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A estátua da justiça com os olhos vendados pode simbolizar a imparcialidade da lei. A verdadeira justiça, porém, exige visão: a habilidade de perceber soluções justas, apesar das pressões das partes contrárias e das complexidades legislativas. Desenvolvemos essa visão com a oração, diz a que aprendeu isso em sua carreira de advogada e trabalhando para o governo da Argentina. A Dra. Felisa voltou recentemente a exercer a advocacia, após treze anos de trabalho no funcionalismo público da Argentina, onde exerceu cargos junto ao gabinete presidencial. Neste artigo ela analisa algumas das maneiras pelas quais a oração trouxe à luz um senso mais elevado de justiça.

A justiça divina está sempre presente

Da edição de agosto de 1993 dO Arauto da Ciência Cristã


As decisões judiciais são geralmente tomadas com base em provas tangíveis. Por que você acha que a oração pode influir nas disputas legais? Tenho uma lembrança maravilhosa do meu primeiro caso. Quando me formei em direito, um amigo me apresentou um jovem que havia comprado um terreno na periferia de Buenos Aires, em um local onde as pessoas dos bairros mais humildes podiam comprar uma propriedade. Infelizmente, as companhias que vendem esses lotes freqüentemente são inescrupulosas. Elas dividem as áreas e as vendem, oferecendo facilidades, para que os compradores possam construir suas próprias casas. Porém essas firmas aproveitam-se da falta de conhecimentos de muitas pessoas e de sua necessidade de moradia.

O jovem havia comprado um terreno e estava pagando prestações mensais muito baixas. Então, inesperadamente, com as mudanças no valor dos imóveis na Argentina e com a desvalorização da moeda, a companhia pediu que ele passasse a pagar uma prestação mensal três vezes maior. Quando o rapaz foi efetuar o pagamento, eles se recusaram a aceitá-lo. A situação era complicada pois, se ele deixasse de pagar as prestações por três meses, perderia o terreno. A companhia já havia se recusado a receber os pagamentos de dois meses. Faltavam poucos dias para o vencimento da terceira parcela.

Concluí que a única coisa que ele poderia fazer seria propor uma ação judicial, através da qual ele depositaria em juízo o valor das três prestações. A notificação correspondente foi feita e todos os demais atos processuais foram praticados. Entretanto, um dia, ao verificar o processo, notei que alguns documentos haviam sido retirados dos autos. Parecia que não havia ficado nada para a defesa. Eu percebi que tinha de orar.

Comecei a ler a Lição-Sermão daquela semana, constante do Livrete Trimestral da Ciência Cristã, para aliviar minha inquietação. Ali havia um versículo de Isaías. Era como se ele tivesse sido incluído especialmente para mim. Dizia: “Serás estabelecida em justiça longe da opressão, porque já não temerás, e também do espanto, porque não chegará a ti.” Isso trouxe muita paz, como também o que vem a seguir: “Eis que poderão suscitar contendas, mas não procederá de mim; quem conspira contra ti cairá diante de ti.” Isaías 54:14, 15. Esses trechos me deram um senso de renovação e de calma. Naquela noite, estudei tudo o que eu tinha em mãos para ver como poderia fazer a defesa contra aquela desonestidade. Tive a inspiração de ir, no início da manhã, verificar os autos do processo no Fórum para ver o que poderia ser útil.

Quando cheguei ao cartório, estava vazio. Nossas varas são compostas por um juiz e dois magistrados, chamados Secretários. Cada um deles tem seu próprio departamento, com sua recepção e seus funcionários. Fui ao departamento responsável pelo processo em questão. À mesa de recepção encontrei um senhor bem trajado, com um ar muito distinto. Somente eu e ele estávamos no departamento.

Sorrindo, ele me perguntou: “Em que posso servi-la, tão cedo?” Disse-lhe o que eu estava procurando. Ele pegou o processo da gaveta e mo entregou. Eu estava começando a olhar os autos, quando ele perguntou: “Posso ajudá-la? Sou o Secretário deste departamento.”

Contei a ele tudo o que havia ocorrido no caso. Ele começou a verificar os autos e constatou que eu estava dizendo a verdade. Então me disse: “Agora vá e faça uma petição dessa forma, e a notificação será feita.” Em uma hora, com a ajuda de um mensageiro do Fórum, dirigindo uma motocicleta, uma nova petição foi enviada à companhia, notificando-a de que o depósito do jovem havia sido feito. Assim, ele conseguiu ficar com o terreno.

Há algo mais. O jovem pagou-me honorários, num montante fixado pelo juiz. Não era muito, mas o suficiente para comprar uma Bíblia, a Bíblia que ainda uso todos os dias quando leio a Lição-Sermão.

