Eu Nunca Havia lido a Bíblia. Simplesmente não me parecia importante. Através dos anos, em momentos de dificuldade, dirigira ao céu algumas orações, mas sem saber a quem eu estava pedindo ou se a oração realmente adiantava. O adjetivo divino servia apenas para descrever sobremesas gostosas. Poder-seia dizer que, em matéria de religião, eu era um espaço em branco; nunca havia pensado em Deus o suficiente, nem sequer para considerar-me ateu.
Nossa família não praticava nenhuma religião. A religião que eu havia herdado de meus pais não era cristã e eu nem sabia o que o cristianismo significava. Assim sendo, o fato de eu afirmar que encontrei cura e felicidade ao seguir os ensinamentos de Cristo Jesus, dá testemunho de quanto caminho tive de percorrer, para sair de um mundo onde as idéias espirituais eram consideradas desnecessárias.
Embora nosso lar fosse harmonioso e eu não me considerasse uma pessoa "má", ainda assim sentia a angústia (não a felicidade!) de ignorar a verdade espiritual. Em retrospecto, percebo que os momentos em que mais sofri foram devidos a um senso equivocado de moralidade e à ênfase dada às coisas materiais, mas isso já mudou. Durante todo aquele tempo, porém, quase sem perceber, eu estivera em busca de algo mais elevado. Creio que foi por isso que os conceitos claros sobre Deus, o homem e a oração, que encontrei quando comecei a me interessar pela Ciência Cristã, se tornaram particularmente valiosos para mim. Fiquei surpreso ao tomar conhecimento de que a cura espiritual que Jesus praticava e ensinava a seus discípulos ainda é possível hoje, cura essa que se aplica a todas as minúcias de nossa vida.
Quanto mais eu lia e fazia perguntas, mais claro se tornava o fato de que realmente havia uma ciência na maneira como Jesus vivia. Comecei a compreender que os assim chamados milagres baseavam-se em leis espirituais de Deus que ainda estão em ação e nada perderam de seu poder. As obras de cura de Jesus eram a expressão natural do amor de Deus por Sua criação. Os evangelhos começaram a fazer sentido para mim, vistos à luz de tal lógica.
Jesus se referiu a Deus como Pai e a si mesmo como Filho. Tudo o que disse e fez era fundamentado nessa relação espiritual indestrutível, que ele compreendia com a mesma facilidade com que um pássaro sabe que pode voar. Sua missão era dupla: demonstrar para todo o sempre que o homem é filho puro e imortal de Deus, feito à Sua imagem (como afirma o primeiro capítulo da Bíblia), e ensinar-nos que podemos compreender e provar diariamente nossa relação com Deus.
A Ciência CristãChristian Science (kris'tiann sai'ennss) explica o vínculo eterno entre Deus, que é Espírito, e o homem, Seu descendente espiritual. Ela expande nossa compreensão da oração, dando normas específicas para nos ajudar a curar do modo como Jesus ensinou a seus seguidores. Jesus é o Guia. Ele ensinou a viver, amar e curar mediante a onipotência do Espírito. À medida que seguimos o exemplo de Jesus, nossa vida se ajusta à lei divina. O resultado é a cura.
Logo no início de meu estudo da Ciência Cristã, tive a oportunidade de aplicar o pouco que havia compreendido de Deus e de meu relacionamento com Ele.
Certa noite, acidentalmente sofri um corte profundo no lábio e a gravidade do ferimento me atemorizou. Reconheci, porém, que estava em terreno sagrado, onde poderia comprovar o que estava aprendendo. Ali estava uma oportunidade de agir como Jesus talvez tivesse agido. Voltei-me a Deus e veio-me esta convicção: "Deus, o bem, está aqui. Esse acidente não pode ferir-me." O poder dessa verdade me acalmou e com uma confiança semelhante à de uma criança, fui para a cama, recusando-me a examinar o corte mais de perto.
Na manhã seguinte, estava tudo perfeito como se nada tivesse acontecido, não houve sangramento, nem dor, nem cicatriz. Não havia evidência alguma do acidente. Eu fiquei contentíssimo por testemunhar tal prova do cuidado de Deus e senti uma inegável presença, o terno e suave calor maternal do amor de Deus por mim. Com essa experiência, a Ciência Cristã conquistou meu respeito e comecei a estudá-la mais a sério.
Ao nos aprofundarmos no estudo da Bíblia e dos escritos de Mary Baker Eddy, começamos a encontrar respostas para perguntas básicas sobre o que é Deus e quem somos nós. Se estamos honestamente procurando a verdade e dispostos a escutar as respostas, nós as ouviremos e elas soarão verdadeiras. Esse escutar e ouvir é verdadeira oração. Se silenciarmos nossas opiniões pessoais e humanas durante o tempo suficiente para deixar que Deus, a Verdade divina, fale em nosso pensamento, sentiremos, não apenas física ou intelectualmente, mas de forma intuitiva, nossa inocência original como filhos espirituais de Deus, o Amor infinito.
