprego, dizendo-lhe que poderia voltar a trabalhar conosco, se quisesse.

Certo dia, recebi pelo correio um recorte de jornal que falava sobre nosso trabalho na fazenda. No rodapé do recorte estava escrito em tinta vermelha o seguinte: “Essa mulher também está se empenhando para tirar o emprego dos homens que trabalham nas madeireiras.” Fiquei muito desgostosa com isso. A mensagem era anônima, mas de certa forma suspeitei que aquela ex-empregada tinha algo a ver com isso. Ela se tornara muito ativa no grupo que defendia os trabalhadores das madeireiras.

De início, senti-me muito magoada, mas depois compreendi que sempre temos de ficar do lado de Deus. Percebi que essa posição ao lado de Deus abençoa a todos. Também percebi que eu havia me tornado um pouco radical com relação ao meio ambiente. Às vezes nos emaranhamos demais numa determinada situação, quando nos sentimos vítimas das circunstâncias. Depois de superar minha reação inicial e começar a orar, consegui perceber um contexto mais amplo. Mais tarde, essa mesma mulher interessou-se em voltar a trabalhar para mim. Devido a outras circunstâncias isso não aconteceu, mas nossa amizade se restabeleceu. Contudo, o que aprendi com a oração ajudou nosso grupo de defesa do meio ambiente.

Seu grupo deu entrada na justiça com uma ação contra a Comissão Florestal, não? Sim. Descobrimos que a Comissão Florestal não estava observando a legislação, que exige um estudo de impacto ambiental antes que qualquer atividade relacionada com a extração de madeira seja implementada em áreas de risco. Por isso, decidimos levar a Comissão Florestal à justiça. Outros grupos se uniram à Comissão Florestal: os lenhadores, as serrarias, a firma de celulose, todos nos desafiaram. Seus advogados de defesa eram muito influentes.

Quando o caso foi a julgamento, decidi ficar na fazenda. Por mais que desejasse estar no fórum, compreendi que o certo seria eu ficar em casa, orando para apoiar a causa correta, a causa de Deus, não um ou outro lado. Quando finalmente fui ao fórum, envolvi-me emocionalmente com o caso; não apenas com relação ao grupo ambientalista, que eu conhecia tão bem, mas também fiquei preocupada com os trabalhadores das madeireiras, que dependiam da floresta para seu sustento.

Ao voltar para casa, passei a noite orando. Entendi que Deus era o Juiz da questão. Um dos pontos importantes ao qual me apeguei é aquilo que a Sra. Eddy diz a respeito de Jesus em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras: “Jesus via na Ciência o homem perfeito, que lhe aparecia ali mesmo onde o homem mortal e pecador aparece aos mortais. Nesse homem perfeito o Salvador via a própria semelhança de Deus, e esse modo correto de ver o homem curava os doentes.” Entendi que todos temos o mesmo Pai, e que, portanto, somos irmãos. Foi fácil perceber que não havia dois lados, mas apenas um, o de Deus. Sabia que o resultado era estabelecido por Deus e que a responsabilidade era dEle. Quando percebêssemos mais claramente o que Deus vê, teríamos uma perspectiva mais elevada da situação.

Quando voltamos à sala de audiência, o juiz proferiu uma decisão que deixou ambas as partes certas de que haviam ganho a causa. Nenhum emprego foi perdido, mas o relatório de impacto ambiental foi exigido para essa floresta tão importante, que faz parte das áreas nacionais de preservação. Os dois lados ficaram satisfeitos. Antes do encerramento do processo, fizemos uma visita à floresta. Cada uma das partes esteve quatro dias com o juiz, com o propósito de indicar quais os aspectos da floresta que desejavam fossem enfatizados na defesa que fariam de seus argumentos. Durante esse período, ambos os grupos expressaram muito amor.

Esse caso, bem como o que aconteceu com a mulher que trabalhara comigo, fez com que eu visse que meu trabalho, como Cientista Cristã, tinha de ser de ativista, mas de uma ativista espiritual. Passei a dedicar cada vez mais tempo a orar pelo meio ambiente. Até essa época, eu lia e estudava pela manhã, mas me ocupava também com a organização do grupo de defesa do meio ambiente, especialmente, por exemplo, em marcar reuniões e entrevistas com políticos. Percebi que a comunidade já havia despertado para a questão. A partir de nosso pequeno grupo de não mais do que doze participantes, passou a haver centenas de pessoas envolvidas e inúmeros grupos novos. Concluí que meu trabalho pelo meio ambiente deveria ser mais de oração do que de persuasão.

A Bíblia diz: “No princípio criou Deus os céus e a terra.” Ciência e Saúde, de autoria da Sra. Eddy, também diz que Deus é a causa única e o único criador. O dEle é um universo espiritual, ao qual o primeiro capítulo do Gênesis se refere assim: “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom.” Precisamos ver que cada coisa é uma idéia de Deus. Todas as coisas verdadeiras existem na Mente, como idéias espirituais. Quando adquirirmos uma compreensão mais clara de Deus como “a origem e meta final”, conforme a descrição da Sra. Eddy, estaremos então partindo do ponto de vista correto. Poderemos ter confiança de que teremos as idéias que podem ser implementadas em nossa vida prática. Um plano inspirado por Deus só pode abençoar a todos. Podemos nos alegrar com o fato de que, na realidade espiritual, tudo existe em harmonia e podemos orar para que haja maior conscientização dessa perspectiva.

As atividades a favor do meio ambiente necessitam de nossas orações e sei que a oração contribui para levedar o pensamento. As orações que buscam uma compreensão melhor de Deus e de Sua criação perfeita, sem dúvida, provocam mudanças.

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