Você mencionou a Lição-Sermão. Você acha que o estudo da Bíblia e de Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras a ajuda em seu trabalho? Procuro estudar todos os dias a Bíblia juntamente com Ciência e Saúde de autoria de Mary Baker Eddy, a Descobridora e Fundadora da CristãChristian Science (kris’ tiann sai´ennss). É muito bom começar o dia dessa forma. Eu também oro pela manhã, pois lembro o que a Bíblia diz Daniel: “Três vezes no dia se punha de joelhos, e orava, e dava graças, diante do seu Deus” Daniel 6:10.

Quando eu trabalhava na repartição pública, lia especificamente a respeito de José e Daniel, porque eram personagens bíblicos que exerciam um cargo, como filhos de Deus, para Deus, na sociedade em que viviam e para o governo daquela época. A Bíblia narra como eles enfrentaram desafios com amor, determinação e inteligência.

Em meu trabalho na repartição e agora como advogada, eu também penso no que a Sra. Eddy escreve em Ciência e Saúde sobre Cristo Jesus: “Jesus de Nazaré ensinou e demonstrou a união do homem com o Pai, e por isso lhe devemos homenagem eterna.” E a seguir ela diz: “Sua missão foi tanto individual como coletiva.”Ciência e Saúde, p.18. Eu me pergunto: “Qual é minha missão individual e coletiva?” Tenho de orar para mim mesma diariamente, logo pela manhã, para saber como agir naquele dia, para reconhecer que sou a imagem e semelhança de Deus, a expressão espiritual dEle. Mas tenho de orar também por minha comunidade e pelo mundo, pois a declaração em Ciência e Saúde é como se fosse mandatória para mim: a missão de Jesus “foi tanto individual como coletiva.” Entendo que esta é também nossa missão: orar para nós mesmos e para o mundo. Deveríamos saber que nossa obrigação, como cristãos, é para com a humanidade.

Você exerceu diversos cargos junto ao governo, não? Sim. Comecei a trabalhar como funcionária pública pouco antes de me formar. Várias vezes tivemos regimes militares em nosso país. Entre esses períodos, que duraram aproximadamente dezoito anos, uma só vez foram realizadas eleições livres, e um governo constitucional assumiu o poder. Eu trabalhava com o partido que venceu as eleições naquela época; esse governo permaneceu no poder mais ou menos três anos. Quando esse partido foi empossado, tive a oportunidade de exercer um cargo de alto escalão junto ao gabinete da Presidência. Posteriormente, um golpe destituiu esse governo.

Você trabalhou somente com aquele partido politico? Ingressei com um partido político, mas depois, quando este foi destituído pelo golpe, continuei exercendo minhas funções. Eu trabalhava no departamento jurídico, que cuidava exclusivamente de direito administrativo.

Você enfrentou situações de desonestidade ou injustiça? Sim, algumas vezes. Desde o dia em que ingressei na equipe governamental, eu estava cheia de esperança e de incerteza, porque nosso governo era novo, empossado após um lapso de tempo sem democracia. Havia muita revolta, terrorismo nas ruas e muita insegurança. Não sentíamos confiança, porque a posição política era muito frágil. Mas quando eu pensava no verdadeiro governo e em quem é meu verdadeiro empregador, podia entender, enquanto atravessava aqueles salões tão importantes, que meu único governo é o governo de Deus. Deus é meu verdadeiro guia. O único a quem eu devo ser fiel, dedicada e leal é Deus. O que quer que eu faça, da tarefa mais humilde ou simples à mais delicada, é para Deus. Com esse raciocínio, adquiri uma grande sensação de calma em minha vida diária e em todas as coisas importantes com que lidava na repartição.

Você poderia contar algum acontecimento em que você esteve envolvida enquanto servia o governo da Argentina? Sim. Atribuo muito valor ao que vou relatar. No escritório onde eu estava trabalhando havia outras divisões, por exemplo, a técnica, a de engenharia, a de arquitetura, a de imóveis, a de avaliadores. Duas ou três divisões estavam trabalhando em um projeto: a revisão de certa legislação que parecia ser antiquada ou contraditória.

Eu estava encarregada de revisar o texto e precisava do parecer da divisão técnica. Terminei meu trabalho no devido tempo e o pessoal da divisão técnica, que deveria fornecer-me alguns detalhes necessários, prometeu-me entregar as informações no dia seguinte, que seria sexta-feira. Eu havia solicitado dispensa naquele dia por motivos pessoais, portanto na quinta-feira deixei meu parecer concluído e solicitei aos funcionários que fosse colhida a assinatura de meu superior, para que depois o documento fosse enviado ao Secretário Geral. Pedi-lhes que aguardassem o parecer da divisão técnica, pois ambos deveriam ser enviados juntos.