Jesus veio para nos mostrar que estamos seguros aos cuidados de Deus, porque somos inseparáveis de nosso Pai celestial, o Amor divino. Essa idéia verdadeira de Deus é o que a Ciência Cristã denomina o Cristo. O fato de Jesus ter corporificado integralmente sua filiação com Deus é a razão de ele ser chamado Cristo Jesus. A plena compreensão que ele tinha de sua inseparabilidade do Pai, tornava-o destemido em face aos perigos que apareciam. Um pássaro não se preocupa com o perigo de cair, pois sabe voar. Do mesmo modo, a compreensão que Jesus tinha da idéia-Cristo permitiu-lhe expressar totalmente o domínio que Deus deu ao homem sobre o sofrimento e mesmo a morte.
Cada um de nós já tem um relacionamento permanente com Deus. A Ciência do Cristo nos ajuda a reconhecer nossa filiação, mostrando-nos o poder iluminador da oração. Quando oramos, chegamos a saber que estamos vinculados ao Amor divino neste exato instante. A oração transforma nossa perspectiva, da desesperança para a confiança, à medida que o Cristo nos eleva acima da crença errônea de que estamos separados de Deus e mostra nossa união com Ele. A oração dissipa o medo, faz com que elevemos nossos motivos e métodos a uma base melhor, mais espiritual. Um dos resultados é que nossos contatos com os outros se tornam mais sadios e nossas relações se tornam mais produtivas, na proporção em que demonstramos melhor nossas qualidades dadas por Deus, como paciência, amor, discernimento e fidelidade à lei de Deus. Quando expressamos mais claramente essas qualidades, torna-se mais fácil perceber que elas são a natureza espiritual e real de cada um.
Realmente, só compreendendo melhor a verdadeira substância e identidade do homem como semelhança espiritual de Deus é que conseguimos superar tudo o que é dessemelhante de Deus. O que dizer, porém, de doenças graves ou da constante ausência de autocontrole? Será que podemos seguir o exemplo de Jesus a ponto de normalmente curar esse tipo de problema apenas com a oração? Sim, ele prometeu, esperava e até ordenou isso. Acaso suas palavras não são dirigidas a nós? "Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim, fará também as obras que eu faço". João 14:12.
Como demonstram os relatos de cura publicados nesta revista, ser Cientista Cristão significa adorar a Deus, não apenas em palavras, mas vivendo nossa oração. É necessário esforço e dedicação para aprender a depender completamente do Princípio divino que Jesus chamou Pai. No entanto, quanto mais aprendemos sobre Deus e sobre nossa união com Ele, tanto mais natural é sentir o amor e o poder de Deus. Dessa forma, depositar confiança exclusivamente na oração já não parece o mesmo que "não fazer nada". Jesus disse: "O Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai". João 5:19. Ele também esclareceu: "O Pai que permanece em mim, faz as suas obras." João 14:10. Por vezes, ele orou a noite inteira para alcançar uma compreensão mais clara, mais espiritual. Cristo Jesus, ao discernir sua união com o Pai, tornava-se capaz de falar e agir com eficácia divina. A Ciência Cristã nos ajuda a utilizar o mesmo poder crístico para alcançar cura e regeneração e, dessa maneira, desenvolvemos a convicção íntima do poder da oração.
No livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, Mary Baker Eddy, a Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã, escreve: "É possível — é até dever e privilégio de cada criança, homem e mulher — seguir em certo grau o exemplo do Mestre, pela demonstração da Verdade e da Vida, da saúde e da santidade." Ciência e Saúde, p. 37.
Seguir o exemplo de Jesus exige muito, mas não é preciso que se dê um salto impossível de fé, porque podemos começar modestamente a provar os preceitos dele, passo a passo, a partir de onde nos encontramos agora mesmo. Temos de estar dispostos a examinar nossos pensamentos e ações para ver se estão de acordo com a vontade divina. E muitas vezes percebemos ser necessária bastante persistência em nossos esforços. Contudo, nosso aprendizado paciente na arte de amar com desprendimento a Deus e a humanidade, como fez o Mestre, é recompensado pela cura.
Quando nós mesmos tivermos sido curados pelo espírito cristão, sentiremos nova paz e liberdade que, inevitavelmente, se externam. Veremos, com surpresa, que somos capazes de consolar nosso próximo e de ser uma força dotada de graça, atuando para o bem, num mundo que necessita de cura e consolo. Perceberemos que ajudar os outros é o propósito de nossa vida e a razão de nossa existência. Então seremos realmente seguidores de Cristo Jesus e herdeiros de sua salvação.