Quando cheguei ao escritório na segunda-feira, o Diretor me disse: “Você não fez seu trabalho. Estou lhe tirando o projeto e entregando-o a outro advogado.” Era uma situação muito confusa.

Seu relatório desapareceu? Sim, havia desaparecido. O parecer da outra divisão tinha sido entregue. Descobri que o advogado encarregado do caso não sabia o que fazer. Além disso, notei que meus próprios colegas estavam apoiando meu superior. Eles me deram a entender que pensavam que eu não tinha feito bem meu trabalho e, portanto, tinha saído naquela sexta-feira para não apresentá-lo.

O Diretor não acreditava em mim. Os colegas às vezes riam-se nas minhas costas, duvidando da existência de meu parecer, porque eu nem conseguia encontrar cópias dele, embora o tivesse deixado concluído e assinado. O outro advogado elaborou um novo relatório, desconsiderando todos os estudos que havíamos feito anteriormente. Foi um desafio enorme para mim. Procurei refúgio na oração. Percebi que eu precisava entender melhor que a mente mortal não tem poder algum.

O que você quer dizer com mente mortal? Através de meu estudo da Ciência Cristã, aprendi que não devemos personalizar o mal, dizendo: esta pessoa é culpada ou aquela pessoa agiu mal. Mente mortal é o termo que mostra que o mal argumenta que há algo errado, algo desonesto ou incorreto controlando a situação. Mas como Deus é a única Mente, a mente mortal não tem entidade real nem poder. O mais importante nesses casos é saber que todas as pessoas envolvidas, meus colegas, meu chefe, os funcionários do escalão superior, são filhos de Deus, governados pela Mente única. Orar para saber que o governo de Deus é o único governo real faz com que reconheçamos que a mente mortal, isto é, tudo aquilo que presumivelmente manipula com mentiras ou oportunismo, não tem nenhum poder.

Várias semanas se passaram e a rotina normal do escritório prosseguiu. Aquele acontecimento já estava sendo esquecido. Porém, um dia, o Diretor me chamou e me cumprimentou com um sorriso desajeitado. Ele estava com meu trabalho à sua frente na mesa. O parecer elaborado pelo outro advogado estava lá junto com o meu, que tinha sido extraviado e fora encontrado dobrado naquela pasta. O Secretário Geral tinha colocado um bilhete nele, dizendo: “Se este parecer estava correto, por que foi elaborado outro, que está errado?”

O Diretor, com um sorriso de desculpas, disse-me: “Como se corrige isto?” Todo o projeto foi refeito e concluído favoravelmente. Ficou claro para mim que a justiça divina está sempre presente. Tudo tinha estado nas mãos de Deus.

Em muitas ocasiões, quer sob um governo militar, quer não, há um superior ou um diretor que se impõe ao advogado ou ao funcionário, dizendo: “Tal e tal funcionário graduado solicitou esta solução. Isto deve ser resolvido desta maneira.” Porém eu sempre penso em Deus como meu empregador. Minha função é dar um parecer de acordo com o que diz a lei. Aplico a lei ao caso e digo o que penso ser mais correto e apropriado.

Devemos ser corteses e não reagir quando um superior nos pede para fazer algo. Mas eu sempre tentei deixar muito claro que precisava ter liberdade para emitir a opinião legal que me parecesse ser a correta. E posso dizer que ninguém jamais me obrigou a fazer algo de uma determinada forma. Não importava simples ou quão importante fosse o caso, eu opinava da forma que me parecia correta.

Você ora a respeito de corrupção? Sim. Levo em consideração um trecho de Ciência e Saúde: “Este mundo material está se tornando, desde já, arena de forças em conflito. De um lado haverá discórdia e consternação; de outro lado haverá Ciência e paz.” E mais adiante, na mesma página, a Sra. Eddy escreve: “Durante esse conflito final, mentes maldosas esforçar-se-ão para achar meios de causar mais males; mas os que discernem a Ciência Cristã, porão um freio ao crime. Ajudarão a expulsar o erro. Manterão a lei e a ordem, e aguardarão alegremente a certeza da perfeição final.”Ibid., p.96. Não é verdade que cada um de nós poderia participar dessa tarefa? Não somos nós todos capazes de ajudar a expulsar o erro?

Este dia é consagrado ao Senhor vosso Deus,
pelo que não pranteeis, nem choreis. ...
Porque a alegria do Senhor é a vossa força.

Neemias 8:9, 10

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